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IMPACTO NO ESPORTE

Tênis, vôlei, basquete: atletas de ponta mudam rotina durante pandemia da COVID-19

Acostumados a um ritmo intenso de treinos, viagens e competições, atletas de várias modalidades fazem o que podem para se manter em forma dentro de casa

postado em 13/07/2020 07:00 / atualizado em 12/07/2020 23:31

(Foto: Reprodução/Instagram)
A vida mudou desde o início da pandemia da COVID-19 em todo o mundo. Os esportes pararam. A Superliga Nacional de Vôlei, por exemplo, teve sua última rodada do torneio feminino disputada em 10 de março, com destaque para a vitória do Minas sobre o Praia, de Uberlândia, por 3 a 1. O torneio masculino parou na penúltima rodada do returno, em 8 de março. Em 20 de abril, a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) decidiu, em comum acordo com os clubes, encerrar a competição, que não terá vencedores nessa temporada.

No basquete, a Liga Nacional cancelou a disputa do Novo Basquete Brasil em 4 de maio. Os últimos jogos foram disputados em 15 de março. No tênis mundial, os últimos torneios, os ATP de Dubai, Santiago e Acapulco, ocorreram entre 15 e 22 de março. Houve a disputa das eliminatórias da Copa Davis, na primeira semana de abril. Depois, todo o circuito foi interrompido.

Tudo isso afetou diretamente os atletas. Os clubes onde treinam ficaram inativos em todo o país. As academias estão fechadas em boa parte do Brasil. Equipes de esportes coletivos foram desmontadas. Desde então, uma grande mudança na vida dos atletas. Está todo mundo em casa, poucos têm a oportunidade de sair para treinar e, principalmente, experimentam uma rotina totalmente diferente da que tinham antes.

Leia a seguir os relatos de alguns atletas mineiros, ou que atuam em clubes mineiros, sobre a angustiante espera para que o mundo volte a um novo normal.

Macris e os bichanos

Normalmente, a vida da levantadora Macris, de 31 anos, do Minas e da Seleção Brasileira, era acordar cedo, ir para o clube e fazer um trabalho físico na academia, depois o treino de quadra. Terminado, voltava para casa, almoçava, descansava e retornava para o clube, para o segundo treino do dia, que seguia a mesma rotina do da manhã. À noite, cansada, ia pra casa.

(Foto: Arquivo pessoal)


Agora, tudo é muito diferente. “Eu já sou uma pessoa muito caseira normalmente, então está sendo mais tranquilo ficar em isolamento. Claro que, sem o dia a dia dos treinos no clube, muda drasticamente a rotina e sinto muita falta do vôlei. Dentro do possível,  tento manter os exercícios físicos e condicionamento aqui em casa, com uma rotina de treinamentos passada pelo preparador físico do clube. Tudo dentro de casa e adaptado para ser feito nesse ambiente interno, com utilização de alguns materiais para o treino com pesos e, sem eles, para exercícios de deslocamentos, saltos etc.”

Mas ela hoje tem mais tempo para um hobbie: criar gatos. “São meus nenéns felinos. Tenho quatro gatos adotados. Sou apaixonadaaaa! O Ferrugem foi o último que chegou aqui na turma.”

Macris não se esquece dos Jogos Olímpicos de Tóquio, adiados para 2021. “Penso que, se por acaso eu tivesse sido convocada para compor a Seleção, estaríamos a todo vapor nos treinamentos e preparando para a Olimpíada. Mas em vez de ficar frustrada com o necessário adiamento, prefiro pensar que tudo acontecerá no tempo certo e da maneira que tiver que ser. Manterei o foco nos treinamentos e em melhorar e aperfeiçoar em todos os aspectos para estar preparada, caso a oportunidade apareça no futuro.”

