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Violência? Deputado explica fala sobre ruptura institucional no Cruzeiro

Declaração polêmica do deputado estadual Léo Portela viralizou em grupos de Whatsapp; presidente Sérgio Santos Rodrigues não quis se pronunciar

18/06/2021 20:53 / atualizado em 18/06/2021 21:12
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Declaração polêmica do deputado estadual Léo Portela viralizou em grupos de Whatsapp
foto: Cruzeiro/divulgação

Declaração polêmica do deputado estadual Léo Portela viralizou em grupos de Whatsapp



Circulou nesta sexta-feira, em grupos de Whatsapp, um trecho de uma entrevista em vídeo do deputado estadual Léo Portela (PL-MG) que tem causado polêmica. A frase do parlamentar disseminada no aplicativo trata da política do Cruzeiro: "A única coisa que pode ser feita é ter uma revolução, é uma quebra institucional e algumas vezes até, né, lançando mão, né, infelizmente, de violência, desse tipo de coisa".

O recorte foi feito a partir de uma entrevista dada por Léo Portela no dia 6 de junho ao canal do Youtube 'Resenha Cruzeiro', comandado pelos jornalistas Leonardo Garcia Gimenez e Guilherme Lanna. Em parte da live, que teve 1h50min de duração, o deputado e ex-superintendente de Relações Institucionais e Governamentais do Cruzeiro critica a gestão do presidente Sérgio Santos Rodrigues.

Em uma das respostas, o parlamentar cita que o atual estatuto do Cruzeiro impede a participação de torcedores e sócios nas decisões do clube. Logo, Portela aponta protestos, como os ocorridos no fim da gestão do ex-presidente Wagner Pires de Sá, em 2019, como único mecanismo de pressão sobre a atual administração.

"O torcedor precisa fazer o que fez com Wagner Pires, Itair Machado e a diretoria passada. Itair e Wagner e a diretoria passada poderiam ter continuado, simplesmente, mesmo com o resultado ruim, do rebaixamento, mesmo com todos os escândalos, eles tinham o estatuto debaixo do braço. Não tinha nada que os tirasse dali. Tal qual a atual diretoria tem o estatuto debaixo do braço. Não tem nada em tese que os tire dali. A não ser a torcida. A torcida tem que se mobilizar, tem que brigar, tem que exigir, tem que ir para a rua, tem que parar de consumir. Infelizmente. É triste? É triste. Eu custei a tomar a decisão de cancelar o meu sócio Diamante. E agora vou cancelar também a cota do clube. Não quero mais um tostão financiando Família União (grupo político do ex-presidente Wagner Pires de Sá). Então, a torcida tem que se mobilizar. Infelizmente, eles têm muito poder estatutário que garante a continuidade do poder deles, garante que eles passem o mandato deles para quem eles querem, garante a manutenção deles no cargo. O estatuto do Cruzeiro foi feito para manter no poder quem está no poder. É um estatuto que não proporciona força para a oposição. E não proporciona força para novas lideranças. É um estatuto feito para manter no poder quem está no poder. A única forma de isso mudar é a torcida tirar na marra. Infelizmente não há outra solução".

Em outra resposta dada ao canal Resenha Cruzeiro, o deputado estadual explica que o voto é o único meio legal de tirar um presidente do clube e de mudar os rumos da política no país. Segundo ele, a diferença é que, graças ao estatuto cruzeirense, só conselheiros podem ir às urnas. Já nas esferas municipal, estadual e federal, qualquer cidadão consegue interferir no resultado das eleições.

É da resposta abaixo que foi extraído o trecho disseminado no Whatsapp.

"O estatuto é o instrumento que garante o poder dos que estão no poder. A torcida não tem nenhum poder, nenhuma voz, não tem nenhuma ação, que possa, institucionalmente, tirar ou mudar as pessoas que governam o Cruzeiro. O estatuto é o poder máximo que garante a permanência da Família União e das pessoas que lesaram o Cruzeiro. A única coisa que tem para ser feita seria, vamos colocar, você deu o exemplo aí, de eleições normais, de governantes, as pessoas votam no que querem, e tiram. Se o cara não vai bem, vota em outra pessoa. Bom, se fosse analisar nesse aspecto, a única coisa que pode ser feita é ter uma revolução, é uma quebra institucional e algumas vezes até, né, lançando mão, né, infelizmente, de violência, desse tipo de coisa. Mas não há outra solução. No Cruzeiro, o que existe no Cruzeiro, é um estatuto que garante plenos poderes, plenos poderes, para quem manda no Cruzeiro. Se a gente for analisar, como você falou, não trazendo essa realidade pra cá, pro Cruzeiro, não dizendo que tem que ter violência ou algo assim. Mas, se fosse comparar, como você comparou, seriam essas duas figuras aí: revolução e ordem comum institucional das coisas. No Cruzeiro, infelizmente, nós somos reféns do estatuto, não há o que fazer".

Procurado pela reportagem para comentar o recorte do vídeo espalhado no Whatsapp e também declarações como "A única forma de isso mudar é a torcida tirar na marra", Léo Portela negou que estivesse fazendo apologia à violência.

"Não falei em quebra da ordem institucional, mas em rompimento institucional no sentido de que o estatuto engessa qualquer ação efetiva da torcida. Precisaria haver um rompimento com tais amarras institucionais para alteração da realidade do Cruzeiro. Até deixei claro que não se trata de uso da violência", disse.

