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Com cinco meses de mandato, Wagner foi a Portugal e gastou mais de R$ 15 mil em cartão do Cruzeiro; quase R$ 2 mil só em loja de departamento

Ex-presidente pagou diárias de dois hotéis e frequentou restaurantes de luxo

24/04/2020 14:00 / atualizado em 29/04/2020 18:18
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Série revela como ex-presidente utilizou cartões corporativos
foto: Superesportes

Série revela como ex-presidente utilizou cartões corporativos

O Cruzeiro venceu o Campeonato Mineiro de 2018 em 8 de abril. Foi o primeiro título da administração de Wagner Pires de . Um mês depois, no início de maio, o ex-presidente seguiu para a Europa e desembarcou em Portugal. Informações que circularam no clube na época indicavam que Pires de Sá tentaria, no Velho Continente, ao lado de seu então diretor-geral, Sérgio Nonato, negociar um empréstimo milionário ao clube celeste - o que acabou não saindo do papel após uma série de tentativas.

Embora não tenha conseguido encher os cofres do Cruzeiro, Wagner deixou em Portugal mais de R$ 15 mil do caixa celeste. Usando o cartão corporativo, o ex-presidente gastou, conforme mostram documentos obtidos pelo Superesportes, R$ 15.842 com dois hotéis diferentes, espaço de ‘dança e bebida’, loja de departamento e restaurantes. O montante não considera o valor das passagens. A cotação do euro naquela época era de cerca de R$4,30.

Solar dos Presuntos recebeu 'comitiva' de Wagner para noite farta em Lisboa
foto: Reprodução/Triadvisor

Solar dos Presuntos recebeu 'comitiva' de Wagner para noite farta em Lisboa



A hospedagem escolhida foi o tradicional Hotel Sheraton, em Lisboa. Pelas diárias, o ex-presidente pagou R$ 8.273. Há na fatura correspondente ao mês de maio, o pagamento de um outro hotel. Com unidades em várias cidades de Portugal e no Brasil, a rede ‘Dom Pedro’ recebeu R$ 942 da Raposa por hospedagens naquele mês. O valor somado das estadias é de R$ 9.215.

O que mais chama atenção sobre os gastos desta viagem, no entanto, é uma compra na El Corte Inglés, loja de departamento um pouco mais sofisiticada, que reúne marcas de todo mundo. No local, Wagner passou o cartão corporativo do Cruzeiro para comprar R$ 1.866 em produtos. A título de exemplificação, com esse valor, o ex-presidente pode ter comprado na loja dez camisas sociais de marca luxuosa, vendidas a cerca de 40 euros.

Famoso ponto gastronômico de Lisboa, o renomado Solar dos Presuntos também recebeu Pires de Sá em maio de 2018. A fatura do cartão de crédito do Cruzeiro mostra que o ex-presidente gastou, em uma só noite, R$ 1.173 no local. Esse é o restaurante preferido do técnico do Flamengo, o português Jorge Jesus. 

Há um registro ainda mais suntuoso em relação a estabelecimentos semelhantes. Em Bónusmelândia Unipessoal - razão social de local que, segundo auditoria, indica ser de dança e drinks - Wagner desembolsou R$ 2.797. Outros bares e restaurantes (R$ 344) e compras no freeshop (R$ 447) complementam os registros de gastos de Wagner Pires de Sá durante a viagem a Portugal. 

Outro lado


Por meio de nota, divulgada no fim da manhã desta sexta-feira, Wagner Pires de Sá afirmou que não vê ‘absurdos financeiros’ nas contas do Cruzeiro e que cartões corporativos eram utilizados por sua gestão para cobrir despesas de dirigentes enquanto 'personalidades públicas'. 

“Não vejo aí nenhum absurdo financeiro, mas sim, a eminente intenção de determinadas pessoas, que mais uma vez, fazendo uso de métodos baixos e rasteiros buscam denegrir a minha imagem pessoal com nítido intuito político e a clarividente intenção de cobrir com uma cortina de fumaça os reais problemas pelos quais vem perpassando o Cruzeiro por total incompetência em solucioná-los”. 
Clique aqui para ler todo o posicionamento do ex-presidente.

Investigações


Não há, no Estatuto ou no código de conduta do clube - os dois únicos documentos disponíveis no site oficial -, quaisquer artigos ou parágrafos que tratem exclusivamente da ‘regulação’ do cartão de crédito corporativo. Em geral, no entanto, ele deveria ser utilizado especialmente por supervisores de futebol e por responsáveis pelo departamento financeiro para pagamentos relativos ao dia-a-dia do clube.  

Atrás das grades de um dos campos da Toca II, Wagner acompanha treinamento do Cruzeiro em foto de 2019
foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A. Press

Atrás das grades de um dos campos da Toca II, Wagner acompanha treinamento do Cruzeiro em foto de 2019

As faturas do cartão de crédito de Wagner já estão com a Kroll, empresa de investigação corporativa contratada pelo Cruzeiro para auditar cada passo da antiga administração do clube. 

Internamente, o Cruzeiro acredita que poderá cobrar dos ex-dirigentes reembolsos pelos valores que foram gastos por meio dos cartões corporativos. Esse, no entanto, é um processo burocrático e sem prazo para desfecho. 

Esta reportagem é a quarta de uma série que revela, de forma ainda mais profunda, como os ex-dirigentes do Cruzeiro utilizaram de forma desregrada as receitas do clube, que atravessa a maior crise financeira/institucional de sua história e disputará, em 2020, aos 99 anos, sua primeira Série B do Campeonato Brasileiro.

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