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Fim de uma era: em carta, goleiro Fábio anuncia saída do Cruzeiro

Goleiro desabafa após não chegar a um acordo para seguir no clube: 'A atual diretoria foi clara que não desejava contar comigo desportivamente para 2022'

Redação
Fábio desabafou nas redes sociais sobre saída do Cruzeiro - Foto: Gustavo Aleixo/Cruzeiro
Depois de 17 anos, chegou ao fim a passagem do goleiro Fábio pelo Cruzeiro. Na noite desta quarta-feira, o jogador que mais vestiu a camisa do clube (976 vezes) deu a sua versão sobre a falta de acordo para a renovação contratual. Segundo ele, os responsáveis por conduzir a Sociedade Anônima do Futebol propuseram um vínculo somente até o fim do Campeonato Mineiro, de modo que o ídolo da torcida encerrasse a carreira. Mas Fábio, de 41 anos, sentia-se bem fisicamente e mentalmente para continuar atuando até dezembro. Por isso, entendeu o recado: a direção não quis mais contar com seus serviços.


“Compareci no dia 4 de janeiro no horário marcado para ouvir à diretoria: de todo meu coração, segui para o Clube feliz e tranquilo aberto a escutar e ajudar no que fosse preciso, mas para minha surpresa, a atual diretoria foi clara que não desejava contar comigo desportivamente para 2022. Na reunião estavam presentes o diretor executivo, Pedro Martins, e Gabriel Lima, representando a atual gestão”.

Momentos marcantes de Fábio no Cruzeiro

Fábio (atrás de Sorín) foi campeão da Copa do Brasil de 2000. Na época, ele era o reserva de André. - Arquivo/EM/D.APress
No retorno ao clube, em 2005, Fábio foi apresentado ao lado do volante Marabá e do lateral-esquerdo Athirson - Arquivo EM/D.A Press
Em 2005, a torcida pegou no pé de Fábio acusando-o de falhar em duas cobranças de falta na eliminação do Cruzeiro para o Paulista de Jundiaí, na semifinal da Copa do Brasil. - Arquivo EM/D.A Press
Na segunda passagem pelo Cruzeiro, Fábio conquistou seu primeiro título em 2006, o Estadual, sobre o Ipatinga. - Arquivo/EM/D.APress
Em 2007, Fábio teve momento difícil no Cruzeiro, na goleada para o Atlético por 4 a 0, na final do Mineiro. No quarto gol, ele estava de costas no momento da finalização de Vanderlei - Arquivo EM/D.A Press
Em 2008, Fábio ergueu o troféu do Campeonato Mineiro, depois de goleada por 5 a 0 sobre o Atlético na final. - Arquivo/EM/D.APress
Em 2008, Fábio fez uma bela defesa de pênalti cobrado por Nilmar, e ajudou o Cruzeiro na briga pelo título nacional. O clube celeste acabou a competição em 3º lugar. - Arquivo/EM/D.APress
O título mineiro de 2009 foi conquistado com nova goleada por 5 a 0 sobre o rival Atlético. - Arquivo/EM/D.APress
No primeiro jogo da final da Libertadores de 2009, Fábio teve uma de suas melhores atuações com a camisa do Cruzeiro. Ele foi o grande responsável pelo placar de 0 a 0, na Argentina. Na partida de volta, porém, o clube celeste acabou derrotado por 2 a 1 para o Estudiantes, no Mineirão. -
Em 2009, Fábio defendeu pênalti cobrado por Ronaldo Fenômeno, no Mineirão. - Arquivo/EM/D.APress
Em 2011, Fábio levantou o troféu de campeão mineiro sobre o rival Atlético. - Arquivo EM/D.A Press
Fábio conquistou o prêmio Bola de Prata da Revista Placar em 2010 e 2013, como melhor goleiro do Brasileirão - Arquivo/EM/D.APress
Fábio conquistou o prêmio 'Craque do Brasileirão', da CBF, em 2010 e 2013, como melhor goleiro do Brasileiro - Arquivo/EM/D.APress
Fábio conquistou seu quarto título mineiro em 2011, depois de vitória por 2 a 0 sobre o Atlético, na Arena do Jacaré - Arquivo/EM/D.APress
Em 2012, Ronaldinho Gaúcho entrou para a lista de jogadores que tiveram cobranças de pênalti defendidas por Fábio - Arquivo/EM/D.APress
Em 2013, Fábio pegou pênalti e rebote de Fred, no Maracanã, pelo Brasileiro - Arquivo/EM/D.APress
No jogo em que o Cruzeiro comemorou o título brasileiro de 2013, Fábio fechou o gol, contra o Grêmio, no Mineirão - Arquivo/EM/D.APress
Capitão Fábio ergueu o troféu de campeão brasileiro de 2013 - Arquivo/EM/D.APress
Em 2014, Fábio conquistou seu quinto título mineiro depois de empate em 0 a 0 com o Atlético no Mineirão - Arquivo/EM/D.APress
No Brasileiro de 2014, Fábio foi importante na vitória sobre o Grêmio, por 2 a 1, em Porto Alegre, que deixou o Cruzeiro a um passo do título - Arquivo/EM/D.APress
Capitão Fábio voltou a erguer o troféu de campeão brasileiro em 2014 - Arquivo/EM/D.APress
Em 2015, Fábio foi o herói da classificação do Cruzeiro nas oitavas de final da Libertadores, sobre o São Paulo, ao defender dois pênaltis. Na ocasião, ele pegou uma cobrança de Luís Fabiano pela terceira vez na carreira - Arquivo/EM/D.APress
Fábio defendeu a cobrança de Luan na disputa de pênaltis contra o Grêmio, pela semifinal da Copa do Brasil de 2017, e levou o Cruzeiro à decisão - Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press
Em 2017, Fábio defendeu a cobrança de Diego na disputa por pênaltis contra o Flamengo e deu o quinto título da Copa do Brasil ao Cruzeiro - Ramon Lisboa/EM/D.A Press
Fábio foi decisivo nos pênaltis contra o Santos, na Copa do Brasil de 2018. Ele fez três defesas e colocou o Cruzeiro nas semifinais do torneio - Arquivo EM/D.A Press
Em carretada por BH, Fábio comemora título da Copa do Brasil 2018, vencido contra o Corinthians, com os companheiros de Cruzeiro - Douglas Magno/AFP
Fábio é o maior vencedor do Troféu Telê Santana, com 19 prêmios conquistados - Arquivo/EM/D.APress
Fábio encerrou a passagem pelo Cruzeiro com 976 jogos disputados, sendo o jogador que mais vestiu a camisa celeste na história - Thiago Ribeiro/AGIF/Estadão Conteúdo
Nos 976 jogos pelo Cruzeiro, Fábio defendeu 34 pênaltis defendidos e comemorou 12 títulos - dois Campeonatos Brasileiros (2013 e 2014), três Copas do Brasil (2000, 2017 e 2018) e sete Campeonatos Mineiros (2006, 2008, 2009, 2011, 2014, 2018 e 2019). - Gustavo Aleixo/Cruzeiro
Fábio não chegou à sonhada marca de 1000 jogos pelo Cruzeiro. Ele acertou contrato para 2022, mas acabou dispensado pela gestão da SAF do Cruzeiro antes do início da temporada - Gustavo Aleixo/Cruzeiro

