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TOMBENSE

Com CT em construção e finanças controladas, Gaviolle quer Tombense forte no futebol nacional

Presidente do clube da Zona da Mata concedeu entrevista ao Superesportes, mostrou projeto do novo centro de treinamento e falou sobre as expectativas para o futuro

postado em 11/04/2015 08:40 / atualizado em 11/04/2015 21:12

Rafael Arruda / EM DA PRESS

Rafael Arruda
Enviado especial a Tombos

Formar jogadores e ganhar receita em cima de negociações. Este é um dos lemas do Tombense, clube que vem se fortalecendo a cada ano não somente no cenário mineiro do futebol, mas também em nível nacional. Nos últimos três anos, a equipe de Tombos conquistou o Módulo II do Campeonato Mineiro e a Série D do Brasileiro, além de duas semifinais estaduais e participações na Copa do Brasil. Qual a explicação para manter um time estruturado numa cidade distante da capital e com menos de 10 mil habitantes? Para Lane Gaviolle, presidente do Gavião-carcará, a resposta está em “organização e parcerias”.

“A gente atribui isso ao trabalho bem feito e à organização”, diz Gaviolle, em entrevista à reportagem do Superesportes. “Como todo clube do interior, o Tombense passa dificuldades, mas tem recursos próprios e de parceiros. O objetivo do clube é formar jogadores, colocar nos grandes clubes e ganhar dinheiro para continuar em atividade”, acrescenta o dirigente.

Lane Gaviolle, de 53 anos, é natural de Tombos, município da Zona da Mata que faz divisa com o estado do Rio de Janeiro e está bem próximo de Espírito Santo. Ex-jogador de Tupi e Ipiranga de Manhuaçu, e empresário bem-sucedido na região – possui postos de combustível, restaurantes, lojas de artigos esportivos e um hotel –, Gaviolle começou a atuar no futebol em 1999, quando estabeleceu parceria com o influente agente de jogadores Eduardo Uram e profissionalizou o Tombense Futebol Clube.

“É uma parceria vitoriosa, pois o Eduardo é bem-sucedido. Um cara honesto. Graças a Deus nunca tivemos problema algum. Fazemos o investimento certo numa cidade pequena”, diz o mandatário do Tombense.

Aos poucos, o Gavião-carcará foi ascendendo em Minas Gerais e passou a disputar importantes competições. Construiu arquibancadas no estádio, concentração, departamento médico e escritórios administrativos. Agora, o próximo passo é o centro de treinamento. Localizado numa área próxima ao Almeidão – cerca de 3 km de distância e 165 mil km² –, o CT do Tombense terá três campos oficiais, hotel com 40 apartamentos, piscina, lago e restaurante. O projeto é conduzido com calma e deve custar cerca de R$ 5 milhões.

“É um processo em longo prazo, no qual estamos no meio dele com boas condições de concretizá-lo rapidamente”, sintetiza Gaviolle.

Com folha salarial de R$ 230 mil (jogadores e comissão técnica) e custo total de R$ 350 mil por mês - contando despesas de viagens e manutenção do próprio clube -, o Tombense acredita que terá condições de brigar pelo acesso à Série B já este ano. "Precisamos reforçar para a Série C, mas já estamos olhando isso. Acredito que umas oito ou nove contratações pontuais, levando em consideração que haverá saídas, serão suficientes para montar um time forte", frisa o presidente.

Leia a entrevista completa


O Tombense é um clube em ascensão. Venceu o Módulo II em 2012, foi a duas semifinais do Mineiro e conquistou a Série D do Brasileiro. A que se atribui tal sucesso?

A gente atribui isso ao trabalho bem feito e à organização. Estamos numa cidade pequena, então fica mais fácil de coordenar os jogadores. Além disso, a condição do Tombense em relação à estrutura - hotel, boa alimentação – é excelente. Desde 1999, quando profissionalizamos o time, nunca mandamos jogadores embora e nem treinadores. Nossa temporada é certa. Contratamos bem para não corrermos o risco da troca. Graças a Deus vem dando certo. É bom para Tombos, para a Zona da Mata e cidades vizinhas. O Tombense é um time centenário e na era do profissionalismo se destaca em cenário nacional.