Em seguida, o deputado estadual detalhou o que quis expressar nas respostas dadas ao canal Resenha Cruzeiro. Leia ao fim desta reportagem.

Sérgio Santos Rodrigues não se manifesta


A reportagem também pediu um posicionamento do presidente do Cruzeiro, Sérgio Rodrigues, sobre as declarações do deputado estadual Léo Portela, seu ex-aliado e hoje opositor. Por meio da assessoria do clube, ele informou que não se manifestará.

Posicionamento completo de Léo Portela sobre suas declarações ao canal Resenha Cruzeiro:

"Deixei bem claro que estávamos comparando duas realidades diferentes: a da política e a do Cruzeiro. Na política, você tira a pessoa e coloca outra com voto. E quando acontece uma revolução, você tem o uso da violência, querendo ou não isso acontece na realidade normal da sociedade. No Cruzeiro, precisaria haver um rompimento institucional. Como a torcida não tem condições de fazer uma alteração, pois o estatuto não oportuniza isso a ela, um caminho que pode acontecer normalmente, se for comparar com o que acontece na sociedade, é o rompimento institucional com uma revolução. A revolução, querendo ou não, tem atos de violência. É nesse sentido. 

É o que aconteceu no fim de 2019. Foi a torcida quem tirou o Wagner Pires. A pressão da torcida alterou a normalidade institucional do Cruzeiro. Se você for analisar institucionalmente, eles não teriam de sair, pois estavam garantidos pelo estatuto. Mas as ações da torcida com uma espécie de revolução tornaram impossível a permanência no poder daqueles que estavam legitimados pelo estatuto. Teria que haver algo do gênero.

O Cruzeiro manteve o estatuto, mas não era o que se esperava do Sérgio. Antes (do Sérgio) teve o conselho gestor, que não teve tempo para fazer as alterações estatutárias. Teve de convocar eleições para que viesse o novo presidente (...). Entrou o presidente legalmente constituído. Esse presidente, a ideia era que ele rompesse com a realidade institucional do Cruzeiro. Não aconteceu. Pelo contrário, ele se aliou à realidade institucional para usar o poder em prol dele. Daí entrou no mesmo círculo vicioso que tem a história toda do Cruzeiro: a partir do momento que a pessoa vira presidente, tem poder máximo para permanecer no poder. O presidente atual, em vez de apresentar uma nova realidade, manteve-se no poder com base em alianças e estruturas do passado. Inclusive tentaram apresentar um novo estatuto, no qual a comissão que elaborou contava com Gilvan de Pinho Tavares, um dos que se beneficiaram a vida inteira do estatuto do Cruzeiro, na rota do poder. Ele apresentou um novo estatuto de maneira ilegítima estatutariamente. Tanto que ingressei na Justiça e impedi que a reunião acontecesse. O que aconteceu, na verdade, foi o presidente que todos esperavam que oportunizassem uma realidade mais democrática no Cruzeiro se aliar aos poderosos para se manter no poder a qualquer custo.

O estatuto garante poder a esse tipo de grupo de conselheiros. Garante que eles decidam os rumos do clube. Você acredita que eles tendo poder para decidir os rumos do clube vão atacar a si mesmos? Não vão. O estatuto garante poderes eleitorais a eles e a permanência do status quo. Esse é o rompimento que precisa acontecer. Tem que haver uma democracia para que a torcida coloque e tire quem ela quiser. Precisa ser uma instituição democrática.

A gente poderia ver nele (Sérgio Santos Rodrigues) uma grandeza e um sentimento muito nobre se ele escolhesse uma comissão de estatuto completamente isenta, com pessoas que de maneira alguma usaram o estatuto para se beneficiar de poder no Cruzeiro, pessoas de conduta inquestionável para apresentar um novo estatuto. O problema é: esse novo estatuto seria votado por quem? (Conselheiros atuais) Há um círculo vicioso. Ele (Sérgio) teria que ter tido a grandeza de mostrar um posicionamento diferente. Com isso, teria apoio enorme da torcida. Com essa pressão, os caras iam pensar: 'vou agir assim mesmo? Será que o caminho é esse?

O poder encanta as pessoas. Mesmo o Cruzeiro sendo uma instituição com todos os problemas que tem, o status de ser presidente ou diretor do Cruzeiro traz um status muito grande. Isso mexe com as pessoas. Se não é uma pessoa preparada para exercer o poder, ela se encanta e se perde com muita facilidade".

Léo Portela trabalhou ao lado de Sérgio Rodrigues entre maio e outubro de 2020
foto: Reprodução/Twitter

Léo Portela trabalhou ao lado de Sérgio Rodrigues entre maio e outubro de 2020



Léo Portela no Cruzeiro


Léo Portela foi superintendente de Relações Institucionais e Governamentais do Cruzeiro entre maio e outubro de 2020, a convite de Sérgio Rodrigues. O deputado decidiu sair da diretoria por discordar do alinhamento político do presidente.

"Não teve nenhum desentendimento. Eu saí a partir do momento que percebi que o presidente no qual todos esperavam que alterasse a realidade decidiu se aliar a ela.  Quando decidiu fazer aliança com a Família União para permanecer no poder, para garantir reeleição e o apoio eleitoral necessário para permanecer, eu preferi não fazer parte", concluiu.

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