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Atlético 114 anos: presidente busca fórmula para equilibrar time e finanças

Em entrevista exclusiva ao Superesportes, Sérgio Coelho explica dívida do clube e tentativa de reduzí-la ao mesmo tempo em que mantém time vitorioso

25/03/2022 04:00 / atualizado em 25/03/2022 01:33
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Em entrevista ao Superesportes, Sérgio Coelho falou sobre os planos para o Atlético
foto: Pedro Souza/Atlético

Em entrevista ao Superesportes, Sérgio Coelho falou sobre os planos para o Atlético

Time multicampeão e dívida altíssima. A fórmula do insucesso, repetida quase incessantemente no futebol brasileiro, serve de alerta para o Atlético. Neste 25 de março de 2022, o clube completa 114 anos em um dos momentos mais vitoriosos de sua história. Ao mesmo tempo, busca soluções para a dívida bilionária, fruto de décadas de administrações que priorizaram o campo e minimizaram as finanças. Nesse cenário quase contraditório (time forte e débito alto), o Galo conta com aportes financeiros vultosos de empresários e faz planos para, em pouco tempo, manter-se vitorioso nas quatro linhas e ser autossustentável fora delas.

"O planejado (para o novo ano de vida do Atlético) talvez seria o óbvio: resultados importantes dentro de campo, e a gente tem conseguido isso. A parte financeira é um problema um pouco complicado, a nossa dívida é muito alta. Mas também está sob controle", diz o presidente Sérgio Coelho, em entrevista exclusiva ao Superesportes, publicada na íntegra no aniversário do clube. 


Eleito para comandar o clube entre 2021 e 2023, o mandatário é um dos principais responsáveis por buscar soluções financeiras. Com ele, o vice José Murilo Procópio e os 4R's (os empresários Rubens Menin, Rafael Menin, Ricardo Guimarães e Renato Salvador) formam o órgão colegiado que administra o clube em todas as suas instâncias.

"Vamos fazer uma reunião no próximo dia 31 de março no Conselho (Deliberativo), uma assembleia, para que a gente possa apresentar aos conselheiros a situação financeira com muita transparência e, às vezes, nessa reunião, buscar alguma alternativa para que a gente possa melhorar o nosso problema", prosseguiu o presidente.

Juntos, os integrantes do órgão colegiado planejam mudanças patrimoniais significativas para o clube. Na reunião da próxima quinta-feira, vão apresentar a ideia de vender 49,9% do Diamond Mall, shopping na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, por pelo menos R$ 300 milhões. O valor seria direcionado ao pagamento de dívidas que geram juros anuais de R$ 50 a R$ 60 milhões, segundo os cálculos da diretoria.

"Isso daí não tem que estabelecer prazo. Você tem é que iniciar uma conversa, mostrar, e aí você sente se é vontade ou não do Conselho. Se for vontade do Conselho, a gente leva à votação. Se a gente perceber que o Conselho não quer, vamos buscar outras alternativas", pontuou Sérgio Coelho.

 

Na reunião, ainda não vão falar sobre a intenção de transformar o clube em Sociedade Anônima do Futebol (SAF). O órgão colegiado tem feito estudos a respeito do tema, mas ainda não estabeleceu prazos para levá-lo à discussão com os conselheiros. Antes de qualquer coisa, o grupo quer entender o valor de mercado (valuation) do Atlético, estimado inicialmente em R$ 4 bilhões pela diretoria (dívidas mais patrimônios).

O cálculo atualizado sobre a dívida alvinegra (R$ 1,209 bilhão em 2020) ainda não foi concluído, mas deve ser divulgado até abril - mês em que o clube vai realizar a segunda edição do Galo Business Day, evento para apresentar as finanças ao público. Por outro lado, a diretoria crê que o patrimônio líquido aumentou no último ano. "Mesmo que a dívida não tenha baixado ou subiu um pouco, mas o patrimônio também, o ativo subiu", despistou.

Em campo


Técnico Antonio Mohamed foi elogiado pelo presidente do Atlético
foto: Pedro Souza/Atlético

Técnico Antonio Mohamed foi elogiado pelo presidente do Atlético



Ao mesmo tempo em que busca soluções financeiras para a dívida, o Atlético tenta manter o time forte e vencedor. Em 2021, o clube conquistou o Campeonato Mineiro, a Copa do Brasil e o Brasileiro. Este ano, já levou a Supercopa e está a um passo da decisão do Estadual, agora sob o comando do técnico Antonio Mohamed.

