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CRUZEIRO

Novo técnico do Cruzeiro precisa encarar realidade da luta contra o rebaixamento

Discurso de brigar pelo acesso não é adequado para o time no momento

Rafael Arruda
Cruzeiro é o grande clube que mais encontra dificuldade na Série B - Foto: Leandro Couri/EM D.A Press
Felipão, Lisca, Tiago Nunes, Dorival Júnior ou outro: quem quer que seja o novo técnico do Cruzeiro tem de tomar ciência do momento do clube, cuja missão é escapar do rebaixamento à Série C.



Não adianta traçar planos de entrar no G4 em cinco ou seis rodadas se o time não consegue sequer fazer gol no Oeste, lanterna da competição, com sete pontos, e dono da defesa mais vazada, com 26 gols sofridos.

Nesse domingo, a equipe paulista esteve perto da vitória, pois criou as melhores chances - uma com Mazinho, em chute cruzado rente à trave, aos 39’ do primeiro tempo; e outra com Madson, em cabeceio à queima-roupa, aos 49’ da etapa final (Fábio fez grande defesa).

Depois do revés determinante para a demissão de Ney Franco, o presidente Sérgio Santos Rodrigues reiterou o pedido de apoio aos cruzeirenses e garantiu que ainda há tempo de reabilitação no campeonato.



“Temos no turno mais cinco rodadas, depois um turno inteiro ainda. Continuamos acreditando muito, muito, muito que é possível ainda conseguir fazer isso. Matematicamente é possível”.

Sérgio não está errado ao ressaltar que “matematicamente é possível” subir. A ciência exata dá ao Cruzeiro até mesmo a chance de ser campeão, desde que vença ao menos 22 dos 23 jogos restantes e atinja 77 pontos.

Mas os números também mostram um cenário complicado para o penúltimo colocado da Série B, com 12 pontos. Hoje, a Ponte Preta, que aparece em quarto lugar, soma 24. E no bolo da briga pelo G4 há Juventude, 23; Paraná, 23; Avaí, 22; Operário, 22; e CRB, 20.

Ou seja, além de emplacar cinco, seis ou sete vitórias consecutivas, a Raposa precisa que os concorrentes de "meio de tabela" escorreguem na competição.

E clubes que há pouco tempo eram candidatos ao rebaixamento estão fazendo muito mais que o Cruzeiro, como o CSA (10º, com 19), que venceu cinco dos últimos seis jogos, e o Sampaio Corrêa (14º, com 17), invicto há cinco rodadas (quatro triunfos e um empate).



Por isso, a análise tem de ser feita de maneira racional: o que o time demonstrou até aqui para a sua torcida acreditar em uma reação imediata? Quais partidas venceu com tranquilidade? Quantos gols marcou? Os rivais têm sido exigidos?

As 15 rodadas transcorridas do campeonato deram a noção de onde cada participante pode chegar. E até o momento, as perspectivas do Cruzeiro não são animadoras.

Em meio à falta de convicção no planejamento do futebol e às inúmeras tentativas da diretoria de minimizar/justificar o insucesso, que o novo técnico deixe bem claro na sua apresentação sobre o propósito inicial de sair do Z4. O que vier depois é lucro.

O Cruzeiro está, sim, em uma condição aquém do potencial de seu elenco, sobretudo pelo orçamento superior aos dos adversários, mas baixar a guarda, esquecer um pouco o discurso de acesso e priorizar a fuga da Série C será honesto com os torcedores, além de trazer certo alívio psicológico aos atletas.



Encarar a realidade da Série B como ela é em nada diminuirá o peso da camisa celeste, a paixão dos torcedores e o histórico de bicampeão da Libertadores, tetra do Brasileirão e hexa da Copa do Brasil. Todavia, a fase difícil requer menos espetacularização, e mais pés no chão e humildade.