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Atlético x Botafogo: a história de Tarzan, que simboliza o amor aos clubes

Octacílio Baptista do Nascimento se apaixonou pelo Galo e, posteriormente, virou líder da Torcida Organizada do Botafogo (TOB)

07/11/2022 10:18 / atualizado em 07/11/2022 11:04
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Tarzan comemorando goleada do Botafogo sobre o Flamengo
foto: Jornal dos Sports / Arquivo

Tarzan comemorando goleada do Botafogo sobre o Flamengo

Octacílio Baptista do Nascimento, o Tarzan, é um personagem emblemático das arquibancadas do Brasil. Dos anos 1940 a 1970, chegou a representar as torcidas dos clubes Atlético e Botafogo, que se enfrentam nesta segunda-feira, às 20h, no Mineirão, pela 36ª rodada do Campeonato Brasileiro.

Tarzan nasceu em Grão Mogol, no Norte de Minas Gerais, em 1927. O apelido foi dado em função do seu porte físico avantajado. Em Belo Horizonte, ele se apaixonou pelo Galo. 

De acordo com o professor e pesquisador da história botafoguense Ruy Moura, "Tarzan se entusiasmou pelo desempenho de Guará num jogo Atlético versus Villa Nova e rapidamente passou a fazer parte da torcida atleticana". O atacante Guaracy Januzzi, o Guará, foi um dos primeiros ídolos da história alvinegra. Em 200 jogos pelo clube, marcou 168 gols, consoante dado do Galo Digital.

Em Minas Gerais, Tarzan chegou a integrar a torcida do Atlético, mas não teve grande notoriedade. Naquela época, era proeminente a figura de Júlio Firmino da Rocha, conhecido como "Júlio, o mais amigo", criador da Charanga do Galo.

Segundo a tese 'Clube como Vontade e Representação: o jornalismo esportivo e a formação das torcidas organizadas de futebol do Rio de Janeiro (1967-1988)', de Bernardo Buarque de Hollanda, Tarzan foi para o Rio trabalhar como pedreiro na construção do Hospital dos Servidores do Estado.

"A semelhança das cores alvinegras fez despertar sua simpatia pelo Botafogo durante a década de 1950, quando se radicou na cidade", lê-se no documento de doutorado do pesquisador.

Bernardo Buarque de Hollanda, na sua tese, indica algumas características de Tarzan, tendo como base o livro 'Torcedores de Ontem e Hoje', de João Antero de Carvalho. "Independente e polêmico, não poupava dirigentes nem jogadores, ficando célebres suas críticas à falta de profissionalismo de Garrincha nos anos de 1960".

Ao Superesportes, Bernardo Buarque de Hollanda, hoje professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), conta uma curiosidade sobre Tarzan. "Tem uma anedota de que o Maracanã tinha uma cela onde as pessoas ficavam presas temporariamente. E essa anedota diz que ele tinha passado 17 vezes pela cela do Maracanã, porque gostava de soltar rojão".

Tarzan assumiu a Torcida Organizada do Botafogo (TOB) em 1957. Ficou à frente da organizada até meados da década de 1970, quando suas viagens a Belo Horizonte se intensificaram, sendo substituído na chefia da torcida por João Faria da Silva, o popular Russão.

Naquela época, ainda não havia a ideia do purismo entre os torcedores, por isso Tarzan era identificando tanto como botafoguense quanto atleticano.

"A gente acredita muito em torcedor puro, o torcedor que só tem um time, mas a gente encontra muitos relatos de líderes de torcidas, como o Jaime de Carvalho, do Flamengo, que ficava presente na torcida do Vasco, torcedores frequentavam os jogos de adversários em rodada dupla. Embora a gente idealize o purismo, havia aceitação disso. Havia ainda um certo rescaldo de estadualismo, de torcer para o time do seu estado contra o oponente, a ideia dos locais contra os de fora, isso favorecia. E todos esses líderes das torcidas se conheciam e se respeitavam naquele momento", diz o professor da FGV.  

Tarzan morreu nos anos 1990, em Minas Gerais. Hoje, seu nome é mais lembrado na torcida do Fogão do que entre os atleticanos.

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