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Cruzeiro ainda busca rumo dentro e fora de campo um mês após rebaixamento

Ainda há muito a se definir no clube, com grupo de jogadores e Justiça. Relembre fatos dos 30 dias de 'calvário' celeste

(Foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
Completando um mês da página mais triste de sua história, a queda para a Série B do Campeonato Brasileiro, o Cruzeiro ainda tenta se reequilibrar. Enquanto o técnico Adílson Batista inicia a preparação para a temporada'2020 sem saber exatamente com quais jogadores poderá contar, o Núcleo Dirigente Transitório (NDT) tenta colocar o clube minimamente nos trilhos, ainda que a cada dia surja uma nova surpresa desagradável deixada pela administração passada – uma delas é negociar o pagamento dos danos causados por torcedores na derrota por 2 a 0 para o Palmeiras, no Mineirão, que sacramentou o rebaixamento.

Nessa terça,novo diretor de futebol celeste, Ocimar Bolicenho, passou o dia em reuniões com representantes de atletas e ficaram acertadas as saídas do lateral-esquerdo Egídio e do volante Henrique. Eles irão para o Fluminense, mas de formas diferentes: enquanto o defensor rescindiu o contrato com a Raposa, o meio-campista prorrogará o vínculo até o fim de 2021 antes de ser cedido até o fim do ano ao tricolor, que pagará a maior parte do salário.

Há expectativa pela definição das situações de outros jogadores experientes e de altos salários, casos do goleiro Fábio, dos zagueiros Manoel e Dedé e do volante Ariel Cabral. Segundo o clube, os atletas compreenderam a delicada situação financeira e tiveram “alternativas apresentadas” caso não queiram permanecer na Toca II.

Por outro lado, os dirigentes não conseguiram mudar o panorama quanto ao armador Thiago Neves. Depois de reunião com o empresário do atleta, Leandro Lima, não houve acordo e a rescisão será mesmo na Justiça do Trabalho – o jogador cobra ainda R$ 16 milhões.

A intenção é diminuir custos e integrantes da comissão técnica foram demitidos, porém, alguns deles, como os fisioterapeutas Charles de Oliveira Costa e Eduester Lopes, serão readmitidos se aceitarem reduzir o salário.

Mesmo que consiga repactuar contratos e liberar atletas mais caros, a diretoria sabe que o clube continuará em situação complicada. Há três meses de salários atrasados, além de 13º e um terço de férias. Além disso, as contas não param de chegar, muitas não previstas na contabilidade do clube.O presidente interino, José Dalai Rocha, admitiu aos jogadores não ter prazo para colocar as contas em dia e pediu paciência.

PUNIÇÕES NO STJD

Para completar, o clube convive com a ameaça de ser punido com a perda de mandos de campo em função do mau comportamento da torcida no ano passado. Amanhã, às 11h, o Tribunal Pleno do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) apreciará os recursos do clube celeste e também do Atlético pela briga envolvendo torcedores nos camarotes do Mineirão, no clássico de 10 de novembro, pelo Brasileiro. Em primeira instância, ambos perderam um mando de campo e foram multados em R$ 100 mil.

O Cruzeiro voltará ao tribunal em razão dos episódios ocorridos na derrota por 1 a 0 para o CSA, em 28 de novembro, quando torcedores atiraram bombas, sinalizadores e outros objetos no gramado. O árbitro Vinícius Gonçalves Dias Araújo relatou em súmula. O caso seria julgado em 23 de dezembro, mas foi adiado devido ao recesso de fim de ano.

Já as confusões do duelo com o Palmeiras, pela última rodada, foram mais graves. Com a partida ainda em andamento, torcedores arrancaram cadeiras do Mineirão e as atiraram no gramado. Também houve arremessos de bombas e depredações em bebedouros, banheiros e de televisores, além de invasão do gramado. O jogo foi encerrado aos 40min do segundo tempo.

Como colaborou para a identificação dos envolvidos nas brigas, o Cruzeiro pode ter pena menos severa, conforme o Artigo 213, III, do Código Brasileiro de Justiça Desportiva. Ainda assim, o clube corre o risco de perder mandos de campo. O Artigo. 63, I do Regulamento Geral das Competições (RGC) da CBF determina que “a cidade do estádio substituto deverá estar situada à distância superior a 100 (cem) km da cidade sede do clube e de onde ocorreu o incidente que gerou a punição, caso não seja a mesma cidade, observados os padrões rodoviários oficiais do IBGE”. Já o artigo 67 indica a possibilidade de, além da perda de mando de campo, o clube jogar com os portões fechados.

