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Pequim faz história com cerimônia de abertura da Olimpíada de Inverno

Capital chinesa é a primeira cidade a sediar os Jogos de Verão e de Inverno, um marco na história olímpica

04/02/2022 10:35 / atualizado em 04/02/2022 11:45
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Visão geral do Estádio Nacional de Pequim, mais conhecido pelo apelido
foto: Anne-Christine POUJOULAT / AFP

Visão geral do Estádio Nacional de Pequim, mais conhecido pelo apelido "Ninho do Pássaro, que recebeu a cerimônia de abertura dos Jogos de Inverno

A cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim'2022, nesta sexta-feira (4), fez oficialmente da capital chinesa a primeira cidade a sediar os Jogos de Verão e de Inverno, um marco na história olímpica – apesar de um contexto complicado, em meio à COVID-19, tensões diplomáticas e polêmicas.

Após semanas de dúvidas sobre a COVID-19 e as tensões políticas que surgiram após a iniciativa de boicote diplomático de alguns países, com os Estados Unidos na liderança, o presidente chinês Xi Jinping declarou aberta a Olimpíada de Inverno, após uma colorida cerimônia de abertura, idealizada pelo  cineasta Zhang Yimou.

Como nos Jogos de Verão de 2008, o gigantesco Estádio Nacional de Pequim, mais conhecido pelo apelido "Ninho do Pássaro", recebeu o brilho da cerimônia de abertura dos Jogos de Inverno de 2022.

E, assim como há 14 anos, o espetáculo foi concebido pelo diretor chinês Zhang Yimou, autor em 2008 de uma esplêndida e colorida celebração patriótica, pondo em cena 14 mil figurantes, bailarinos e acrobatas, sob uma profusão de fogos de artifício e efeitos especiais. 

Desta vez, em razão da situação sanitária, a cerimônia reuniu 3 mil artistas, todos com máscara.

Zhang Yimou apresentou os 56 grupos étnicos e a sociedade chinesa na chegada marcial da bandeira chinesa, carregada por oito soldados.

Depois, as 92 nações participantes do evento desfilaram, incluindo nove países da América Latina e um total de 33 atletas da região. A América Latina nunca conquistou medalha em Jogos de Inverno e fazê-lo em Pequim'2022 parece improvável.

Após o desfile de quase 3 mil atletas, o presidente do Comitê Olímpico Internacional, o alemão Thomas Bach, enviou uma mensagem de harmonia no tenso ambiente diplomático do momento. 

"No nosso mundo frágil, onde as divisões, os conflitos e as desconfianças aumentam, mostramos ao mundo que sim, é possível ser rivais orgulhosos e ao mesmo tempo viver pacificamente e respeitosamente juntos", disse o dirigente esportivo.

Bing Dwen Dwen, uma das mascotes durante a cerimônia de abertura dos Jogos de Inverno
foto: Jewel SAMAD / AFP

Bing Dwen Dwen, uma das mascotes durante a cerimônia de abertura dos Jogos de Inverno


"Simples, seguro e esplêndido"

"O período é diferente. Nosso conceito é simples, seguro e esplêndido", antecipou Zhang Yimou.

É que a COVID-19 se colocou no meio dos dois Jogos de Pequim. Por causa da pandemia, esta Olimpíada, as segundas da era da COVID (depois dos Jogos de verão de Tóquio, no ano passado), dificilmente será uma festa.

Os atletas estão confinados em uma bolha sanitária e são submetidos a exames PCR diariamente. Como Pequim adota estratégia de COVID zero, nenhum contato com a população é autorizado.

As arquibancadas dos locais de competição serão ocupadas parcialmente, mas apenas por convidados, que terão que respeitar o distanciamento social.

Entre os espectadores da cerimônia de abertura, boicotada por vários países ocidentais – a começar pelos Estados Unidos –, para denunciar as violações dos direitos humanos na China, foi anunciada a presença de quase 20 líderes mundiais, incluindo o secretário-geral da ONU, António Guterres; o presidente russo, Vladimir Putin; assim como o argentino Alberto Fernández e o equatoriano Guillermo Lasso.

Em uma reunião bilateral com Xi antes da cerimônia de abertura, Putin celebrou as relações "sem precedentes" que seu país tem com a China e criticou o Ocidente.

Artistas em performance durante a cerimônia de abertura dos Jogos de Inverno
foto: Jewel SAMAD / AFP

Artistas em performance durante a cerimônia de abertura dos Jogos de Inverno



Putin e a Rússia estão no centro das atenções internacionais. O Kremlin é acusado pelo Ocidente de querer invadir a Ucrânia, após ter enviado há semanas cerca de 100 mil militares russos para a fronteira com o vizinho pró-ocidental.

No momento de tensão, o governo ucraniano pediu a seus representantes em Pequim que não confraternizem com os russos, em uma edição dos Jogos que devem ser marcadas por polêmicas.


Manifestações contra


A milhares de quilômetros de Pequim, em Lausanne, a Suíça, 500 tibetanos se manifestaram nessa quinta-feira em frente à sede do Comitê Olímpico Internacional (COI) para denunciar os "Jogos da Vergonha", as ações de Pequim na região do Himalaia e sua repressão religiosa e cultural.

Em Hong Kong, um ativista pró-democracia foi detido pela acusação de "incitar a subversão", pouco antes de um protesto contra os Jogos Olímpicos de Pequim.

Em Los Angeles, cerca de 50 manifestantes se reuniram em frente ao consulado chinês. Em todo o mundo, convocações para manifestações foram feitas para denunciar também as violações aos direitos humanos em Xinjiang (Noroeste) contra os uigures, mas até o momento os protestos foram pequenos.

Outra polêmica é a do impacto ambiental destes Jogos, disputados em um clima glacial, mas semiárido, em pistas com neve artificial e estações de esqui acondicionadas para a ocasião.

"Hoje podemos dizer que a China é um país de esportes de inverno", assegurou nessa quinta-feira o presidente do COI, Thomas Bach.

Enquanto isso, os quase 2.900 atletas que vão disputar as competições, representando 92 países, em busca de 109 medalhas de ouro, tentam se manter à margem das polêmicas, concentrando-se em que os Jogos são um momento único em suas carreiras.

A maioria foca o esporte, mas há alguns que criticam o fato de competir na China, como o britânico Gus Kenworthy, vice-campeão olímpico em 2014 no esqui slopestyle.

"Na minha opinião, não acho que nenhum país deveria ser autorizado a receber os Jogos se tem posições terríveis de direitos humanos", declarou à BBC.


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