"É uma pessoa muito trabalhadora, uma pessoa de fino trato, muito tranquilo. Todos os atletas, todos os funcionários da Cidade do Galo gostam muito dele. É um treinador que está dando continuidade ao trabalho do Cuca. Até agora, só temos que elogiar 'El Turco' pelo que tem feito", elogiou Sérgio Coelho.

A intenção do clube é manter a base do elenco para brigar pelos principais títulos da temporada. Ao longo da conversa, o presidente revelou o desejo de continuar com os estrangeiros do grupo (inclusive Zaracho e Savarino, que têm mercado internacional), reafirmou a vontade de renovar com Eduardo Vargas e justificou o interesse em Cristian Pavón, apesar da denúncia de abuso sexual contra o atacante. Por outro lado, Sávio está mesmo de saída para o Grupo City. Já Tchê Tchê não necessariamente...

Leia (ou veja) a íntegra da conversa com Sérgio Coelho




Superesportes: Este seguramente é um dos períodos mais vitoriosos da história do Atlético, mas também é um momento muito complicado financeiramente, com uma dívida alta e necessidade urgente de recuperação. O que o senhor planeja para este novo ano de vida do clube dentro e fora de campo?

Sérgio Coelho: "O planejado talvez seria o óbvio: resultados importantes dentro de campo, e a gente tem conseguido isso. Conseguimos bons resultados ano passado, no início deste ano já conseguimos uma taça, a Supercopa. Estamos na semifinal do Campeonato Mineiro e vamos entrar tanto no Brasileiro, quanto na Copa do Brasil e na Libertadores, para ganhar, para ser protagonistas. Foi uma promessa de campanha que teríamos um time competitivo, que entraria em todos os campeonatos para ser o campeão. E isso a gente tem conseguido até o momento.

E o lado de gestão, tem a parte administrativa, já fizemos várias mudanças. Tem a continuidade nos trabalhos realizados pela gestão antiga, comandada pelo meu xará, o Sérgio Sette Câmara. As coisas evoluíram muito no último ano de gestão, o meu primeiro. Este ano, a gente continua com algumas mudanças, mas a casa está muito bem organizada, está tudo certinho.

A parte financeira é um problema um pouco complicado, a nossa dívida é muito alta. Mas também está sob controle. Vamos fazer uma reunião no próximo dia 31 de março no Conselho (Deliberativo), uma assembleia, para que a gente possa apresentar aos conselheiros a situação financeira com muita transparência e, às vezes, nessa reunião, buscar alguma alternativa para que a gente possa melhorar o nosso problema".

SE: No ano passado, durante o Galo Business Day, foi divulgado que a dívida do Atlético era de R$ 1,2 bilhão. Esse valor aumentou ou diminuiu neste intervalo de tempo? Qual o patamar atual das dívidas do Atlético?

SC: "Para falar de valores de uma dívida, a gente primeiro tem que fechar o balanço (de 2021). Nós não fechamos o balanço ainda. Então, eu fico um pouco desconfortável em dizer se aumentou ou não aumentou. Não seria prudente fazer esse comentário. Posso te garantir que faremos novamente o Galo Business Day, será o nosso segundo. Tudo será apresentado como são as coisas. A gente vai ter muita transparência em apresentar aquilo que o Atlético é hoje.

A nossa expectativa é que o nosso PL, que é o patrimônio líquido, será superior ao patrimônio líquido do ano de 2020. Isso significa que o Atlético, entre aspas, ficou 'mais rico', vamos dizer assim. Mesmo que a dívida não tenha baixado ou subiu um pouco, mas o patrimônio também, o ativo subiu, e esse patrimônio líquido vai ser maior com certeza".

SE: O que engloba o patrimônio líquido?

SC: "Contabilidade você divide em ativo e passivo. Então, você soma tudo o que você tem: dinheiro em caixa, quanto vale a arena, quanto vale a Cidade do Galo, o plantel do clube... Todos esses valores você coloca em uma coluna. E coloca na outra coluna todo o débito que você tem, que são dívidas com fornecedores, ações trabalhistas, por exemplo, etc. Aí você diminui um do outro e o que sobra é o patrimônio líquido".

SE: Quando será o segundo Galo Business Day?

