Da enviada especial a Lima (PER)
Quando o avião da Chapecoense caiu, em 2016, um país viveu um "déjà vu” de sua própria tragédia e chorou o luto com o Brasil. Quase 30 anos antes, em 1987, o avião Fokker F27, que levava a da geração de jogadores mais promissora do Alianza Lima, caiu em alto mar. Entre atletas e comissão técnica, 43 pessoas morreram. Apenas o piloto sobreviveu. Dele, não se tem notícias há décadas.
Essa tragédia moldou a história do adversário do Atlético-MG desta terça-feira (6). O confronto é válido pela quinta rodada da fase de grupos da Libertadores. Mas além da marca histórica, o desastre influenciou a arte de rua na capital.
Los Potrillos, a geração interrompida
A cultura peruana tem em seu cerne o respeito e reverência aos seus mortos. O luto não tem data para terminar ou prazo de validade. Por isso, todo dia 8 de dezembro, a peregrinação, no distrito de La Victoria, se estende pela movimentada avenida onde fica o monumento em homenagem à geração de ouro interrompida.
Daquele esquadrão, alguns nomes se destacavam e eram a esperança de dias melhores para a seleção peruana. Jornalistas consultados pela reportagem ressaltaram dois muito importantes: o meio-campista Carlos “Pacho” Bustamante e o atacante Luis “El Potro" Escobar.
Aos 18 anos, El Potro era a maior promessa do futebol peruano. Convocado diversas vezes para a seleção, inclusive principal, ele tinha um estilo próprio e um talento acima do comum. Foi do apelido dele que veio o apelido Los Potrillos para aquele elenco. Pacho também era considerado uma joia e, apesar da tenra idade, atuava como o “maestro” daquela equipe. Dois jogadores que poderiam ser fundamentais na seleção peruana.
Reverência à história e movimento artístico
Como já contado pelo Superesportes na segunda-feira (5), com a romaria para Alejandro Villanueva, a devoção à sua história é uma das coisas mais importantes para os aliancistas. Eles entendem que a reverência aos seus ídolos é fundamental, assim como conhecer e entender suas origens.
- A história é muito importante para os torcedores. Dizem que quem não conhece sua história não pode pensar à frente. Isso é verdade. Nós conhecemos a nossa história e faz com que a gente entenda o tanto que representa Alianza Lima no Peru - contou Sandra Milla, 41, integrante da torcida “Bomberos Aliancistas”.
São muitos os murais que homenageiam os mortos no desastre de 8 de dezembro de 1987, e cada um conta a história sob uma perspectiva. Inclusive, este é um ponto curioso nas ruas de Lima. É possível encontrar os murais em várias regiões da capital do Peru, inclusive longe do distrito de La Victoria, onde fica o estádio do Alianza, e nas periferias da cidade.
Um dos murais mais procurados é o que retrata o episódio solidário entre Colo-Colo e o clube blanquiazul. A atitude da equipe chilena, que cedeu quatro jogadores durante o período de reconstrução dos aliancistas, é celebrada até os dias atuais. Essa amizade foi responsável por interromper décadas de rivalidade entre chilenos e peruanos.
A tragédia moldou a história do Alianza, mas também a arte de rua em Lima. A inspiração para tantas homenagens bonitas nasceu do horror e da dor de um país. Mas é por meio do sofrimento que muitas obras surgem. E é graças à arte que o esquadrão Los Potrillos ainda vive.
Lima (PER) é rica em arte de rua. O interessante é ver como a tragédia de 1987 - queda de um avião que vitimou um time de futebol - influenciou a arte e a arquitetura. De certa forma, pude sentir o tamanho da perda (que nós brasileiros conhecemos bem) através da arte + pic.twitter.com/ruzxHXC8zI
— Livia Camillo (@livia_camillo_) June 6, 2023
Onde assistir Alianza Lima x Atlético-MG e horário
Data: Terça-feira, 5 de junho de 2023
Horário: 21h (horário de Brasília)
Local: Estádio Alejandro Villanueva, em Lima, no Peru
Onde assistir: ESPN (TV fechada) e Star (streaming)