E diz que se tornou uma aventureira. “Eu agora estou arriscando, por exemplo, na cozinha Estou aprendendo novas receitas veganas. E atendendo várias solicitações, como fazer lives e participando de reuniões on-line para compartilhar experiências da vida de atleta, veganismo e dicas para jovens levantadores em bate-papos muito produtivos.”

Gattaz e carinho da mãe

A meio de rede Carol Gattaz, de 38 anos, do Minas, diz que faz em casa tudo o que fazia em relação à preparação física. “Montei uma academia.” Ela está na casa de sua mãe, em São José do Rio Preto, São Paulo.

Sua rotina, no entanto, mudou bastante. “Agora, estou lendo bastante. Na alimentação, sou regrada. Confesso que por estar na casa da minha mãe foi uma adaptação difícil, pois não é mais a minha casa, de quando era menina. Moro fora há muito tempo. A vida é outra. Sinto como se não tivesse a mesma liberdade. Mas uma coisa é importante. É bom ser bem tratada pela mãe.”

(Foto: Arquivo pessoal)

A adaptação de Walewska

A meio de rede Walewska, de 40 anos, do Praia Clube, de Uberlândia, conta que foi difícil se adaptar aos novos tempos, mas que para isso teve ajuda do marido. “Temos que nos adaptar ao momento para não perdermos totalmente a forma física. No início da pandemia  meu marido comprou uma esteira e junto ao treino cardio, fiz alguns exercícios de yoga para não perder a mobilidade e, combinado à respiração, fazia um treinamento de meditação.”

Ela festeja poder frequentar uma academia, sem sair de casa. “A academia do meu prédio é muito bem aparelhada. Ela reabriu com horários agendados, com todos os cuidados exigidos. Há quatro semanas, consigo fazer um treino mais completo, mas ainda sem contato com a bola. O momento é de respeitarmos a quarentena, mas a vontade de voltar às quadras é grande. Só espero que passe essa pandemia logo e que, em breve, possamos fazer o que amamos novamente. O término da Superliga antecipadamente foi inédito para todos, mas o Praia garantiu o primeiro lugar na fase classificatória e, com isso, todos os direitos do campeão para próxima temporada 2020/2021.”

A organização de Garay

A ponteira Fernanda Garay, de 34 anos, do Praia, conta que está vivendo uma nova vida. “Desde o fim da Superliga, tenho mantido o isolamento social com o meu marido. Tenho aproveitado esse tempo para me dedicar às atividades que eu normalmente não teria tempo. Estou treinando em casa, aos poucos fui adquirindo alguns equipamentos e tentado adaptar o trabalho da melhor forma possível por aqui mesmo. Por ora, somente treino físico. Para manter a cabeça saudável, foi importante criar essa rotina de treinos e atividades nesse período de isolamento. Como tenho mais energia pela manhã, eu acordo, tomo café e já inicio o treino. À tarde, eu me dedico a fazer as demais atividades do dia, como estudar, fazer reuniões, falar com a família e amigos.”

(Foto: Arquivo pessoal)


Estar longe das quadras, segundo ela, não é novidade. “Não é a primeira vez que fico afastada das quadras por tanto tempo. Nas finais da temporada 2018/2019, sofri uma torção grave no meu tornozelo e acabei ficando quatro meses em recuperação. Mas, agora, a sensação é muito diferente, estamos com a vida em stand by e com muitas incertezas em relação ao futuro. Nesse período de isolamento, parece que o tempo passa mais devagar e se, não tiver criatividade, tudo se torna maçante, aí aumenta ainda mais a saudade de estar em contato com a bola, com as colegas de time.”

O fim da Superliga frustrou. “A gente trabalhou muito durante a temporada e a expectativa da fase final era bem grande. Porém, foi por um motivo de força maior e entendo que preservar a saúde e a vida de todos foi uma prioridade. Acredito que todos aqueles que votaram para encerrar a Superliga pensaram primeiro em preservar a saúde dos envolvidos com a competição e devem se considerar vitoriosos nesse ano de 2020.”