SC: "Isso será feito em abril. Nós temos que entregar o balanço, apresentá-lo à Receita Federal. Nesse momento,  a gente faz o Galo Business Day. Vai ser um evento bacana, como foi no ano passado. É um momento que a gente tem de prestar contas a todos vocês do nosso trabalho, de como está o Atlético na atualidade".

SE: Na reunião em 31 de março, vocês pretendem levar questões sobre a SAF do Atlético? Há alguma programação sobre isso?

SC: "Não, não tem nada previsto para o Conselho. Não é assunto da pauta da assembleia. Nós temos dois assuntos: um é falar sobre o nosso endividamento e o segundo é falar sobre a Arena MRV. Sobre esse assunto da SAF, não tem nada previsto".

SE: Ainda sobre a SAF do Atlético. Qual o valor desejado pelo clube no mercado?

SC: "A gente tem que mandar fazer o valuation (avaliação de valor de mercado) do clube. É muito difícil falar de números sem ter certeza, porque cria-se uma especulação muito grande. Às vezes, você fala um número que pode ser muito alto e assusta um possível investidor ou você fala um número muito pequeno e acaba tendo aquele valor como referência, e ele passa a ser o valor a ser negociado e o clube pode ter algum tipo de prejuízo com isso. Então, falar de números é muito difícil, exceto quando se tem certeza".

SE: O arquirrival Cruzeiro virou SAF recentemente. Queria saber como é a sua relação com Ronaldo? O que pensa sobre o momento do Cruzeiro virando empresa?

SC: "Estive com o Ronaldo somente uma vez pessoalmente, numa reunião dos clubes que tivemos em São Paulo. É uma pessoa que todos nós conhecemos, foi um grande atleta, é uma pessoa muito respeitada, muito inteligente, muito capaz. Quanto ao nosso adversário, eu não quero fazer nenhum tipo de comentário, porque eu já tenho muito o que falar do Galo. Deles, falam eles".

SE: No Galo Business Day do ano passado, a venda de patrimônio estava na lista de possíveis fontes de receita já para 2021 e 2022. Quando vocês pretendem levar ao Conselho a discussão sobre a venda dos 49,9% restantes do Diamond Mall?

SC: "É até possível que este assunto esteja na reunião do dia 31. Nós temos 49,9% do Diamond, o que nos gera uma receita. Uma vez que a gente consiga vender esse ativo, nós pagaríamos uma dívida. Economizaríamos, hoje, em torno de R$ 50 milhões a R$ 60 milhões por ano. Qual é a razão disso? O que ele (o shopping) gera de receita para nós é muito menor do que o juros que a gente paga por manter o Diamond como ativo do Galo. 

Cabe a nós, gestores, levar esse assunto ao Conselho, que tira as suas conclusões. Os conselheiros analisam, são pessoas que sabem analisar esse tipo de negócio. O que o Conselho decidir, nós vamos cumprir. O que vai acontecer é isso."


SE: A ideia é votar sobre esse tema ainda este ano ou vocês não estabeleceram prazo?

SC: "Isso daí não tem que estabelecer prazo. Você tem é que iniciar uma conversa, mostrar, e aí você sente se é vontade ou não do Conselho. Se for vontade do Conselho, a gente leva à votação. Se a gente perceber que o Conselho não quer, vamos buscar outras alternativas. Mas é interessante que, se você perde R$ 60 milhões por ano, em seis anos você perde 50% do shopping. Então, o custo para manter esse ativo é muito alto. O Conselho deve pensar também dessa forma, vai se inteirar do assunto para tomar a decisão que achar que é o melhor para o Galo.

Somos 420 conselheiros. Nosso conselho é muito qualificado. Temos um Conselho de primeira categoria, o pessoal é muito correto, inteligente. Não são omissos. As pessoas têm opinião própria, falam, escutam, saber fazer as contas. Então, fico muito tranquilo em relação a isso".

SE: Por que o senhor mudou de ideia sobre o Diamond? Em 2020, durante a campanha, e no início de 2021, quando já era presidente, o senhor era contra a venda do shopping. O que lhe fez mudar de ideia?

SC: "Eu sempre usava um termo de que eu não era nem a favor e nem contra. Vamos lembrar o que eu dizia na ocasião: que eu, na minha vida particular, não gosto de vender patrimônio, mas que também, na minha vida particular, não gosto de ter dívida. Essa foi a frase que usei na ocasião. Então, essa é uma coisa que diverge da outra. Se você tem patrimônio e dívida... Não gosto nem de vender (patrimônio), nem de ter (dívida). Então, vamos dizer que estava em cima do muro, talvez? (risos).

