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Maidana lembra depressão, passagem pelo Atlético e analisa fase no América

Recém-recuperado de lesão no tornozelo, zagueiro Iago Maidana conversou com o Superesportes e falou sobre a carreira, além do momento no Coelho

26/04/2022 18:30
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Iago Maidana, zagueiro do América, relembrou depressão em entrevista exclusiva ao Superesportes
foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press

Iago Maidana, zagueiro do América, relembrou depressão em entrevista exclusiva ao Superesportes


O zagueiro Iago Maidana, recém-recuperado de lesão no tornozelo, vive momento positivo no América. Titular no Coelho, o defensor marcou seus dois primeiros gols com a camisa verde e preta justamente na goleada por 4 a 1 sobre o Juventude, pela 2ª rodada da Série A do Campeonato Brasileiro, quando se machucou. Em entrevista exclusiva ao Superesportes, Maidana falou sobre a fase no clube mineiro, a passagem pelo rival Atlético e a depressão - doença com a qual conviveu nas categorias de base do São Paulo.
 
 

Na visão de Maidana, o América será um dos maiores clubes do Brasil em alguns anos. O defensor acredita que o clube tem processos bem definidos e uma ideia-base de jogo já consolidada nos últimos anos. Ele também falou sobre a troca recente no comando técnico, com a saída de Marquinhos Santos e o retorno de Vagner Mancini.

Além disso, Maidana conversou com o Superesportes sobre um tema delicado: a depressão. Em 2015, o zagueiro teve de enfrentar a doença quando ainda atuava pelas categorias de base do São Paulo. Ele enfatiza que o tema precisa ser mais debatido no meio do futebol. Por fim, o atleta falou sobre a passagem no Atlético, rival do Coelho.

Leia, na íntegra, a entrevista com Iago Maidana


Superesportes - Vamos começar falando sobre o seu momento e o do América. Em sua primeira participação na história na Libertadores, o Coelho já construiu uma jornada épica ao chegar à fase de grupos depois de classificações memoráveis. O que representa para um atleta profissional de futebol participar de um momento como esse na história de um clube? Coletivamente, quais são os principais objetivos da equipe esse ano?

"É uma sensação incrível. Eu, como atleta, em todos os clubes que passei, procurei deixar meu nome na história de algum modo. Em todos os clubes que passei, consegui deixar esse legado. Aqui não está sendo diferente. Está sendo até muito rápido (risos), porque eu cheguei esse ano. Faz três, quatro meses que eu cheguei, e a gente já tem essas classificações históricas, esse momento épico do clube, de estar participando de uma fase de grupos de uma Libertadores. Isso é uma história que nunca ninguém vai conseguir apagar. É muito gratificante. A gente busca sempre isso. Nós, jogadores, somos motivados por isso, por esses objetivos e sonhos. A gente comprar essa ideia do clube foi excepcional. Estamos jogando uma competição internacional por um clube que está crescendo, está se estruturando e, daqui uns anos, vai ser um dos maiores clubes do Brasil, com certeza. Sobre os objetivos: a gente tem os objetivos muito claros na nossa mente. É um ano muito desafiador para nós. Um ano em que a gente tem um Campeonato Brasileiro muito equilibrado, também tem a Libertadores (em que a gente quer continuar fazendo história), a Copa do Brasil (que é uma competição que o clube já está acostumado, chegou nas semifinais e sabe como jogar). Os objetivos são muito claros, e a gente vai trabalhar para conquistar todos eles."

Superesportes - Nesse curto período de América, você já presenciou uma mudança no comando técnico. Na sua avaliação, o que não vinha encaixando tão bem com Marquinhos Santos e foi aprimorado com Mancini nesse início? A falta de confiança também pesava para as más atuações que a equipe vinha apresentando?

"Uma troca de comando é sempre muito complicada, né? Internamente, entre os jogadores, a gente se cobra muito por conta disso. A gente tem uma parcela de culpa. Às vezes, até, o comando nem é tão culpado de uma fase complicada. Às vezes, nós atletas não conseguimos desenvolver, talvez, tecnicamente, em um jogo. As coisas também não dão certo em algumas partidas. Foi o que aconteceu nas duas partidas que o Marquinhos comandou [contra Independiente del Valle e Avaí]. Até então, a gente estava vindo bem, fazendo história como fez na Libertadores. A gente tem uma parcela muito grande de culpa nisso também. Às vezes, não ter a concentração ideal ou estar num dia ruim e não conseguir demonstrar o que a gente vinha treinando. É muito complicado, mas agora é página virada e a gente entende que precisa evoluir o mais rápido possível, porque esse ano são muitas competições. Competições que vão exigir quase que perfeição para a gente atingir o objetivo que quer."

Superesportes - Uma equipe que joga com linhas mais altas, como o América na maior parte do tempo nos jogos, enfrenta mais riscos para controlar a profundidade defensiva. O Coelho, inclusive, sofreu dois gols em erros neste aspecto contra o Independiente del Valle, na Libertadores. Qual tem sido o trabalho feito por Mancini com a linha defensiva para aprimorar o time nesse sentido?

