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Areia escura e lugar dos gângsters: curiosidades de praias do Japão

Localizada a mais de 100km da capital Tóquio, a Tsurigasaki Beach foi muito criticada por brasileiros nas redes sociais

28/07/2021 04:00 / atualizado em 28/07/2021 00:08
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Tsurigasaki Beach não é exatamente a praia das famílias ou dos fins de semana prolongados
foto: Yuki IWAMURA / AFP

Tsurigasaki Beach não é exatamente a praia das famílias ou dos fins de semana prolongados



A primeira mirada em direção à praia do surfe olímpico já causa estranheza aos olhares acostumados ao litoral brasileiro. No céu, as nuvens escuras e a neblina insistente criam um clima quase hostil para o verão quase sempre ensolarado do Japão. No chão, a areia negra - fruto da ação vulcânica no solo - contrasta com as memórias de quem viu o mar pela última vez pisando no terreno branco de Ilhéus, litoral baiano.

Areia negra é resultado da ação vulcânica no solo
foto: João Vitor Marques/EM/D. A Press

Areia negra é resultado da ação vulcânica no solo



Tsurigasaki Beach não é exatamente a praia das famílias ou dos fins de semana prolongados. Pelas características do mar, o local recebe em média 600 mil surfistas por ano. Os paraísos do Oceano Pacífico se fazem mais presentes nos arquipélagos ao Sul do país.

O comportamento de parte dos japoneses nas praias, porém, independe da beleza dos cenários. "As mulheres não vestem fio dental. Usar biquíni na praia é muito estranho na Ásia. A gente fez uma amiga chinesa vestir biquíni uma vez. Ela achou o máximo, mas se sentiu muito desconfortável. As pessoas vão de roupa normal de outros ambientes mesmo, calça jeans, bermuda. Rolê na praça e rolê na praia: a mesma coisa", conta Gabriel Gama, estudante que saiu de Aracaju para viver em Tóquio.

Há as praias para surfe e as praias para as visitas das pessoas - que possuem quebra ondas e, por vezes, salva-vidas de plantão. Há ainda aquelas que são frequentadas por grupos específicos da sociedade japonesa.

"Minha experiência foi peculiar, porque a gente, sem saber, foi numa das praias mais barra pesadas do Japão, onde vão os membros de gangue, da vida noturna... A gente percebeu só no meio da tarde, quando viu a galera tatuada - no Japão, tatuagem é um negócio delicado -, todo mundo bêbado no meio da praia. E tinha alguns com tatuagens de yakuza (organização criminosa no país)", conta Geovane Mansano, estudante brasileiro que viveu em Osaka durante um ano.

Localizada a mais de 100km da capital Tóquio, a Tsurigasaki Beach foi muito criticada por brasileiros nas redes sociais. O mar escuro e o céu repleto de nuvens torna a praia consideravelmente menos fotogênica. Mas, afinal, por que ela foi a eleita para receber a modalidade?

A primeira preocupação para os organizadores é que a instalação olímpica escolhida desse as mesmas condições de ondas para todos os 40 atletas envolvidos na disputa (20 homens e 20 mulheres). Por isso, cogitou-se construir um mar artificial em que se pudesse controlar as águas.

Porém, a ideia foi descartada, já que a intenção é evitar os chamados "elefantes brancos" - estruturas criadas para grandes eventos, mas pouco usadas nos anos seguintes. Aí entra a Tsurigasaki Surfing Beach, localizada na costa pacífica no extremo leste japonês.

O local atrai cerca de 600 mil surfistas por ano. Por isso - e pela relativa proximidade da capital -, foi escolhida como sede da modalidade. A opção por uma praia natural também foi feita por conta da cultura do surfe e a conexão com as ondas reais.

O presidente da Associação Internacional de Surfe, Fernando Aquerre, explicou que a ideia foi montar um ambiente natural de praia. "O Comitê Olímpico Internacional nos pediu para criar uma cena praiana em Chiba", disse à Surfer.com.

Mas havia muito receio em relação à qualidade das ondas em Chiba, que, no verão, costumam ser mais fracas. A "sorte" foi a chegada de um tufão no local, o que acelerou o vento e melhorou as condições do mar. Porém, deixou os cenários bastante mais cinzas e pouco 'instagramáveis'.

"Tufões são como furacões são chamados na Ásia durante o verão e o outono. Ventos de tufão são muito mais fortes do que os ventos alísios (comuns nessa época). Portanto, eles geram ondas muito maiores", explicou o oceanógrafo Sally Warner, em artigo publicado recentemente.

"É uma tempestade tropical de três graus, numa escala até cinco. Então, não há o que se preocupar", tentou tranquilizar o porta-voz dos Jogos, Masa Takaya, sobre o tufão que se aproxima.

As mudanças no clima são totalmente perceptíveis. O sol e calor - com temperaturas superiores a 36ºC - foram substituídos por chuva fraca e muito vento. Para o azar das câmeras e das redes sociais e a sorte dos surfistas que contam com ondas melhores.

Fotos da vitória de Ítalo Ferreira no surfe e da medalha de ouro



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