Como surgiu a ideia de profissionalizar o Tombense?

Eu sou ex-atleta do Tombense. Comecei com 13 anos e fui atleta amador. Depois me profissionalizei. Joguei na base do Vasco, depois fui para o profissional do Tupi, do Ipiranga (de Manhuaçu), entre tantos clubes. Com isso, quando retornei, pensei em trabalhar com escolinha. Formar jogadores, novos talentos e colocar em grandes clubes. As coisas vão crescendo na medida em que nos organizamos. O Tombense foi bicampeão da Segunda Divisão, mas acabamos pedindo licença, pois ainda não tínhamos estrutura. Depois, fiz boa parceria com o Eduardo Uram (empresário de jogadores). O clube é da cidade, e o Eduardo é o meu parceiro em todas as temporadas. É uma parceria vitoriosa, pois o Eduardo é bem-sucedido. Um cara honesto. Graças a Deus nunca tivemos problema algum. Fazemos o investimento certo numa cidade pequena e a tendência é que formemos um grande time para subir à Série B.
Rafael Arruda/Superesportes


Em qual patamar você almeja colocar o Tombense?


Tudo é uma escala. A gente disputava campeonato e pedia licença, pois não tínhamos estrutura. Mas hoje estamos fazendo centro de treinamento com hotel, três campos, restaurante próprio, etc. Então o Tombense tem hoje uma estrutura física muito boa e vai resolver ainda mais quando terminarmos o centro de treinamento. Com isso, nossa missão é sim chegar à Segunda Divisão do Brasileiro. Dentro de poucos anos, chegar à Primeira Divisão. É o normal de todo mundo. Na medida em que vai crescendo, você quer mais. E, para isso, tem que fazer bons negócios.

Faz diferença trabalhar numa cidade pequena (10 mil habitantes), onde, de certa forma, não há tanta pressão?

Fomos bem acolhidos porque sou da cidade. Sou ex-jogador do clube, que era amador. Tudo que é o Tombense hoje fora do amadorismo está nas minhas mãos. Eu que fiz junto com minha diretoria, meus amigos, meus parceiros. O Tombense se tornou grande por tentarmos fazer base e profissional. As pessoas entenderam quando tirei o jogo contra o Atlético de Tombos e coloquei em Ipatinga, pois precisávamos procurar um recurso maior. E a gente faz nossa parte. Se quisessem mil pessoas verem o jogo em Ipatinga, eu daria os ingressos. Duas mil também. O que eu quero dizer é que eles entendem o que é o Tombense. Divulga a cidade. O prefeito dá apoio moral, embora não tenha condições financeiras de patrocinar. E a gente, que é da cidade, se sente orgulhoso do time. O Tombense não é emergente e nem vai sair de Tombos. É um clube centenário, que respeita a tradição, as raízes e vai continuar onde está.

De onde vêm os principais recursos do Tombense?

Como todo clube do interior, o Tombense passa dificuldades, mas tem recursos próprios e de parceiros. O objetivo do clube é formar jogadores, colocar nos grandes clubes e ganhar dinheiro para continuar em atividade. Entramos na Série C com nossos próprios recursos. É cara a Série C, assim como foi a D. Então estamos investindo para formar novos valores e colocá-los nos grandes centros, assim como fizemos no passado. O Leonardo Moura é daqui, o Cícero é daqui, o Elias era daqui, o André Lima, o Fernandão. O Tombense formou muitos jogadores na base. Agora, optamos por fazer o profissional em virtude da estrutura boa que temos. E ano que vem, o Tombense vai forte tanto na base quanto no time de cima, com o centro de treinamento. Existem recursos próprios e as vendas e empréstimos de jogadores.

Muitas pessoas criticam as parcerias entre Eduardo Uram e agremiações do futebol brasileiro. Além disso, taxam o Tombense de “clube de empresário”. Qual sua resposta sobre tais comentários e como funciona a relação com Uram?