Depois, como presidente, eu tenho a responsabilidade e até mesmo a obrigação de mostrar a situação financeira, nosso endividamento, para o Conselho. É obrigação minha mostrar primeiro ao Conselho, fazer o balanço e publicá-lo, a lei exige. E todos vão tomar conhecimento. Nós, tanto eu, quanto nossos companheiros de gestão (o meu vice José Murilo, os 4 R's, toda a nossa diretoria), temos que ter uma opinião do que deve ser feito para melhorar o endividamento. Não podemos ser omissos. Então, a gente vai apresentar isso ao Conselho, e o Conselho toma a decisão.

Fica claro que esta gestão, o presidente, não tem autonomia para vender o Diamond ou nenhum patrimônio imóvel do clube. Nós não podemos. Isso tem que ser votado pelo Conselho. Faço aqui uma observação importante: tem que ser dois terços do Conselho concordando. Se somos 420, precisamos de 280 votos a favor. Se na reunião estiverem 290 conselheiros, 280 precisam concordar. Não são dois terços dos presentes, são dois terços do Conselho. Se 250 conselheiros estiverem na assembleia e os 250 votarem para vender algum patrimônio do clube, não pode, porque precisa de no mínimo 280 (votos). O que cabe a esta gestão é fazer esse tipo de análise, apresentar ao Conselho e, juntos, a gente toma a decisão".

SE: No ano passado, o Atlético ganhou Mineiro, Brasileiro e Copa do Brasil. Neste ano, já conquistou a Supercopa. Você comanda o maior ou melhor Atlético da história?

SC: "É muito difícil. Primeiro, o presidente não comanda, ele faz parte de um grupo de pessoas que comandam, a importância que essas pessoas têm no Atlético. Tenho que valorizar muito os 4 R's, o José Murilo Procópio, todos os diretores, especificamente no futebol (Rodrigo Caetano), o diretor de futebol que, ao meu ver, é o melhor diretor de futebol do futebol brasileiro. É uma pessoa muito capaz. É exigente, tem hora que não é fácil atender tudo que ele quer. Mas é um cara de uma capacidade, de uma honestidade impressionante. Valorizo muito o trabalho dele, assim como de todos, comissão técnica, departamento de futebol, nosso CEO e toda a diretoria. É esse grupo que está gerindo o Galo. O presidente é apenas uma peça da engrenagem.

E quanto a ser o maior ou melhor time, prefiro que a torcida faça essa avaliação, vocês (imprensa) façam essa avaliação. A única coisa que posso afirmar aqui é que esse plantel é o que mais ganhou títulos no Atlético até hoje. Até porque são números, e os números ninguém vai questionar. Agora, se é o melhor plantel, o melhor time, acho que cada um tem uma opinião, a gente respeita todos. A gente teve grandes times no passado".

SE: Quanto o Atlético precisa pagar para comprar o restante do Zaracho junto ao Racing? Está nos planos de vocês?

SC: "Não existe um valor que o Atlético tem que pagar. O Atlético tem 50% do Zaracho. Se tiver interesse em comprar, temos que fazer uma proposta, não tem um número definido. Não está no contrato quanto o Atlético tem que pagar. O Atlético comprou 50% dele por 7,5 milhões de dólares. Não está escrito lá que o Atlético precisa pagar mais 7,5 milhões de dólares para comprar os outros 50%".

SE: Mas vocês chegaram a consultar o Racing sobre valores ou isso ainda não foi debatido?

SC: "Não foi debatido. A gente não procurou e nem devemos procurar, porque a nossa situação financeira está um pouco apertada, como todos conhecem. Fazer um investimento em um jogador que está conosco, está jogando e a gente não pretende negociar, não seria uma atitude boa para o Atlético".

SE: Agora falando sobre o Pavón... o Atlético já assinou o pré-contrato com ele? Como o clube lidou com as críticas sobre essa negociação, já que o jogador tinha uma acusação de violência sexual?

SC: "Falar de um jogador que tem contrato com outro clube eu não me sinto confortável. O Pavón tem contrato até o meio do ano com o Boca. É um jogador que pertence ao Boca neste momento. Seria deselegante da minha parte falar sobre ele.