Fábio lamentou a postura de Paulo André, com quem jogou na Raposa em 2015. O ex-zagueiro de Athletico-PR e Corinthians se tornou executivo de futebol e passou a ser o homem de confiança de Ronaldo Fenômeno, acionista majoritário do Cruzeiro SAF (90%). “Não teve sequer a consideração de me cumprimentar, sendo ele um ex-companheiro de clube”.

O camisa 1 garantiu que aceitou se adequar ao orçamento do Cruzeiro em 2022, além de repactuar os salários atrasados. Tudo em vão, segundo ele. “Deixei claro que sempre estive disposto a receber dentro do teto salarial, inclusive aceitando reduções do novo contrato acertado para 2022 com o Presidente Sérgio Rodrigues e ficar dentro do novo teto estipulado, mesmo assim, em vão”.


Ao oficializar a saída de Fábio, o Cruzeiro ignorou o desabafo e focou nos feitos relevantes do goleiro, como os 34 pênaltis defendidos e os 12 títulos conquistados - dois Brasileiros (2013 e 2014), três Copas do Brasil (2000, 2017 e 2018) e sete Campeonatos Mineiros (2006, 2008, 2009, 2011, 2014, 2018 e 2019). O clube ainda prometeu “uma série de homenagens ao ídolo nos próximos dias”, porque “ele merece e todo cruzeirense também”.

Oficialmente sem Fábio, o Cruzeiro tem apenas Lucas França como goleiro do time principal na pré-temporada 2022. Terceira opção da posição, Vinícius não está nos planos por ter um salário considerado alto. A ideia é tentar rescindir o contrato. A diretoria ainda não decidiu se manterá a negociação com Jaílson, ex-Palmeiras, ou procurará outra alternativa. Um nome especulado na Toca foi o de Ronaldo, de 25 anos, ex-Vitória.

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LEIA A CARTA PUBLICADA POR FÁBIO


Querida Nação Azul,

Perdão por esses dias de silêncio. Tentei, com todo o meu coração, permanecer no Cruzeiro.



Sempre fui transparente e vocês saberão a verdade agora.

Meu desejo é permanecer até dezembro de 2022.

A renovação do meu contrato foi acertada com o Clube através do presidente Sérgio Rodrigues em novembro de 2021, que inclusive anunciou publicamente, faltando apenas as assinaturas dos documentos negociados.

Mas essa nova administração não me deu mais essa opção.

Quero deixar claro que aceitaria a readequação no novo teto salarial, mas essa nova administração também não me deu essa opção.

Sempre estive pronto para ajudar o Cruzeiro, inclusive me readequando à nova realidade, o que já fiz em outros momentos de dificuldade do Clube.

A minha relação com vocês será eterna e está gravada na minha memória e no meu coração.