Bruno curte os filhos

Para o tenista de BH Bruno Soares, de 38 anos, estar em casa é uma raridade. O jogador passa quase que o ano inteiro em hotéis no exterior, cada semana num país, numa cidade diferente. Mas, agora, vive um cotidiano atípico na capital mineira.

(Foto: Arquivo pessoal)


Sua rotina mudou bastante. “Eu treino em casa a parte física. A parte técnica, agora é que estamos conseguindo fazer. Eu estou indo à casa de um amigo, onde tem quadra, pois não dá pra ir ao clube, o Minas, que está fechado. Estou podendo bater bola. Gostaria de estar fazendo academia, no entanto, a do meu prédio está fechada.”

A previsão de retorno do Circuito Mundial (ATP), segundo ele, é agosto, com o US Open e dois torneios preparatórios antes.

Bruno lembra o fato de Djokovic ter promovido torneios na Sérvia, que acabaram contaminando jogadores e torcedores. “Foi uma grande lição, pois mostrou o que não deve ser feito. Mostrou que não é a hora de voltar com os torneios.”

Mas estar em casa lhe dá um prazer maior que jogar: “Estar com a família é a parte boa dessa quarentena. Era pra estar indo para a Olimpíada agora. Mas estou curtindo meus filhos Noah, de 5 anos, e Maya, de 2. Nunca tive esse tempo com eles. É muito bom estar presente na vida deles, e estar com a esposa.”

Sala de Melo virou academia

A sala da casa do tenista Marcelo Melo, de 36 anos, é o local onde faz exercícios físicos. É ali que ele coloca um colchonete e, como se diz na gíria, “manda ver”. Ele treinou, por dois meses, nos EUA, quando decidiu voltar para BH. “Aqui, treino com meu irmão, Daniel, que é meu técnico. Agora estamos batendo bola na quadra da casa de um amigo. Está melhor.”

(Foto: Arquivo pessoal)


Segundo ele, bater bola nesse momento é fundamental. “O circuito deve voltar em agosto. Terei os torneios de Washington, Cincinatti e o US Open. Tenho de estar preparado e isso só será possível se bater bola a céu aberto, na quadra.”

O episódio Djokovic mexeu com ele. “O episódio dos torneios na Sérvia, durante a pandemia, nos ensinou que temos de cumprir regras. Tem de usar máscara e manter a distância social. Isso faltou. Mostrou, principalmente, que hoje é impossível ter público nos torneios. Agora, todos sabem o que fazer, o que não fazer, o procedimento a ser seguido.”

O lamento de Meirycoll

Talvez seja Meirycoll Duval, de 24 anos, a maior tenista brasileira no tênis em cadeira de rodas, quem mais tenha sentido a pandemia e a paralisação do circuito mundial. “Eu estava buscando a classificação para a Paralimpíada de Tóquio. De repente, minha vida parou. Minha vida é treinar para competir em alto rendimento. E sem competir, eu não tenho rendimento. Eu estava disputando a classificação para a Olimpíada. Estava perto da vaga. Mas, infelizmente, tudo mudou.”

(Foto: Divulgação)


Segundo ela, o prejuízo é inimaginável também no esporte. “Isso prejudicou todo mundo. Não teremos Olimpíada e nem Paralimpíada neste ano. Estava todo mundo focado nessas duas competições.”

Sua rotina de treinos mudou bastante. Ela conta que antes treinava cinco vezes por semana, no mínimo. “Agora, treino duas vezes. O meu técnico, o Léo Botija, me pega em casa, ainda de madrugada, em Venda Nova, de carro, e me leva para o treino na quadra, que fica no Belvedere. Treinamos até 10h. Depois, volto de ônibus, pois, nesse horário o transporte está vazio. Não tem aglomeração. Não vejo a hora de voltar à velha rotina e a jogar.”

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