Sobre a questão das críticas, o Cuca quando veio para cá recebeu mil e uma críticas. Nós fizemos nossa avaliação e achamos que deveríamos contratar. Especificamente as críticas em relação ao Pavón que a gente tem visto, é um jogador que não foi condenado, não tem nenhuma condenação, me parece até que o processo está sendo extinto. Vamos aguardar tudo, para um dia lá para frente voltar a falar sobre ele. É mais um bom jogador do Boca, mas ele ainda é jogador do Boca".

SE: Em relação ao Vargas, que não é titular absoluto mas está sempre entrando no time, fez um golaço recentemente. O contrato dele vai até o fim do ano. A gente sabe que as negociações pela renovação começaram. O que você pode falar sobre essa negociação? O Atlético está oferecendo quanto tempo de contrato ao Vargas? Qual a ideia de vocês sobre esse jogador?

SC: "O que posso falar do Vargas é que, tecnicamente, é um jogador fantástico. Ele não nos dá nenhum tipo de problema, muito trabalhador, muito tranquila a convivência com ele. É um grande profissional. É um jogador de seleção, um jogador que o Atlético tem interesse em renovar com ele. A gente vai tentar a renovação e tomara que consigamos. Por enquanto, não tenho nada mais a falar".


SE: Uma das pessoas que cuidam da carreira do Vargas é o empresário André Cury, que tem algumas pendências judiciais com o Atlético. As questões judiciais com ele atrapalham neste tipo de negociação? Existe algum impasse em cada conversa com ele em função desse impasse?

SC: "Eu nem conhecia o André, fiquei conhecendo agora. Tive algumas reuniões com ele para ver se a gente buscava uma solução. Ele sabe do nosso esforço para acertar com ele. Nós vamos acertar com ele, em algum momento vai dar certo. Eu não acredito que isso venha a ser um dificultador porque o Vargas está muito bem aqui, recebe o salário em dia, gosta do Atlético. Acredito que ele vá querer continuar aqui, está adaptado à cidade. Não acredito em retaliação por parte do André, até mesmo porque no futebol, em algum momento, você está com essa dificuldade para acertar, mas acertando as coisas voltam ao normal. O Atlético sabe da importância do André no cenário nacional no futebol. E o André sabe da importância do Atlético para os atletas que ele representa. Isso aí haverá uma solução, que seja em breve, se Deus quiser".

SE: Existe uma diferença muito grande entre o valor que o André Cury cobra na justiça e o valor que o Atlético acha que tem que pagar?

SC: Eu não vou dizer que é uma diferença. É uma negociação que você faz proposta, recebe contraproposta, negocia o valor, a forma de pagamento. É uma negociação que, as vezes, é um pouco demorada, é um valor muito alto. Nós já nos acertamos com alguns empresários. Tivemos um pouco de dificuldade, mas no final chegamos a um acerto. E com o Cury a gente chegará também. 

SE: O Tchê Tchê tem contrato só até maio e a gente sabe que a tendência é que ele não permaneça no clube. É essa a avaliação que vocês fazem? Já teve uma conversa com o Tchê Tchê para avisá-lo que ele não vai continuar? 

SC: "O treinador chegou há muito pouco tempo. Então, é preciso que o treinador tenha um tempo maior para avaliar a questão do Tchê Tchê continuar ou não. Acredito que daqui um mês será a hora de a gente falar sobre isso. Temos que saber também se o São Paulo quer que ele permaneça no Atlético, se o São Paulo vai reintegrá-lo ao clube, se o Tchê Tchê quer ou não. Esse assunto ainda não foi tratado por nós".

SE: O Sávio é uma das grandes promessas do Atlético nos últimos anos, mas está sendo vendido para o grupo City. Queria que você falasse um pouco sobre essa negociação e sobre o trabalho na base do Atlético, porque uma das principais joias do clube está sendo vendido sem muitas oportunidades. Como convencer empresários a trazerem jovens com grande potencial ao Atlético, sendo que um garoto com o potencial tão grande como o Sávio não conseguiu ser tão aproveitado no clube?

SC: "O Sávio é um grande jogador. Ele foi aproveitado a partir do momento que ele foi para o elenco principal. Ele faz parte do elenco há muito tempo, são quase dois anos. Entendo que ele está sendo aproveitado pelo clube, teve diversas oportunidades. 

