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César Masci relembra títulos importantes e defende mudanças no estatuto do clube

25/09/2012 08:00 / atualizado em 19/01/2015 18:46
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foto: Beto Magalhaes/Estado de Minas
César Masci é reconhecidamente um dos presidentes mais importantes da história do Cruzeiro. Depois de uma década de fracassos, ele assumiu, no início dos anos 1990, e reconduziu o clube aos caminhos dos títulos. Em apenas quatro anos (1991 a 1994), conquistou o bicampeonato da Supercopa (1991 e 1992) e a Copa do Brasil (1993).

Apesar do peso dos 75 anos, ele resolveu voltar à cena política no ano passado. O motivo, segundo ele, é a falta de representatividade do torcedor. Organizou a oposição, mas não concorreu às eleições. “Eu cogitei minha candidatura porque, naquele momento, queria dar voz à torcida e aos associados. Hoje, infelizmente, o conselho está sendo subserviente ao grupo político que ocupa a diretoria”, critica.

Mesmo com apoio de grande parte dos torcedores, a oposição não encontrou respaldo entre os conselheiros. Gilvan de Pinho Tavares, candidato da situação, foi eleito com 391 votos. A oposição recebeu 48. “Eu e o Alberto Rodrigues tivemos 83% de aprovação da torcida, mas o conselho não ouve”, lamenta.

Na eleição, votam apenas conselheiros efetivos, natos e beneméritos. A participação do associado restringe-se à eleição do conselho. “O Cruzeiro tem que abrir as portas ao torcedor e ampliar a participação dos sócios. Sempre fomos um clube do povo. Temos que nos valer da nossa história. E essa mudança tem que ser feita o mais rápido possível. Os próprios conselheiros têm que ter esse compromisso”.

Masci defende a alteração do estatuto do Cruzeiro. “Tem que haver um movimento dos associados para a mudança do estatuto. Ele é inconstitucional. O clube não é democrático”, protesta. Uma futura candidatura à presidência do Cruzeiro, contudo, está descartada. “Gostaria de ser presidente novamente, mas não tenho condições. Já tenho 75 anos de idade, e o cargo exige que esteja em plena condição de saúde”, diz.

O ex-dirigente lamenta a situação atual pela qual passa a equipe celeste. Diz que o Cruzeiro paga pelo planejamento equivocado - contratações em excesso e sem qualidade. “Estou afastado, mas sei que com o dinheiro que recebe anualmente dos direitos de televisão dá para se montar um time competitivo, para briga por título e Libertadores em igualdades de condição com qualquer equipe”.

Ele acredita que Gilvan, a partir do ano que vem, possa reerguer o clube. “Temos uma perspectiva muito boa. Esperamos que o Gilvan faça uma equipe à altura do Cruzeiro. O orçamento é muito grande, e ele tem condições”, avalia.

Presidência: “Volta do protagonismo internacional”

foto: Paulo Filgueiras/Estado de Minas
Na década de 1960, o Cruzeiro conquistou o Campeonato Brasileiro sobre o Santos de Pelé, com uma goleada por 6 a 2, no primeiro jogo, no Mineirão. Nos anos 1970, consagrou-se internacionalmente com o título da Copa Libertadores sobre o River Plate. Mas a década seguinte foi marcada por decepções. Sem títulos de expressão, o clube viu o crescimento do rival Atlético, que foi hexacampeão mineiro, de 1978 a 1983.

Com a eleição de César Masci à presidência, o Cruzeiro alcançou o protagonismo de décadas passadas. Conquistou títulos importantes e contratou jogadores de prestígio. O nome de maior repercussão na época foi o de Renato Gaúcho. Mesmo ficando apenas quatro meses, ele fez história. Em uma das atuações mais brilhantes, na final do Campeonato Mineiro contra o América, marcou três gols.

“Fizemos ótimas contratações. Lembro-me do Charles, Mário Tilico, Boiadeiro, Luizinho, Douglas, Dida, Renato Gaúcho... foram muitos. Procuramos trazer jogadores à altura do clube. O Cruzeiro era um time grande e por isso precisava de grandes jogadores”.

Masci explica a receita para contratar sem onerar os cofres: “Nós nunca fizemos negócios inviáveis, que comprometesse os recursos. Para isso, observávamos bem o mercado", afirma. "O Renato Gaúcho, por exemplo. Ele estava em litígio com o Botafogo. Sabendo disso, fizemos uma boa proposta. Não pagamos pelo passe, apenas os salários”, complementa.

Na época, o Cruzeiro mantinha uma administração equilibrada. “Tínhamos um grupo grande de associados que contribuía regularmente e bom público nos jogos, que permitiam pagar a folha salarial em dia”, explica.

Masci, que sucedeu os irmãos Benito e Salvador na administração, ressalta o empenho da família para regularizar a situação financeira do clube. “Quando chegamos, funcionários e jogadores estavam na Justiça. Em algum tempo, saneamos tudo. Pagamos todas as dívidas. Deixei o Cruzeiro com salários em dia e com um grande time”.

Ronaldinho: “Venda fenomenal”

foto: Washington Alves/EM/D.A Press
Sem espaço nas grandes equipes cariocas, Ronaldo chegou ao Cruzeiro em 1993. Aos 16 anos, fez sua estreia. “Ele veio com 50% dos direitos. O restante era de uma sociedade do Reinaldo Pitta e Alexandre Martins. O Cruzeiro comprou primeiro 25% por 250 mil dólares, e, depois, o restante por 1 milhão de dólares”, recorda.

Mesmo ainda jovem, Ronaldo já era um dos destaques do time. No Campeonato Brasileiro de 1993, marcou 12 gols em 14 partidas. Em um jogo memorável, assinalou cinco gols contra o Bahia – um deles, roubando a bola do goleiro Rodolfo Rodríguez.

No ano seguinte, foi artilheiro do Campeonato Mineiro, com 22 gols. Convocado à Seleção Brasileira para Copa do Mundo teve seu passe valorizado. No Cruzeiro, marcou 56 gols em 58 partidas antes de ser vendido ao PSV.

“Vendemos por 6 milhões de dólares. Naquela época foi uma venda maravilhosa. Um garoto de 17 anos ser vendido por esse valor era surreal. O Rai do São Paulo, dois meses antes, foi vendido por dois milhões e meio de dólares. E ele era o maior nome do futebol brasileiro. Era o camisa 10 da Seleção”, justifica.
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