Em 2010, o Coritiba perdeu 30 mandos de campo pela conduta violenta de seus torcedores depois do rebaixamento para a Série B, em 2009. Adiante, conseguiu redução para 10 partidas. No caso do Cruzeiro, se houver sentença mais pesada, as opções de estádio seriam Ipatingão, em Ipatinga (211 quilômetros); Melão, em Varginha (313 quilômetros); Manduzão, em Pouso Alegre (393 quilômetros); e Parque do Sabiá, em Uberlândia (543 quilômetros).

O dia a dia do calvário

8/12 – Derrota para o Palmeiras, no Mineirão, sacramenta rebaixamento para a Série B do Brasileiro. Torcida promove quebra-quebra no estádio, causando prejuízo de cerca de R$ 300 mil
 
9/12 – Presidente Wagner Pires de Sá admite pela primeira vez deixar o cargo, mas vices se recusam 
 
10/12 – Zezé Perrella se licencia da presidência do Conselho Deliberativo para se dedicar apenas à gestão do futebol
 
11/12 – Torcida lança campanha “Sem renúncia, sem sócio”, exigindo a saída da diretoria. José Dalai Rocha assume presidência do Conselho 
 
12/12 – Zezé Perrela diz ter sido demitido e deixa gestão do futebol, que passa à responsabilidade do conselheiro Márcio Rodrigues. Wagner Pires de Sá garante permanência de Adílson Batista
 
13/12 – Torcedores protestam em frente à sede administrativa, no Barro Preto, pedindo a renúncia da diretoria. Novo responsável pela base, vice Ronaldo Granata demite Amarildo Ribeiro, homem de confiança de Itair Machado
 
14/12 – Torcedores criam campanha para doar cestas de Natal para funcionários mais humildes do Cruzeiro
 
15/12 – Torcida divulga carta aberto ao Conselho Deliberativo pedindo mais uma vez o afastamento da diretoria
 
16/12 – Wagner Pires de Sá admite sair, mas quer que novos gestores avalizem dívidas feitas em sua gestão
 
17/12 – Operação Voz da Arquibancada, do Ministério Público de MG e das polícias Civil e Militar, cumprem mandados de prisão e busca e apreensão contra duas torcidas organizadas celestes. Ministério Público pede suspensão de duas organizadas por um ano. Torcedores voltam à Rua Timbiras para pedir a saída da diretoria
 
18/12 – Torcida organiza protesto em frente ao prédio em que mora o presidente celeste
 
19/12 – Cozinheiros da Toca da Raposa I não aparecem para trabalhar por falta de pagamento de salários
 
20/12 – Clube é notificado de ação movida na Justiça pelo armador Thiago Neves, que cobra R$ 16 milhões e pede rescisão unilateral. Zagueiro Fabrício Bruno segue mesmo caminho, pedindo R$ 4 milhões, além do desligamento. Wagner Pires de Sá
e os vices Hermínio Lemos e Nicola Granata renunciam aos cargos
 
21/12 – José Dalai Rocha confirma que Conselho de Notáveis assumirá a gestão do Cruzeiro
 
23/12 – Conselho Gestor se reúne e define organograma em que empresário Saulo Fróes será o presidente. Pedro Loureço assume o futebol. Clube paga salários de novembro, limitado ao teto de R$ 2,5 mil
 
25/12 – Saulo Fróes diz que folha salarial do futebol cairá de R$ 15 milhões para R$ 5 milhões e descarta medalhões que não aceitarem reduzir vencimentos
 
26/12 – TRT-MG nega pedido de rescisão de contrato de Thiago Neves. Ricardo Drubscky é contratado para comandar as categorias de base. Clube agradece Umbro, mostra imagens dos uniformes Adidas, mas dirigente diz que contrato é ruim e defende marca própria. É estabelecido teto salarial de R$ 150 mil para os jogadores para 2020
 
30/12 – CEO Vittorio Medioli acusa empresário Fábio Mello de furtar documentos na sede do clube e registra boletim de ocorrência. São comprados 50% dos direitos do lateral-direito Orejuela
 
1/1 – Torcedores fazem vigília pelos 99 anos do clube, a serem celebrados no dia seguinte
 
2/1 – Lojas oficiais ficam lotadas com o início da venda de camisas para 2020, da marca Adidas. É anunciada série de demissões, incluindo do ídolo Raul Plassmann, que trabalhava no marketing
 
3/1 – Em reunião com a Minas Arena, são iniciadas negociações para mandar jogos no Mineirão em 2020
 
5/1 – Vittorio Medioli anuncia saída do Conselho Gestor menos de 15 dias depois de assumir o cargo de CEO. É acertado o retorno provisório de Alexandre Mattos como executivo de futebol
 
6/1 – André Argolo assume diretoria executivo no lugar de Medioli. Ocimar Bolicenho é o novo diretori de futebol. São demitidos 12 profissionais do departamento de futebol
 
7/1 – Clube admite rever algumas demissões realizadas na véspera. Não há acordo com Thiago Neves e situação será decidida na Justiça