
O sentimento trazido pelo esporte é capaz de mostrar que animais com características parecidas podem ser encarados de forma totalmente oposta por diferentes culturas. No Brasil, o 'bambi' (um pequeno cervo que virou personagem de desenho animado) é motivo de chacota contra torcedores do São Paulo. Na África do Sul, o springbok (definido como cabra-de-leque ou pequena gazela), um antílope que também traz a sensação de doçura e sensibilidade, algo que não chama a atenção dos "machões", é o orgulho da seleção nacional de rúgbi, uma das mais importantes do mundo.
Inspirado no animal que vive nas savanas do país, o mascote sul-africano tem até um nome: Bokkie. Ainda por cima, ganhou no ano passado uma animação em terceira dimensão para interagir com os fãs. Hoje, é considerado como se tivesse vida própria.
"Os springboks são uma parte respeitada e estimada da cultura esportiva da África do Sul", explica Stuart McConnell, integrante da Tag Rugby Association, instituição que trabalha junto à South African Rugby Union no desenvolvimento da modalidade do país.
A relação da seleção da África do Sul com os springboks é antiga. Por ser "rápido (chega a quase 100km/h), ágil (em função da facilidade em saltar) e cheio de energia", o animal é definido como um embaixador de um esporte que necessita frequentemente da capacidade física dos atletas, sobretudo da força.
"É um personagem que não fala, mas interage o tempo todo com o público. Temos certeza de que os seguidores carregam um amor por ele", emenda Stuart McConnell, relacionando a força do mascote com personagens extremamente tradicionais do desenho animado da Disney, como o Mickey Mouse e o Pato Donald.
O rúgbi é considerado o segundo esporte da África do Sul, atrás apenas do futebol. Em 2011, o país disputou a Copa do Mundo da modalidade para defender o título de quatro anos atrás. Na primeira fase, obteve a classificação de forma invicta, com vitórias sobre País de Gales, Samoa, Fiji e Namíbia. No entanto, sofreu uma derrota fatal: acabou superada pela Austrália por 11 a 9 nas quartas de final e foi eliminada.
De qualquer forma, a seleção local de rúgbi tem grande respeito no cenário internacional pelos títulos obtidos. Aliás, a conquista da Copa do Mundo de 1995 foi tema do filme Invictus, estrelado por Morgan Freeman (como Nelson Mandela) e Matt Damon (como François Pienaar, o capitão sul-africano na ocasião).
Nas lojas de esporte da África do Sul, o Bokkie fica exposto para a comercialização sem qualquer tipo de vergonha e faz sucesso. No Aeroporto da capital Johanesburgo, o mascote de pelúcia no tamanho grande é encontrado por 395 rands (pouco mais de R$ 85).
O próprio agasalho do time sul-africano carrega a imagem do vigoroso salto do antílope no peito e tem o mesmo preço do bicho de pelúcia. "Esse mascote traz um sentimento de divertimento amigável, é amado por jovens e idosos de todo o país. Qualquer fã do rúgbi pode comprar os produtos, desde lancheiras, lápis, toalhas e até outros itens", pondera Stuart McConnell.
Na história da África do Sul, os springboks também foram usados no apartheid, regime de segregação racial que durou mais de quatro décadas. O antílope era o símbolo da minoria branca que tinha o controle do país e fazia parte de bandeiras de instituições importantes, como a Força Aérea sul-africana. Em virtude das mudanças sociais, o animal está relacionado neste momento prioritariamente com os esportes.