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CLÁSSICO 500

Clássico 500: duelo Atlético x Cruzeiro, iniciado em 1921, atinge marca histórica

Amistoso realizado há 96 anos, no Prado Mineiro, deu início à rivalidade

Eduardo Murta
Registro da vitória do Cruzeiro sobre o Atlético, por 3 a 1, disputado em 25/12/1942, no Barro Preto - Foto: Arquivo Estado de Minas
Quando entraram em campo para aquele simples amistoso em 17 de abril de 1921 no Prado Mineiro, os jogadores de Atlético e Cruzeiro, então Palestra Itália, não tinham a mais vaga ideia de que estavam fazendo história. Nem sequer imaginavam que, décadas mais tarde, seriam vistos como os primeiros responsáveis por um clássico que ganhou musculatura a ponto de se transformar num fenômeno que vai além das quatro linhas e que neste domingo chega a seu duelo 500.
Como a disputa estabeleceu desde cedo uma linha divisória entre os dois clubes, nem mesmo sobre este total de partidas eles se entendem. Os celestes, por exemplo, em sua contagem indicam que será o 482º duelo com os alvinegros. Contas fechadas ou não, fato é que em 96 anos de disputa, Cruzeiro e Atlético produziram bem mais que números e estatísticas. Produziram, sobretudo, paixão. É para contar parte desta rivalidade quase centenária e apresentar especialmente seu lado humano que o Estado de Minas revisita duelos emblemáticos e personagens essenciais.

Lá estão gerações que lideraram times perto do imbatível desde os anos 1920. Duelos que se tornaram memoráveis. Craques que, de tão mágicos, pareciam irreais. E uma cumplicidade com as torcidas que moveu multidões onde quer que as equipes se encontrassem – no Estadinho de Lourdes, no Barro Preto, no velho e no novo Independência, no Mineirão, até mesmo fora de Minas.

Registro do clássico de 11/06/1944, vencido pelo Cruzeiro por 2 a 1 pelo Campeonato da Cidade - Foto: Arquivo Estado de Minas
Claro, em encontros em que polêmica foi desde sempre o tempero mais comum: a declaração infeliz de um, a objeção ao árbitro de outro, a briga pelo vestiário estratégico, a catimba que foi parar no tapetão, o velho tapetão. Em certos casos, extremos que passaram do limite. Bom que tenham sido exceção e que o espetáculo, a bola, torcedores e jogadores se transformaram no melhor da festa.

Parte desses atletas que ajudaram a construir a magia do clássico está presente neste especial, para a qual deram depoimentos especiais: numa ponta Ronaldo Fenômeno, Dirceu Lopes e Tostão, noutra, Ronaldinho Gaúcho, Reinaldo e Dario. Além deles, jogadores que ganharam o respeito de ambas as torcidas, como Nelinho e Procópio, que vestiram tanto a camisa atleticana quanto a cruzeirense e também estiveram à beira do gramado, como técnicos de ambas as equipes.

Sabem como poucos da pulsação que precede os grandes embates. Sabem, sobretudo, dos casos que se tornaram antológicos nas partidas, antes e depois delas – e ainda daquilo que era lenda e se transformou em versão categórica próxima do incontestável. Não foram poucos, aliás, os ídolos que cruzaram de um CT para outro, às vezes envolvidos numa mudança turbulenta e incompreendida, e já nos últimos anos em temperaturas que passaram longe do debate apaixonado.

Curiosamente, mesmo tendo pouco a pouco roubado o protagonismo de América e Villa Nova, Cruzeiro e Atlético decidiram poucos títulos mineiros em confrontos diretos: foram 21, com 12 conquistas da Raposa, oito do Galo e um troféu dividido em 1956, depois de uma prosaica batalha judicial motivada pelo fato de um zagueiro atleticano estar em dívida com o serviço militar obrigatório. Em nível nacional, decidiram unicamente uma taça, a Copa do Brasil de 2014, em que triunfou o Atlético.

A convite da reportagem, craques de várias gerações escalaram aquela que é considerada a seleção de todos os tempos para cada um dos times. Rumo ao clássico 500, mais uma polêmica à vista – um ingrediente que entrou em campo naquele 17 de abril de 1921 e dele nunca mais saiu.