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Mineirão explica por que repasses do governo podem chegar a R$ 2 bilhões

'Até hoje nós recebemos de volta dos R$ 677 milhões, que é o valor do contrato, R$ 480 milhões', diz o diretor comercial do estádio, Samuel Lloyd

08/07/2022 06:00 / atualizado em 08/07/2022 08:13
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Mineirão pode custar aos cofres públicos cerca de R$ 2 bilhões
foto: Bruno Haddad/Cruzeiro

Mineirão pode custar aos cofres públicos cerca de R$ 2 bilhões


Desde 2013, a Minas Arena já recebeu R$ 1,054 bilhão em repasses do governo do Estado. Até o fim do contrato, a administradora do estádio poderá embolsar no total R$ 2 bilhões, de acordo com os cálculos do diretor comercial do estádio, Samuel Lloyd, em entrevista ao Superesportes. Ele garante que esse valor equivale ao total gasto pela administradora do Gigante da Pampulha nas obras de modernização, entre 2010 e 2012.

"Se a gente pensar a Pb (nome de uma parcela) não performando 100%, a gente teria que receber do estádio mais R$ 809 milhões até 2037. Isso na data base do contrato equivale a R$ 50 milhões. A conta é feita com base na Selic. Quanto mais tempo você demora para ressarcir aquele investimento, mais cara fica a conta, porque os juros vão aumentando. O valor nominal em 27 anos de contrato pode chegar a R$ 2 bilhões, com uma projeção de futuro", explica o gestor.

A Minas Arena recebe duas parcelas mensais do governo: remuneração pelos investimentos realizados pela concessionária (Pa), mais a gratificação pela execução do objetivo e por parte dos aportes feitos que excedam o montante citado anteriormente (Pb) e o fator por desempenho da concessionária (i), além de um ajuste sazonal anual.

Dessa forma, a parcela mensal é calculada com a seguinte fórmula: PM = Pa + (Pb * i). Este é o último ano da vigência da parcela Pa. Essas informações estão no contrato, que é público.

O dinheiro é usado pela administradora para o pagamento da obra de modernização do estádio, que foi fechado em junho de 2010 e reaberto em dezembro de 2012, bem como para a sua manutenção. Na época, o valor assinado do contrato foi de R$ 677.353.021,85.

"Até hoje nós recebemos de volta dos R$ 677 milhões, que é o valor do contrato, R$ 480 milhões (valor atualizado com base no que o dinheiro valeria no ano de construção do estádio). Recebemos R$ 1 bilhão e 54 milhões. Em um país que tem juros altos em dez anos, você compra o mesmo frango que você comprava há dez anos com o mesmo dinheiro? É uma conta extremamente complexa porque tem que ser feita prestação a prestação. Então tem que fazer o cálculo de juros no momento em que a prestação foi paga. Então, hoje, aqueles R$ 1 bilhão e 54 milhões que foram pagos pelo estado significam, se a gente retroagir sem os juros, R$ 481 milhões".

Lucro


De acordo com Samuel Lloyd, para lucrar com o estádio, a Minas Arena precisa sediar muitos eventos no Gigante da Pampulha e performar para melhorar seus índices. 

"Para que a Minas Arena tenha lucro, ela precisa vender muito evento, precisa negociar com os clubes, precisa se remunerar para ter lucro. Além desse valor que é o custo de tijolo, cimento, aço para construir o estádio, tem as pessoas que trabalham lá, tem a manutenção constante do estádio, que tem que ser impecável, porque um dos índices que você citou é de conformidade e disponibilidade do estádio, ou seja, o estádio tem que estar impecável sempre, porque senão abaixa a nota que é um multiplicador", disse.

"Este contrato de concessão penaliza a concessionária se não performar. Na prática, se a gente não tiver uma margem operacional de 40% e se os meus custos não forem 40% menores que a minha receita geral, a gente não recebe o índice financeiro positivo, e isso zera a conta e a gente perde 40% do valor", acrescentou. 

Contrato


Em abril de 2022, o Superesportes teve acesso com exclusividade ao dados de repasses do estádio. Naquela época, o Mineirão havia recebido R$ 1.020.111.285,37.

O depósito da maior parcela mensal pelo governo à Minas Arena ocorreu em janeiro de 2013, quando houve o início do repasse: R$ 13.199.193,49.

Em todos os meses de 2013, os valores mensais ficaram acima dos R$ 11 milhões cada. O mesmo ocorreu em 2014 e 2015. Em 2016, a quantia dos depósitos do governo começou a cair. A partir de abril, atingiu o valor de R$ 8,8 milhões ao mês. Entre 2017 e 2020, ficou entre R$ 7 milhões e R$ 9 milhões mensal. No ano passado, os repasses atingiram R$ 6 milhões.

Quando há superávit (margem operacional positiva) acima do valor de referência estabelecido contratualmente, ocorre o compartilhamento de receitas da Minas Arena com o Estado. Houve compartilhamento de receitas em apenas dois meses: novembro (R$ 2.281.660,50) e dezembro de 2021 (R$ 567.817,35).

De acordo com o contrato, o Estado mineiro gratificará a Minas Arena todo mês durante o tempo de vigência da concessão: 27 anos - esse prazo pode ser prorrogado para 35 anos. 

Ouça o podcast com Samuel Lloyd, diretor comercial do Mineirão


 


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