"Todos nós sabemos dos riscos que esse estilo de jogo nos oferece, mas são riscos que a gente entende que podem nos criar muitas chances de gols e até gols. Foi o que aconteceu ano passado, pelo que eu acompanhava do América. O América sempre teve essa identidade, e esse ano não está sendo diferente - tanto na Libertadores quanto em outros jogos. A gente teve essa consciência desse estilo de jogo e comprou essa ideia. São riscos que a gente corre, que, às vezes, não dão certo, como no jogo contra o Independiente del Valle. Mas tem jogos que dão certo, e a gente consegue ter um controle maior da partida. Então, acredito que pode nos levar a grandes vitórias nas competições que a gente vai jogar. É claro que tem a questão de treinamento, principalmente treinamento individual de jogadores. Nós, por exemplo, da defesa, vimos treinando muito esse controle da profundidade, posicionamento corporal, porque a gente sabe que é um estilo de jogo que a gente vai levar para o ano inteiro e pode trazer muitas dificuldades para os adversários também."
 
 

Superesportes - Você se destaca também pela presença ofensiva, anotando muitos gols - inclusive, terminou o Campeonato Brasileiro de 2020 como o zagueiro que mais balançou as redes. Na sua opinião, no futebol dos tempos atuais, qual o peso da participação do zagueiro no momento ofensivo? Com a bola nos pés, saber construir bem é um diferencial ou já passou a ser uma obrigação?

"Hoje em dia, com a evolução tática e técnica do futebol, é obrigação um zagueiro ter a capacidade de construir jogo, de ser decisivo também lá na frente. Você vê que os zagueiros estão cada vez mais fazendo gols, e esse sempre foi um diferencial na minha carreira. Em todos os clubes em que passei, consegui fazer gols. Acredito que isso, além de ter um destaque, é fundamental para a equipe. Além de um atacante ou um meia, um zagueiro pode decidir um jogo. Isso dá mais confiança, tanto para o elenco quanto para o clube, para a torcida também. Entender que, se o dia não está bom para o atacante, o zagueiro pode, talvez, em uma bola, decidir. Sempre tive essa facilidade. Posso até dizer essa intimidade (risos), de fazer gol. Espero que possa ajudar cada vez com mais gols - assim como foi em 2020 no Sport. Fui o artilheiro da equipe no Campeonato Brasileiro e foi essencial para que a gente conseguisse ficar na primeira divisão naquele ano. As coisas estão mudando, e o zagueiro precisa ter a capacidade e a qualidade de demonstrar isso para que ajude a equipe a ter bons momentos e também a decidir jogos."

Superesportes - Ainda nas categorias de base do São Paulo, você passou a vivenciar a dura realidade de uma depressão, mas venceu a doença principalmente com a força da família. Vamos falar sobre o lado humano do jogo: para um atleta que ainda buscava se firmar como profissional, como foi lidar com a pressão natural do esporte enquanto enfrentava a depressão? Em sua avaliação, o meio do futebol, de modo geral, ainda discute pouco sobre o tema?

"A depressão é muito delicada. Acredito que muitos jogadores de futebol sofrem, mas muitos não assumem que têm um quadro de depressão. Isso é muito pesado, porque a depressão é algo muito sério. Acredito que para nós, atletas, é muito mais difícil de lidar. Uma pessoa 'normal', talvez, consiga lidar melhor com a situação. Para nós, jogadores, é muito complicado, porque além da pressão familiar, a gente tem a pressão de clube e torcida, que pessoas comuns não têm. É muito delicado de falar. Eu tive e não foi fácil. Creio que o tema deveria ser mais falado no nosso meio. Hoje em dia, a gente vê muitos casos de ofensas de torcedores, muitos casos de ameaças - inclusive de morte. São coisas que, às vezes, você pega um jogador que está em depressão e recebe esse tipo de mensagem, com certeza piora ainda mais o quadro. É muito complicado, muito delicado. Creio sim que deveria se falar mais sobre o tema, porque pode ter certeza que 60, 70% dos jogadores já teve, ou ainda tem um quadro pequeno de depressão."
 
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Superesportes - Dois anos após deixar o Atlético, você enfrentou o ex-clube pela primeira vez em um jogo de Libertadores. Quais são as principais diferenças do Maidana como atleta profissional da passagem pelo Galo para o Maidana com a camisa do Coelho? Neste sentido, o Atlético também mudou de patamar e conquistou títulos. Como você vê a ascensão do rival do América no cenário nacional?

"Muito bacana voltar a ver meus amigos que ainda estão lá no Atlético e agora enfrentá-los depois de ter tido uma passagem lá. Eu acho que é muito importante para o futebol ter dois representantes de Minas Gerais numa competição tão grande como a Libertadores. Ter o clássico, acho que foi muito importante e está sendo muito importante. Isso só mostra a grandeza dos clubes. O América, que vem em uma ascensão gigantesca. A gente com certeza está mudando de patamar. Com certeza, daqui uns anos, vai ser um dos maiores do Brasil, até porque está se estruturando e está com uma administração muito boa para que isso aconteça. Então, é muito bacana ter esse tipo de jogo em uma competição como a Libertadores. Sobre a diferença entre o Maidana de dois, três anos atrás, para o de agora: acredito que a maturidade e a experiência, como é normal de um jogador. Quando eu saí do Atlético, saí com 22 anos; cheguei com 21... Muito novo. Tive sequência, joguei Campeonato Brasileiro. Talvez, não tive as oportunidades que eu deveria ter, mas são águas passadas, páginas viradas. Hoje, estou muito feliz aqui no América e acredito que eu tenho muita história para escrever aqui. A gente vai atingir muitos objetivos ainda esse ano e, com certeza, dar muitas alegrias ao torcedor americano."

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