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Ex-zagueiro João Carlos recorda tempos de Cruzeiro e curte volta ao futsal

Ao Superesportes, ex-zagueiro da Raposa contou a transição do futebol para o futsal em Sete Lagoas e recordou a trajetória no time celeste

14/09/2022 05:00 / atualizado em 13/09/2022 17:58
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Ex-zagueiro do Cruzeiro, João Carlos foi o convidado da semana no Por Onde Anda?
foto: Superesportes

Ex-zagueiro do Cruzeiro, João Carlos foi o convidado da semana no Por Onde Anda?



Aos 50 anos, o ex-zagueiro João Carlos, com passagens marcantes por Cruzeiro e Corinthians, contou a atual rotina como técnico de futsal em Sete Lagoas e recordou alguns momentos especiais na carreira. Em participação no quadro Por Onde Anda?, do Superesportes, ele falou detalhadamente sobre as três passagens pela Toca da Raposa, e explicou como deixou de ser treinador de campo.


 
João Carlos trabalha atuamente na Câmara Municipal de Sete Lagoas e ainda dá aulas de futsal em uma escola particular para crianças de 6 a 14 anos. O esporte da 'bola pesada' sempre foi uma de duas paixões na infância e na adolescência.

No entanto, ele atuou como técnico de campo entre 2006 e 2021. Nesse período, comandou Poços de Caldas, Juventus-RS, Cristal-AP, Formiga, Guaxupé, Patrocinense, Minas Boca, Nacional de Muriaé e Villa Nova.

Mas foi no Poços de Caldas, o Vulcão, o seu melhor momento. 

"Foi tudo muito rápido. Logo que me aposentei como atleta profissional eu fui auxiliar do Zezito no Democrata-SL. Apareceu uma oportunidade para ele no Poços de Caldas. Como ele estava no Democrata, acabou me indicando. Ele me perguntou se eu dava conta, eu falei que meu sonho era ser treinador. Eu era muito curioso, conversava muito com treinadores, a respeito dos treinos, tática", disse.

"Acabei indo para o Poços de Caldas. Fomos muito felizes, subimos o time, levei comigo o Maurício, ex-goleiro que jogou comigo no Corinthians. Foi uma primeira oportunidade muito boa. Subimos da Terceira para a Segunda Divisão", relembrou João.

Prioridade para a família


No entanto, a distância da família fez com que João desse uma pausa na carreira em 2016, após passagem no Nacional de Muriaé. Ele voltou ao futebol no ano passado, quando foi auxiliar técnico de Paulinho Guará no Democrata-SL, mas decidiu encerrar o ciclo de vez pouco tempo depois. 

"Foram 12 anos como treinador e eu acabei tendo que interromper essa carreira por causa da família. Minha esposa estava me cobrando muito. Esse início é complicado porque você não tem muitas condições. Iniciamos em um clube menor, então não tem como levar a família como em clubes grandes. Ela ficava em casa, em Sete Lagoas, e eu trabalhando lá. Eram mais de 700 km de distância, e ela me cobrava muito isso. Eu acabei dando um tempo para cuidar da família", explicou o ex-jogador. 

Início complicado no Cruzeiro


João Carlos foi contratado por empréstimo pelo Cruzeiro em 1994, após quatro temporadas no Democrata-SL, clube que o revelou. No entanto, com a disputa acirrada na zaga celeste, retornou para Sete Lagoas ainda naquele ano.



"Faltando duas rodadas (para o fim do Estadual), o Cruzeiro me devolveu para o Democrata-SL. Eu voltei para Sete Lagoas, e tinham alguns comentários que eu não teria ficado por causa da bebida - o que não procedia. (...) Eu virei para minha mãe e falei, 'vou trabalhar para voltar para o Cruzeiro. Eu não fiquei por falta de oportunidade", recordou João.

Em 1995, o ex-zagueiro foi cedido por empréstimo ao Democrata-GV, fez uma boa Série B do Campeonato Brasileiro e foi chamado por Moraes, então diretor de futebol do Cruzeiro e ex-técnico de João.

Apesar do apoio do dirigente, foi novamente emprestado pelo Democrata-SL ao Mamoré no início de 1996, mas já apalavrado para retornar à Raposa.

"O Levir (Culpi, técnico do Cruzeiro na época) falou, 'nós vamos te observar, se você for bem, vem para cá, senão, caça seu rumo'. Eu fiz um campeonato (Mineiro) muito bom. Tinham uns jogadores que gostavam da noite, e eu segurava", contou o ex-atleta, que seria finalmente integrado ao elenco do Cruzeiro após a disputa do Estadual.

João Carlos, ex-Cruzeiro



João Carlos assume a titularidade

Apesar de fazer parte do grupo celeste na conquista da Copa do Brasil de 1996, João Carlos pouco atuou naquela campanha. Ele teve mais oportunidades apenas no fim da Copa Libertadores de 1997, quando começou a ser opção no banco de reservas graças aos muitos desfalques do time.

"Passei muita dificuldade no Cruzeiro, no meu início. Veio o Paulo Autuori, e ele não me conhecia. Ele me afastou do plantel, me deixou treinando sozinho. Foi bom (por um lado) porque eu treinava e me condicionava", revelou.

