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CARLOS ALBERTO TORRES

Aquele gol antológico! Capita imortalizou um dos lances mais bonitos de todas as Copas

Jogada durou 28 segundos, entrou para história dos Mundiais e selou tri brasileiro

postado em 26/10/2016 11:00

STF/AFP
A bola está com Tostão, que rouba de um italiano e recua para Piazza. Deste para Clodoaldo, que toca para Pelé, vai a Gérson, de volta a Clodoaldo. O volante santista dribla quatro adversários, de maneira espetacular, e passa para Rivellino. Este lança Jairzinho na esquerda. O ponta passa por um, evita o segundo e serve Pelé, que está no semicírculo da grande área. O camisa 10 domina com o pé esquerdo e com o direito, apenas em dois toques, e rola mansamente para Carlos Alberto, na direita, um passe que, na linguagem de campo, se diz “mamão com açúcar”. O lateral-direito Carlos Alberto solta um petardo, três dedos, no canto direito de Albertosi.

Todo esse lance mágico durou 28 segundos. Tão eternizados, que foram eleitos pela Fifa como o gol mais coletivo de todos os tempos. Minha mãe salta e, ao cair, quebra o sofá. Mas não era por menos. O Brasil balançava pela quarta vez as redes da Itália, aos 41min do segundo tempo, e sacramentava a conquista da Taça Jules Rimet. Era tricampeão mundial na Copa do México’1970.

Pouco depois, o gramado é invadido por torcedores, que agarram os jogadores brasileiros. Tomam a chuteira de Carlos Alberto. O lateral foi ao vestiário, vestiu-se novamente e retornou para receber e erguer a taça, repetindo um gesto feito pela primeira vez por Bellini, outro capitão da Seleção Brasileira, em 1958.

“No sentido objetivo, o gol não valeu nada, pois já era uma vitória indiscutível por 3 a 1. Mas o lance foi uma apoteose que coube justamente ao capitão. Tinha algo de mágico ali, como se existisse um roteiro escrito para o desfecho ser daquele jeito: uma celebração do futebol coletivo, da posse de bola, do virtuosismo”, sintetiza o escritor mineiro Sérgio Rodrigues, autor de O Drible.

Carlos Alberto, morto ontem, aos 72 anos, não era apenas o capitão da Seleção. Era um líder dentro de campo. Chamava a atenção de qualquer jogador. Até mesmo de Pelé. Gérson, o “Canhotinha de Ouro”, costuma dizer que a palavra de Carlos Alberto era a final, que ninguém contestava.

Foi ele o responsável por uma nova era para os laterais-direitos, que passaram a apoiar o ataque. Até sua geração, jogador dessa posição não podia atuar ofensivamente. Mas mesmo com ordem contrária dos treinadores, o “Capita”, como era chamado por muitos companheiros, não obedecia. Era o quinto atacante. Ajudava a armar o time. Cruzava como poucos.

Arte/EM/D.A Press


INFLUENTE Parte do sucesso da Seleção Brasileira de 70 inegavelmente se deve a ele. Pois interferiu diretamente na escalação. Zagallo havia acabado de assumir o comando técnico, substituindo João Saldanha. Mudou a escalação. Colocou Roberto de centroavante, tirando Tostão. Isso não agradou ao capitão, então aos 25 anos. E na fase final de treinamento, antes do amistoso contra o León, no México, ao lado de Gérson e Pelé, chamou Zagallo num canto e disparou: “Vai jogar o Tostão no lugar do Roberto. Estamos mais acostumados. Assim é melhor para o time.” O Brasil entra em campo e novamente a dupla que fez sucesso nas Eliminatórias de 1969, Pelé e Tostão, estava junta. O restante entrou para a história. E Carlos Alberto é, definitivamente, uma de suas melhores representações simbólicas.


LINHA DO TEMPO


1944
Nasce em 17 de julho, no Rio

1962

Estreia no profissional pelo Fluminense

1963
Campeão pan-americano com a Seleção Brasileira

1964
Campeão carioca pelo Fluminense

1965
Transfere-se para o Santos. Em duas passagens, até 1976, foram nove títulos: duas Taça Brasil (1965 e 1968), cinco paulistas (1965, 1967-1969 e 1973), um Rio-São Paulo (1966) e uma Recopa (1968)

1968
Marca seu primeiro gol pela Seleção, na vitória sobre a Tchecoslováquia por 3 a 2, em Bratislava. Conquista a Taça Rio Branco

1970
Capitão da Seleção Brasileira, tricampeã mundial no México

1971
Tem uma curta passagem de três meses pelo Botafogo, emprestado pelo Santos

1975
No retorno ao Fluminense, conquista dois títulos cariocas (1975-76)

1977

Volta à Seleção para a disputa das Eliminatórias. É vendido ao Flamengo e, ao fim do ano, troca o rubro-negro pelo Cosmos, de Nova York

1980
Conquista o tricampeonato norte-americano

1982
Depois de curto empréstimo ao Newport Beach, da Califórnia, ganha o quarto título pelo Cosmos, antes de encerrar a carreira

1983
Como técnico, é campeão brasileiro pelo Flamengo

1984
Campeão carioca pelo Fluminense

1988
Eleito vereador no Rio pelo PDT

1993
De volta ao futebol, conquista a Conmebol treinando o Botafogo

1998
Treina o Atlético em 26 partidas, com 12 vitórias, oito empates e seis derrotas

2005
Última experiência como treinador, no Paysandu

2016
Morre na manhã de 25 de outubro, aos 72 anos, vítima de infarto

REPERCUSSÃO


“Ele era um legítimo capitão. Era um líder nato. Na adversidade, durante um jogo, animava todo mundo, jogava o time pra cima.”
DIRCEU LOPES

“Passamos de 1969 a 2011 sem nos falar. ele comprou uma briga minha com o Saldanha. Mas nos encontramos numa comemoração do tri e ele falou que não sabia por que éramos brigados. Eu disse que também não sabia. a partir daí, sempre nos falávamos.”
DARIO

“Jogamos juntos no Fluminense. Era o maior lateral do mundo, que começou essa história de o lateral apoiar o ataque. contra a Seleção Russa, o Flu estava invicto. Se não perdêssemos, ganharíamos uma semana paga em Roma. Mas o ponta não poderia ficar solto. O Carlos Alberto acabou com ele. Fomos para Roma.”
PROCÓPIO

“Era legal. mandava no time. Na excursão da Seleção em 67, eu estava no banco. Perdíamos para a Alemanha. Ele se virou para o Aimoré Moreira e disse que era para me colocar, pra virar o jogo. Entrei. Terminou 1 a 1. Fui titular o resto da excursão.”
NATAL

“Foi o primeiro lateral que apoiava o ataque. Era um brincalhão. A gente dizia que só tinha tamanho, pra irritar, porque o técnico no juvenil chegou ao absurdo de dizer que ele não daria nada. Mas o Carlos Alberto  ajudava o treinador a acertar o time.”
EVALDO