Quanto à base, estamos fazendo diversas mudanças. Estamos trabalhando a base desde o ano passado, são diversas fases de trabalho. Para se ter uma ideia, o Atlético tinha cinco observadores, captadores. Vamos passar a ter 41 no Brasil inteiro. Só para se ter ideia da ordem de grandeza do que estamos fazendo na base. Pretendemos fazer obras no CT para melhorar as condições de trabalho da base. Vamos investir muito. O Atlético é um gigante do futebol brasileiro. Então, os empresários querem os atletas aqui. 

Haja vista que, recentemente, a empresária do jogador Sandro, que rescindiu com o Santos, nos procurou para que a gente recebesse esse atleta. E nós recebemos. As coisas estão caminhando dessa forma. Os atletas, hoje, querem vir para o Atlético. O Atlético paga em dia, tem o melhor centro de treinamentos do Brasil. Quem não quer vir para o Atlético, um dos protagonistas do futebol brasileiro?"

SE: Sérgio, com o retorno de Alonso, o Atlético voltou a ter sete estrangeiros no elenco. O máximo permitido em competições nacionais é utilizar cinco de fora do Brasil. Nesse cenário, há planos de emprestar o Dylan ou vender Savarino ou Zaracho, por exemplo? Considerando que tem ainda a possível vinda do Pavón...

SC: "Todos esses jogadores citados, nós não temos o menor interesse que saiam do nosso plantel. São jogadores importantes. Acho que o treinador consegue trabalhar com sete estrangeiros. No ano passado tínhamos esse número também né? Isso dá para ir trabalhando. 

Falando especificamente do Dylan. O Dylan é um grande jogador, um atleta fantástico. Tenho certeza que vai dar muita alegria para nós atleticanos. Vamos deixar para que o treinador lide com isso, como conseguimos lidar no ano passado".


SE: O Turco Mohamed não estava entre as primeiras opções do Atlético na temporada, mas vocês se mostraram bastante empolgados com a conversa com ele nas reuniões, que ele se encaixou nas premissas da diretoria. Com pouco mais de dois meses dele na Cidade do Galo, qual a avaliação da diretoria sobre o trabalho do treinador?

SC: "Quando você diz que não era opção, veja bem... eu participei de entrevista com cinco treinadores. Nós tínhamos algumas condições para que o treinador viesse. Entre essas 'exigências', uma era que nossa comissão técnica permanecesse, como preparador físico, preparador de goleiros. O salário era pré-definido, não iríamos fazer loucuras. Queríamos um treinador que desse continuidade ao trabalho que o Cuca deixou... Nós fizemos cinco entrevistas, eu participei de todas. No final, chegamos à conclusão que o treinador ideal para o Atlético era o Turco. 

Ele veio e tem nos agradado muito em todos os sentidos. É uma pessoa muito trabalhadora, uma pessoa de fino trato, muito tranquilo. Todos os atletas, todos os funcionários da Cidade do Galo gostam muito dele. É um treinador que está dando continuidade ao trabalho do Cuca. Até agora, só temos que elogiar 'El Turco' pelo que tem feito".

SE: O Atlético ganhou quase tudo no ano passado. Faltou apenas a Libertadores. Nesta sexta, dia do aniversário do Atlético, a Conmebol sorteia a fase de grupos. A Libertadores é o principal objetivo do Atlético na temporada? O Atlético tem algum time a temer nessa fase de grupos? 

SC: "A gente não pode escolher adversário. O adversário que vier é isso mesmo e vamos competir. A prioridade são todos os títulos que vamos disputar. É normal quando se disputa muitos títulos que, se você está bem em uma competição e em outras não, você tem que priorizar esse campeonato. Só lá na frente que vamos saber. Todos os títulos são muitíssimo importantes para o Atlético. Nós não podemos dizer que queremos a Libertadores e vamos esquecer o Brasileiro e a Copa do Brasil. De forma alguma. No ano passado, conseguimos levar essas três competições, disputando todas elas na cabeça. Não fomos para a final da Libertadores por um pouco de azar, jogamos melhor, perdemos gol feito, erramos feito. Foi uma série de situações que não chegamos na Libertadores. Estávamos totalmente credenciados para fazer a final, inclusive com uma campanha invicta. Mesmo assim, saindo da Libertadores, paramos na semifinal, paralelamente disputamos o Brasileiro e a Copa do Brasil e fomos campeões das duas competições. Vamos disputar todas elas como no ano passado".



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