O meu carinho por vocês é gigante é a maneira que tratam a mim e minha família é algo que levarei para o resto da vida com imensa gratidão.

Só Deus sabe o que estou sentindo nesse momento. O Cruzeiro sempre foi para mim muito mais que meu trabalho, foi minha casa, minha família, minha vida.

Estive com vocês em todos os momentos, desde os mais felizes, até os mais difíceis. Nos últimos anos trabalhei ainda mais duro, orava todos os dias entregando nosso Clube a Deus para que nosso Cruzeiro voltasse ao lugar onde vivi meus melhores momentos, com muita alegria, com muita paz, com muito prazer em trabalhar. Fiz de tudo dentro e fora de campo para que de minha parte não faltasse o empenho necessário no objetivo de retornar à Série A.

Sobre as informações que estão circulando, informo que, ainda nas minhas férias, no dia 28/12, recebi o comunicado da diretoria pedindo uma reunião assim que eu voltasse.

Compareci no dia 4 de janeiro no horário marcado para ouvir a diretoria: de todo meu coração, segui para o Clube feliz e tranquilo aberto a escutar e ajudar no que fosse preciso, mas, para minha surpresa, a atual diretoria foi clara que não desejava contar comigo desportivamente para 2022. Na reunião estavam presentes o diretor executivo, Pedro Martins, e Gabriel Lima, representando a atual gestão.



Paulo André, que estava na sala ao lado, não teve sequer a consideração de me cumprimentar, sendo ele um ex-companheiro de clube.

Em nenhum momento da conversa me deram a opção de continuar.

Não fico triste pela minha história e amor ao clube, pois sei que meu amor e respeito ao Cruzeiro Esporte Clube nunca se apagarão, mas fiquei triste porque me sinto pronto para trabalhar e ajudar ainda mais o Cruzeiro.

Lutei, insisti e tentei, infelizmente em vão!

Deixei claro que sempre estive disposto a receber dentro do teto salarial, inclusive aceitando reduções do novo contrato acertado para 2022 com o Presidente Sérgio Rodrigues e ficar dentro do novo teto estipulado, mesmo assim, em vão.



Meu único pedido foi que meu contrato se encerrasse em Dezembro de 2022 dentro do teto que está sendo praticado.

Sei o que passo em cada jogo, em cada volta pra casa, em cada lágrima de dor em ver nossa luta em voltar para a Série A. Não me deram nem a opção de receber dentro do teto e muito menos ajudar o Clube no Campeonato Brasileiro. Não me deram outra opção que não fosse finalizar minha vida no Cruzeiro ao final do Campeonato Mineiro.

Me disseram que qualquer outro cenário estava inviaibilizado e que eu não faço parte do planejamento esportivo para 2022.

Os 3 meses que me ofereceram de contrato só aumentaria a minha dor da despedida. Ajudar a levar o Cruzeiro de volta à Série A era meu maior sonho, queria muito tentar, muito mesmo, dói escrever isso, me perdoem de coração por não ser possível, sei a dor que eu e 9 milhões de torcedores passamos, dando nossas lágrimas nosso suor e nossa torcida e dedicação para voltarmos no lugar de merecimento da grandeza do Cruzeiro.

A SAF do Cruzeiro quer encerrar minha carreira imediatamente, mesmo estando em plenas condições físicas e técnicas para continuar jogando em alto nível e ajudando o Cruzeiro.

Somente Deus pode determinar nosso tempo.



Em 2021, fiquei fora somente de um jogo. Durante 18 anos, podem pesquisar quantos jogos fiquei fora, nunca pedi pra me ausentar, nunca faltei treino, sempre dediquei meus dias com suor e amor, não se deram ao trabalho de buscar informações sobre meu histórico como atleta.

A história que construí no Cruzeiro foi repleta de títulos, mas sobretudo de respeito à instituição, de muito trabalho e suor.

São 976 jogos pelo clube.

Dito isso, informo a vocês, com o coração apertado, com lágrimas e dor, que eu preciso aceitar que não contam comigo no clube, mesmo sabendo que fiz tudo que poderia, aceitando me enquadrar no novo patamar salarial e generosamente equacionando toda a dívida que o Clube tem comigo relativo a pagamentos atrasados.



Mostrei total disponibilidade em negociar o débito de anos anteriores, mas, infelizmente, não fui ouvido.

Deixo aqui meu agradecimento à Nação, a cada um dos funcionários do clube e a todos aqueles que, de alguma forma, fizeram parte dessa linda história.

Amo vocês!

Obrigado nação, obrigado Cruzeiro Esporte Clube por anos de muito carinho e respeito.

Estou torcendo e orando por vocês!!!

Meu amor e respeito pelo Cruzeiro e por vocês sempre permanecerá.

976 vezes, Obrigado!

Muito, muito obrigado!!!

Gratidão, Cruzeiro Esporte Clube e Nação Azul. Serão eternos na minha vida.



Eu e minha família choramos neste momento, mas gratos e confiantes que Deus nunca nos desampara.

Conto com o carinho e respeito de vocês nesse momento tão difícil.

Fábio