"Chegou um momento na Libertadores que faltou jogador para ir para o banco, havia muitos suspensos. O Autuori falou 'não tem jogador,' e o Benecy Queiroz (então supervisor) respondei, 'tem sim, está correndo lá, está inscrito na Libertadores'. O Autuori me chamou para o plantel, e dali para frente tive a felicidade de jogar. Fui jogar mesmo quando terminou a Libertadores. Estava no Brasileiro, o time não estava bem, e o treinador já era o Nelsinho Baptista, foi onde ele me viu", recordou João.

A partir da chegada de Nelsinho, João se tornou titular absoluto na zaga celeste. O ex-jogador recorda que, após um empate em 0 a 0 com o Grêmio no Olímpico, em Porto Alegre, o técnico o elogiou bastante e garantiu que seria essencial para a equipe. 

No vestiário, ele (Nelsinho) reuniu todo mundo e falou, até arrepiei, 'hoje eu só tenho um titular, que é o João Carlos'. Eu nunca esperava ouvir isso. Eu olhei e perguntei, por quê? Ele falou 'não me questiona, o que você fez hoje aqui, é titular'", contou João Carlos.
 
Em 1997, João fez parte do time campeão da Libertadores e vice do Mundial, com a derrota por 2 a 0 para o Borussia Dortmund, da Alemanha. Já no ano seguinte, alternou momentos como titular e reserva a partir da chegada do técnico Levir Culpi.

João Carlos acredita que o então comandante da Raposa estava esperando apenas uma brecha para escalar Marcelo Djian, o que acabou ocorrendo após alguns jogos. 

"Eu falo até hoje com meus amigos, eu era o zagueiro reserva que mais jogou. Eu iniciei o Mineiro como titular, no último quarto do Estadual, o Levir acabou me tirando e colocando o Marcelo Djian. Mas sabe quando você sente que o treinador está querendo trocar, mesmo você estando bem? Eu falava isso no grupo, não por briga, porque eu me sentia bem, estava em um dos meus melhores momentos, mas eu falava", disse. 

O Cruzeiro de 1998 tinha um timaço e contava com nomes como Dida, Gottardo, Marcelo Djian, Gilberto, Ricardinho, Valdo, Djair, Marcelo Ramos, Müller, Alex Alves e Fábio Júnior.

Naquele ano, João Carlos participou das finais da Mercosul, contra o Palmeiras, e do Campeonato Brasileiro, contra o Corinthians, e ficou de fora da decisão da Copa do Brasil, também contra o Palmeiras. A Raposa foi 'tri-vice' nos torneios.

João Carlos deixou o clube celeste em 12 de julho de 1999, vendido ao Corinthians. No negócio, o clube paulista pagou US$ 4 milhões ao Cruzeiro e ainda cedeu em definitivo para os mineiros o zagueiro Cris. 

Última passagem pelo Cruzeiro

 
Após conquistar um Brasileiro (1999), um Mundial de Clubes (2000) e um Paulista (2001) pelo Corinthians, João Carlos retornou ao Cruzeiro em 2001 para sua última e rápida passagem pela Toca.

Ele lembra que, na ocasião, já estava acertado verbalmente com o Internacional, mas, quando recebeu o convite do Cruzeiro, não teve dúvidas em aceitar. 
 
"O Daniel (Pereira, empresário) falou que estava fechado com o Inter. Eu falei, beleza. À noite, ele me ligou falando que tinha um problema, que o Cruzeiro me queria. O Cruzeiro iria viajar para disputar um torneio no México, o treinador era o (Paulo César) Carpegiani, que me queria lá. Eu falei para agradecer ao Inter, de coração, mas que iria voltar para o Cruzeiro", recorda.

João voltou a integrar um time repleto de estrelas: Sorín, Rincón, Edmundo, Alex, Ricardinho, Cris, Luisão, Oséas, Marcelo Ramos, Jackson, Geovanni, Müller, Marcelo Djian, Jussiê, dentre outros.
 
João Carlos deixou o Cruzeiro em 2002 para defender o Cerezo Ozaka, do Japão. Ao todo, foi tetracampeão mineiros (1994, 1996, 1997 e 1998), campeão da Copa do Brasil (1996), da Copa Libertadores (1997) e da Recopa Sul-Americana (1998).
 
O defensor fez 96 jogos com a camisa cruzeirense. Ele também conquistou a Copa América de 1999 com a Seleção Brasileira e passou por Botafogo, Paysandu e Democrata-SL antes de encerrar a carreira em 2006 no Ipatinga, após descobrir uma arritmia cardíaca, que está controlada atualmente. 

Por Onde Anda? 

O Por Onde Anda? é um quadro quinzenal publicado no Superesportes e no YouTube do Portal UAI. Nele, são entrevistados ex-jogadores e ex-técnicos de América, Atlético e Cruzeiro que estão aposentados ou em mercados alternativos do mundo da bola. 

Nesta semana, João Carlos também recordou o ambiente ruim no Cruzeiro no Mundial de Clubes e 1997, contou bastidores exclusivos do time do Corinthians entre 1999 e 2000, entre outros casos inéditos. Veja a entrevista na íntegra:



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