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Wright, sobre Atlético e Flamengo: "Não me arrependo de absolutamente nada"

Ex-árbitro terminou partida decisiva, pela Copa Libertadores de 1981, ao expulsar cinco jogadores do Atlético - Éder, Reinaldo, Palhinha, Chicão e Osmar Guarnelli

09/10/2012 08:00 / atualizado em 16/02/2022 10:36
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Nos quase 20 anos de carreira, José Roberto Wright atingiu marcas importantes. Arbitrou oito decisões do Campeonato Brasileiro e duas da Copa Libertadores. Em 1990, foi considerado pela Federação Internacional de História e Estatísticas do Futebol (IFFHS) o melhor árbitro do mundo.

Por outro lado, também não lhe faltaram episódios controversos. O maior deles ocorreu em partida decisiva entre Atlético e Flamengo, pela Copa Libertadores de 1981, em Goiânia.

Longe da televisão desde o início do ano - seu contrato com a rede Globo não foi renovado -, Wright, em entrevista exclusiva ao Superesportes, comentou sobre a polêmica atuação no duelo entre Atlético e Flamengo, a frustração de não arbitrar uma final de Copa do Mundo e o período como comentarista.

Atlético x Flamengo

Wright aplica cartão em Toninho Cerezo
foto: Jorge Gontijo/EM/D.A Press

Wright aplica cartão em Toninho Cerezo



Após decidirem o Campeonato Brasileiro de 1980, com vitória do Flamengo por 3 a 2 sobre o Atlético, no Maracanã, os dois clubes voltaram a se enfrentar no ano seguinte pela Copa Libertadores. Na primeira fase, resultados iguais no Mineirão e no Maracanã, 2 a 2.

Na ocasião, mineiros e cariocas ficaram empatados em números de pontos pelo Grupo 3. O antigo regulamento da competição previa vaga à fase final apenas ao campeão de cada chave. Dessa forma, um jogo extra, em uma cidade neutra, teve que ser realizado.

Depois de muita negociação, Goiânia, preferida pelos dirigentes rubro-negros, foi escolhida. O Atlético, por sua vez, sugeriu o árbitro: José Roberto Wright, que já havia mediado a primeira partida entre os clubes na competição, no Mineirão.

Wright descreve o clima que precedeu o confronto decisivo. “Criaram uma atmosfera muito pesada. O então presidente do Atlético, Elias Kalil, que foi um grande dirigente, ferveu o jogo. Insuflou o time e a torcida”, conta.

Em 21 de agosto de 1981, o Serra Dourada recebeu mais de 70 mil torcedores. A expectativa de uma grande partida - já que Atlético e Flamengo eram a base da Seleção Brasileira -, transformou-se em frustração depois de 37 minutos.

Policiamento entra em campo
foto: Jorge Gontijo/EM/D.A Press

Policiamento entra em campo

Wright expulsou cinco jogadores do Galo (Éder, Reinaldo, Palhinha, Chicão e Osmar Guarnelli), encerrando a partida por falta de número mínimo de atletas. Aos 20 minutos, Reinaldo acertou um carrinho lateral em Zico, no meio-campo, e recebeu o cartão vermelho. Minutos depois, Éder também foi expulso. “Ele me ofendeu”, alega Wrigth. Revoltados, dirigentes e integrantes da comissão técnica do Atlético invadiram o campo. Na confusão, Palhinha e Chicão também foram colocados para fora.

Aos 35 minutos, a partida recomeçou. Dois minutos depois, Wright expulsou Osmar Guarnelli. “O jogo estava descambando para a agressão. Poderia comprometer fisicamente os atletas. Mas antes da primeira expulsão eu já tinha deixado claro para os dois capitães que o primeiro que desse um pontapé eu colocaria para fora”, justifica.

Inconformados com o fim da partida, os torcedores que lotavam o Serra Dourada vaiaram o árbitro e queimaram bandeiras nas arquibancadas. Wright não se arrepende da forma como conduziu a partida. “Não me arrependo de absolutamente nada. Fiz tudo neste jogo e na minha carreira de maneira limpa. Me orgulho de ter feito aquilo que realmente deveria ter feito. Era o que minha condição moral exigia”, afirma.

