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CBF: após apoio institucional a Caboclo, mineiros se calam sobre escândalo

Presidente foi afastado da entidade máxima do futebol brasileiro após denúncia de assédio sexual contra uma funcionária

07/06/2021 16:31 / atualizado em 08/06/2021 00:30
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Caboclo foi afastado por 30 dias da presidência da CBF
foto: Leandro Lopes/CBF

Caboclo foi afastado por 30 dias da presidência da CBF



Se no último dia 27 os principais clubes mineiros - América, Atlético e Cruzeiro - e a Federação Mineira de Futebol (FMF) decidiram divulgar nota de apoio ao então presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Rogério Caboclo, desta vez eles optaram pelo silêncio.

O Superesportes procurou, nesta segunda-feira, representantes da FMF e dos três clubes, mas nenhuma parte se posicionou de forma clara sobre o escândalo envolvendo Caboclo. O presidente foi afastado por 30 dias do cargo após o Grupo Globo divulgar detalhes da investigação de assédio sexual cometido pelo mandatário contra uma funcionária da CBF.

Único que enviou nota sobre o tema, o América disse que não comentará o caso específico envolvendo Caboclo. “Em conjunto com a Associação Nacional de Clubes, o América manifestou apoio à gestão atual da CBF devido ao diálogo aberto que ela tem mantido com os clubes, além de propiciar algumas medidas que o América considera como importantes para a evolução do futebol brasileiro”, justificou.

O departamento de comunicação do Cruzeiro disse que o clube não ia se manifestar. O Atlético também optou por não se pronunciar, uma vez que o assunto “diz respeito à CBF”. No último dia 27, porém, o alvinegro divulgou a nota em apoio a Caboclo em seu site oficial.

A Federação Mineira de Futebol prometeu que se posicionará sobre o caso, mas até o fechamento desta reportagem não enviou nota. O texto poderá ser atualizado a qualquer momento.

“Você se masturba?”


Nesse domingo, no Fanástico, a Globo exibiu trechos do assédio cometido por Caboclo com a funcionária. De acordo com a reportagem de Gabriela Moreira e Martin Fernandez, no dia em questão, o presidente afastado chamou a funcionária à sua sala na sede da CBF, no Rio de Janeiro, pediu que ela tirasse a máscara e aceitasse uma taça de vinho. Ela recusou.

Desconfortável, a mulher mandou mensagens a dois diretores da CBF pedindo ajuda. Quando um deles chegou, ela saiu da sala. Entretanto, Caboclo voltou a chamá-la e ela resolveu gravar a conversa.

A gravação faz parte da denúncia de assédio apresentada pela funcionária ao Comitê de Ética da CBF, na última sexta-feira. Antes da denúncia, o dirigente tentou fazer um acordo e ofereceu R$ 12 milhões à funcionária. Ela recusou.

A seguir, trechos da transcrição revelados pela Globo:

Rogério Caboclo: Seu coração tá no cabeção ou no pilotão (Nota da Redação: funcionários da CBF)?

Funcionária: Em nenhum dos dois.

Rogério Caboclo:  Em quem está?

Funcionária: Não tá em ninguém, é verdade. Mulher consegue ficar bem sozinha.

Rogério Caboclo:  Eu conheço minha mulher há 26 anos... Já apaixonei, pirei por amor.
[...]

Rogério Caboclo:  Eu tinha te jurado que eu não ia falar sobre assuntos particulares. Ela tem a buceta dela e eu tenho o meu pau [...] Eu sou horroroso?

Funcionária: Chefe, eu não vou entrar no assunto da vida sexual de vocês [ri constrangida].

Rogério Caboclo:  [...] Ela vai fazer ginástica, vai voltar tesuda [...]

Funcionária: Então, todo mundo… deixa ela ser feliz.

Rogério Caboclo:  Sabe o que eu sou contra? Nada [...] Você quer uma taça de vinho? [...] Não... se não parece que eu tô louco [...] Posso te fazer uma pergunta?

Funcionária: Chefe, não vou me meter na sua vida sexual seu e da [...]. Não vou, não vou.

Rogério Caboclo: Não é isso. É na sua [vida pessoal].

Funcionária: Deixa a minha [vida pessoal] quietinha.

Rogério Caboclo:  Você consegue resistir ao [...] todo dia dando em cima de você?

Funcionária: Consigo, nós somos amigos. Acabei de falar, consigo, ponto, nós somos amigos. E tá tudo bem, tá tudo certo, nós somos amigos, a gente se dá bem, ele no sofá, eu no quarto e tá tudo bem. (Nota da Redação: aqui, a funcionária fala sobre um colega de trabalho com quem divide apartamento).

Rogério Caboclo: Eu não acredito.

Funcionária: Eu não tenho por que mentir, não.

Rogério Caboclo:  Tá bom. Segunda pergunta. Posso?

Funcionária: Fala [...]

Rogério Caboclo:  Você se masturba?

Funcionária: Chefe, tchau.

Rogério Caboclo: Ei...

Funcionária: Não quero falar disso, não quero. Eu vou avisar ao [...] que você tá lá embaixo.

'Cadelinha'


Em outro momento, a funcionária ainda alega que foi insultada durante um dia de trabalho na residência de Rogério Caboclo, em São Paulo. Após consumo de bebida alcoólica, o dirigente teria chamado a funcionária de "cadelinha" e oferecido biscoitos de cachorro para ela. Repreendido, ele simulou latidos. No dia seguinte, ele teria afirmado para a funcionária que as roupas de trabalho dela não eram compatíveis com o cargo.

A funcionária pediu licença no dia 9 de abril deste ano. Depois disso, houve uma negociação para que o caso fosse abafado. Segundo a denúncia, Caboclo queria que ela desse declarações falsas para a imprensa e assinasse um documento desmentindo os ocorridos denunciados por ela.

Outro lado


Por meio de nota enviada à imprensa, a defesa de Rogério Caboclo nega que seu cliente tenha cometido qualquer ato de assédio.

"Rogério Caboclo nega veementemente ter cometido qualquer ato de assédio. Embora ele reconheça que houve brincadeiras inadequadas e excesso de intimidade, é preciso deixar claro que essas decorreram do fato de que havia uma relação de amizade entre ambos, que a denunciante esteve várias vezes na casa dele, convivia com sua família e que ambos conversavam com frequência sobre assuntos de natureza pessoal. Mas jamais ele se aproximou fisicamente da denunciante, menos ainda fez qualquer movimento ou proposta no sentido de se aproveitar de forma libidinosa dela”, diz a nota.

“A denunciante omite o fato de que, por várias semanas, negociou acordo em torno da questão, e até constituiu advogado para tanto, tendo feito pedido inicial de 12 milhões de reais, em troca da não divulgação da gravação. Estranhamente, acabou por fazer a denúncia, três meses após a data em que realizou a gravação, e em dia de jogo oficial da Seleção Brasileira. Minutas de acordo foram comprovadamente trocadas, mas, ao que parece, ao final, a denunciante não se contentou com seus termos", complementa. 

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