O Tombense não é um time de empresário. Tem presidente, diretor e tudo mais. E o Eduardo é o investidor do clube. Precisamos de investidores, pois estamos numa cidade pequena. Eu, sozinho, não consigo tocar tudo. E o Eduardo é um cara de caráter. Estamos juntos há 16 anos. O Tombense não é um clube como muita gente pensa. Temos história. Se hoje o Eduardo sair, o Tombense continua. Vai buscar outros recursos. Mas tenho certeza que ele não vai sair, pois as parcerias são bem feitas. Cada um tem seu percentual. Se o investidor aplica dinheiro no clube, ele tem que ter o percentual dele. É normal isso. O que fazemos com isso? Investimos na estrutura do clube, no centro de treinamentos, nas nossas condições. Não devemos um centavo a ninguém. Não há uma ação trabalhista sequer contra a gente no Ministério do Trabalho. Poucos clubes são isentos assim.

Existem sim as parcerias bem feitas, com honestidade. O povo da cidade é ciente disso e nos agradece pelo que fizemos no clube. O Eduardo (Uram) tem jogadores no América, no Bahia, no Avaí, mas o clube forte dele é o Tombense. Começamos juntos na base e ninguém fazia nada. Ele não vem só tirar o dinheiro, mas também ajudar no que for preciso. Ele tira o dinheiro porque precisa tirar, está dentro do acordo. Alguém vai colocar dinheiro e não vai tirar? Claro que não. Então as pessoas têm de respeitar isso aí e talvez copiar. Formar jogadores e ganhar dinheiro com as vendas. A mentalidade tem que ser assim. Só vamos ganhar dinheiro se colocarmos os atletas nos grandes clubes.

Em relação à estrutura, em que pé anda a construção do centro de treinamento do clube?

A ideia nossa do CT já vem de muito tempo. Não é só um CT, mas um clube. Tombos não há esse problema de fechar o portão e esconder os jogadores. Aqui você vê jogadores indo a pé para o campo, para o hotel. Nossa ideia é fazer um clube aberto, no qual os sócios do clube acompanhem o treino também. O pessoal treinará normalmente e será acompanhado nos treinos. Será um clube com lagoa, piscina, restaurante, campos, etc. E a metade do projeto fica pronta até o fim do ano. Daqui três meses tenho um campo pronto. Depois de mais dois, o segundo também ficará pronto. Dentro do ano faremos um projeto para a nossa condição de trabalho. É um CT muito grande, com investimento alto.

Quanto custará o CT?

Só um campo custa cerca de R$ 400 mil, no mínimo. Ao todo, é um investimento entre R$ 3 e R$ 5 milhões. Vai ficar tipo a Toca da Raposa. Além disso, queremos reformar nosso campo do estádio. É um processo em longo prazo, no qual estamos no meio dele com boas condições de concretizá-lo rapidamente.

E o estádio? Será ampliado?

Não adianta expandir o estádio sendo que a população em Tombos é pequena (10 mil habitantes). Temos uma parceria com o Nacional de Muriaé, que tem um estádio para 13 a 14 mil pessoas e fica a 50 quilômetros de Tombos. Então, se subirmos para a Série B, nós poderemos jogar em Muriaé.

Sobre o Campeonato Mineiro, te surpreendeu a vitória sobre o Cruzeiro no Mineirão?

Temos de ser coerentes. Surpreendeu sim. Ainda mais que o Cruzeiro jogava para ficar na liderança. Mas o futebol é assim. Surpreendemos o América, em 2013, e o Atlético, em 2014, este há muitos jogos sem perder no Estádio Independência. Se futebol fosse ciência exata, não precisava nem disputar.

Diante de todas as circunstâncias, é possível sonhar com o título?

Temos que trabalhar para isso. Já que conseguimos a façanha de ganhar do Cruzeiro, num cenário que a classificação era difícil, podemos sonhar. O Ipatinga, por exemplo, foi campeão mineiro. O que o Ipatinga tem que a gente não tem? Acho que é ao contrário. Temos coisas que eles não têm. Claro que naquela época os clubes da capital estavam em baixa e o Ipatinga vivia fase maravilhosa. Hoje é o contrário: o Cruzeiro foi campeão brasileiro e o Atlético da Copa do Brasil. Mas nada é impossível na vida. Respeitamos todos, mas precisamos sonhar.

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