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FUTEBOL MINEIRO

Amadorismo e falta de investimentos fazem clubes mineiros desistir da Série D

Procura-se um clube para fazer companhia ao Nacional de Nova Serrana na disputa

postado em 28/04/2012 17:40 / atualizado em 28/04/2012 18:03

NANDO OLIVEIRA/ESP EM/ D.A PRESS
A segunda vaga de Minas Gerais na disputa da Série D do Campeonato Brasileiro está indefinida. O motivo? Faltam candidatos. Depois de o Guarani anunciar que não tem condições financeiras de participar da competição, por falta de patrocínios, outros clubes do interior também estão propensos a recusar.

A Caldense, da rica cidade de Poços de Caldas, no Sul de Minas, teria direito à vaga na Série D com a desistência do Guarani. A Veterana foi a sétima colocada no Mineiro deste ano. Mas o vice-presidente do clube, Franco Martins, já se posicionou em entrevista ao Jornal da Mantiqueira. “Financeiramente é inviável e também não existe prazo para montar um bom time. Os jogadores que estão aqui já estão sendo emprestados e toda a comissão técnica foi dispensada. Teria que se começar um trabalho do zero e isto é inviável”, disse.

Oficialmente, a Caldense só será convocada pela Federação Mineira a disputar a Série C a partir de quarta-feira que vem, quando a diretoria do Guarani protocolar a sua desistência. Mas a chance de a cúpula da equipe de Poços mudar de ideia é praticamente zero.

Segundo o jornalista Paulo Vitor Campos, que cobre o dia a dia da Caldense desde 1985, o desinteresse de dirigentes em ver o clube no cenário nacional vem de longa data. “A principal alegação é financeira. Setores da Caldense entendem que não vale a pena, que uma participação dessa pode quebrar o clube, que hoje é saneado, organizado. Dinheiro o clube tem, mas não há interesse. A Caldense disputou o Brasileiro da Série A em 1979, duas Copas do Brasil, um Supercampeonato e só. Todo ano é Mineiro e nada mais”, conta.

”A população de Poços está revoltada. Todos queriam ver o clube na Série D. O pessoal não se conforma de a Caldense não se interessar. A imprensa também pressionou muito para que o time entrasse. Mas, pelo jeito, vai ficar fora mesmo”, destaca Paulo Vitor Campos.
Divulgação


Ninguém quer

Com as desistências de Guarani e Caldense, a vaga na Série D poderá ser herdada pelo América de Teófilo Otoni – 9º colocado no Estadual -, justamente o clube que, no ano passado, abriu mão da disputa alegando também falta de recursos financeiros.

O Superesportes conversou neste sábado com o diretor de futebol do América-TO, Genílson Carleh, que deu sinais de que a Série D estará fora dos planos novamente. Segundo ele, a única pessoa autorizada a se posicionar seria o presidente Nodje Walter. De qualquer forma, entrar no Brasileiro exigiria a renegociação de todos os contratos já encerrados.

”O time que disputou o Mineiro já foi todo desfeito por questões de contrato. Reunir os atletas é até possível, mas levaria tempo. O treinador (Gilmar Estevam) também já saiu. Mas se houvesse uma condição dessa, de jogar a Série D, creio que ele voltaria. O problema é dinheiro. Jogar esta competição necessitaria de um investimento superior a R$ 1,5 milhão, pois, se você avança, tem de viajar de avião. O deslocamento é caro, o custo é muito alto”, disse Genílson Carleh.

O presidente Nodje Walter não foi encontrado para falar do assunto.

Com a possível negativa do América-TO à Série D, a desprestigiada vaga poderia cair no colo do Villa Nova, o 10º colocado do Mineiro, primeiro fora da zona de rebaixamento. Mas o momento do clube sugere outro “não” ao torneio organizado pela CBF. Do elenco que disputou o Estadual, 21 atletas já foram dispensados. O Supermercado BH, principal patrocinador, praticamente abandonou o projeto no futebol profissional e migrou para o Nacional de Nova Serrana, único clube mineiro já confirmado na Série D.

O Leão do Bonfim até emprestou, por um ano, dois dos seus principais atletas ao Nacional: o meia Henrique, revelação da base, e o atacante Ualisson. Nenhum deles representará o Villa no Mineiro de 2013.

Historicamente, a prefeitura de Nova Lima responde por 70% dos investimentos no futebol. O presidente Jairo Gomes não atendeu a reportagem para falar das chances de disputar a Série D. A assessoria de imprensa informa que essa chance é remota.
Carlos Eller/Esp.EM / D.A Press


Vaga aos rebaixados?

Pelo critério técnico, os dois próximos clubes a serem ouvidos pela Federação Mineira seriam os rebaixados Democrata-GV e Uberaba, ambos já desmontados e sem técnicos. Ninguém da Pantera de Governador Valadares foi encontrado para falar do tema. No lanterna Uberaba, o assessor Fernando Rosa disse que a diretoria só se manifestará oficialmente sobre a possibilidade de jogar a Série D assim que todos os clubes “candidatos” protocolarem a desistência.

Ouvido pelo Superesportes neste sábado sobre tantos exemplos de amadorismo e falta de ambição entre os clubes do interior, o presidente da Federação Mineira, Paulo Schettino, disse estar “espantado e surpreso”. “Você me pegou de surpresa. Para definir o participante da Série D, eu obedeceria essa hierarquia técnica, mas diante disso tudo, de tantas desistências e desinteresses, terei que conversar com a CBF. Em último caso, posso sugerir que o classificado seja o campeão do Módulo II”.

O Módulo II se encerrará em 12 de maio e a Série D será disputada entre 27 de maio e 30 de setembro.

Schettino assegura que Minas não perderá uma de suas duas vagas. “Os clubes do interior deveriam se espelhar no Tupi, que disputou o ano passado, foi campeão e hoje está na Série C. Farei de tudo para termos um representante, mesmo que eu tenha que chamar o campeão do Módulo II, a título de premiação. Oficialmente, ainda tenho que esperar a desistência de todos do Módulo I. Farei consultas a todos no intuito de convencê-los”.

Hoje, os participantes da Série D não têm incentivo algum da FMF ou da CBF para disputar o torneio. “Todas as federações fizeram um apelo à CBF para ajudar os clubes com passagens, pagamento de arbitragem, mas não tivemos resposta ainda. O novo presidente José Maria Marin ficou de estudar. Não garantiu nada, mas vai estudar”.

Nacional tem parceria e apoio de sobra

O Nacional de Nova Serrana vai na contramão dos demais clubes mineiros. Já confirmado na Série D como quinto colocado do Estadual, o Búfalo manteve o técnico José Ângelo, a base do seu elenco e está se reforçando.

O clube é bancado por patrocinadores de fora de cidade e oito empresas locais. Além disso, conta com o apoio do Cruzeiro, parceiro que empresta jogadores e paga os salários.

Segundo o diretor de futebol, Amarildo Ribeiro, a prefeitura não coloca dinheiro no clube, mas ajuda politicamente, como na cessão do Estádio Municipal e na captação de patrocinadores. “Aqui, o povo gosta de futebol e as empresas abraçaram o Nacional”.

Amarildo foi diretor do Ipatinga por oito anos e lembra que o clube só chegou à elite nacional porque contou com um parceiro forte, como o Cruzeiro, e uma empresa de peso, como a Usiminas. “Graças à credibilidade da Usiminas, o Ipatinga conseguiu, ao longo dos anos, atrair outras empresas. No Nacional a coisa anda da mesma forma e a intenção é conquistar a Série D”, concluiu.