Indagado por que apenas jogadores do Atlético foram punidos com o cartão vermelho, ele admite que poderia ter sido mais rígido com os rubro-negros, mas em apenas um lance. “Talvez tenha cometido um erro. Quando o Atlético já estava sem quatro jogadores, poderia ter punido um atleta do Flamengo por um carrinho, uma entrada dura. Mas naquele momento achei que poderia aplicar apenas o cartão amarelo. A verdade é que não faria diferença porque o clima entre os jogadores do Atlético era de guerra”, observa.

Terminar uma partida por falta do número minimo de jogadores, não era novidade para Wright. “Já tinha acabado com um jogo da Copa Libertadores entre Jorge Wilstermann e Olímpia. Expulsei acho que seis jogadores do Wilstermann”, afirma. “Eu nunca abri mão da disciplina, por isso consegui ter a projeção que eu tive”, completa.

Lances do jogo em 81
foto: Jorge Gontijo/Estado de Minas

Lances do jogo em 81

O Flamengo foi declarado vencedor do confronto e avançou na Copa Libertadores. Chegou à final contra o Cobreloa. Após vencer o primeiro jogo (2 a 1) e perder o segundo (1 a 0), conquistou o título, com vitória por 2 a 0, no Estádio Centenário, em Montevidéu-URU.

Carreira

Professor de educação física, José Roberto Wright participou do curso de arbitragem sem nenhuma perspectiva de seguir a carreira nos gramados. “Fiz para ter um diploma a mais porque no concurso público para professor quanto mais diploma você tivesse, aumentava as chances de obter uma vaga”, conta.

O bom desempenho, contudo, o fez mudar de ideia, e em pouco tempo arbitrou seu primeiro jogo: Flamengo x Botafogo. “Foi em 1974. Um clássico com mais de 100 mil pessoas no Maracanã”, orgulha-se.

Entre as partidas mais importantes, Wright relembra com carinho da final em que o mundo descobriu Diego Armando Maradona. “Foi em 1979, a final do Campeonato Mundial Júnior, entre Argentina e URSS, no Japão. Essa foi a competição em que Maradona despontou, ganhou projeção internacional”, diz.

Com um estilo rigoroso, como ele mesmo se descreve, arbitrou decisões de grandes campeonatos. O sonho de uma final de Copa do Mundo, contudo, não foi realizado. No Mundial de 1990, apitou a semifinal entre Inglaterra e Alemanha. “A Alemanha já tinha perdido duas Copas do Mundo com árbitros brasileiros. Em 1982, o Arnaldo César Coelho apitou Itália e Alemanha, e em 1986 o Romualdo Arppi Filho arbitrou Argentina e Alemanha. E eles vetaram o terceiro porque se não declarariam uma guerra contra o Brasil”, brinca.

“Fiquei frustrado. Porque naquele momento, tinha sido o árbitro com mais jogos em uma só Copa. Foram quatro. Com a final, seriam cinco. Estava preparado para a decisão. Treinei e me dediquei muito. E ficar fora de uma final por uma questão política é duro”, diz.

O árbitro José Roberto Wright
foto: Divulgação

O árbitro José Roberto Wright

Wright também protagonizou momentos inusitados em campo. Em 1982, arbitrou a final do Campeonato Carioca com um microfone escondido na camisa com o intuito de expôr os diálogos e a relação entre árbitro e atletas. A rede Globo veiculou o áudio, causando grande indignação nos jogadores, que o denunciaram à Justiça Desportiva. À época, ele foi suspenso. Encerrou a carreira em meados da década de 1990.

Aposentado, recebeu convite para ser comentarista de arbitragem. “O jornalista carioca Luiz Penido me convidou para participar da Copa do Mundo de 1994 pela rádio Nacional. Também participei de debates esportivos na TV Educativa. Em 1997, Luiz Fernando Lima, diretor da Globo, me convidou para integrar o time da emissora. Com muita satisfação, fiquei por 15 anos na Globo”, resume.

ASSISTA AOS LANCES POLÊMICOS DA PARTIDA ENTRE ATLÉTICO E FLAMENGO


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