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Goleiro Artur Moraes, que assumiu a meta da Chapecoense, fala da responsabilidade

Jogador assumiu o posto de Danilo e a braçadeira de capitão da equipe

postado em 29/11/2018 09:53

AFP / JUAN BARRETO
A Chapecoense perdeu 19 jogadores na queda do avião Avro Regional Jet 85, da boliviana LaMia, em 29 de novembro de 2016, quando estava prestes a aterrissar no aeroporto José María Córdova, já na Colômbia, palco daquela que seria a primeira partida pela final da Copa Sul-Americana.

Entre as vítimas, o goleiro Danilo, herói na semifinal com uma defesa no último lance frente aos argentinos do San Lorenzo, na lotada Arena Condá, e o volante Cléber Santana, dono da braçadeira de capitão do grupo que fez história na competição continental.

Em meio a busca por responsáveis, respostas, muito choro e tristeza, o clube conseguiu se organizar para reativar o time de futebol. É difícil imaginar o peso que foi vestir e defender a camisa da Chapecoense a partir dali. Mas, a responsabilidade precisava ser assumida.

Diante desse cenário, Artur Moraes se tornou titular no gol e foi convocado a ostentar o posto de capitão de uma nova Chapecoense dentro de campo. Hoje aposentado, o ex-goleiro conta à Gazeta Esportiva tudo que envolveu um dos mais marcantes momentos de sua carreira.

“Foi dentro de uma conversa entre eu, o Vagner Mancini (técnico) e o Rui Costa, diretor da época. Dentro da proximidade que eu tinha com Mancini, a gente tinha uma afinidade, uma lealdade muito grande, e pela carreira que eu tive durante todo o tempo, pela experiência, maturidade, eu devia ser o mais velho do elenco, e talvez com maior experiência internacional também”.

A idolatria conquistada no Benfica, os 35 anos de vida naquela oportunidade e o conhecimento do que era o clube credenciaram Artur a colocar em prática uma mentalidade vencedora em um grupo arrasado.

“Foi me passado que o time precisava de uma figura, alguém que tivesse passado por milhões de situações, para passar equilibro, uma mensagem, uma mentalidade vencedora. A gente tinha que reconstruir vencendo”.

Mas todas as homenagens, a comoção geral, o carinho e até mesmo a revolta de alguns foram ficando de lado depois que a bola voltou a rolar na Arena Condá. Quando menos se esperava, chegaram as comparações e a cobrança.

“Só cinco ou seis meses depois eu consegui perceber o tamanho da responsabilidade que era. Quando você está dentro do processo você não tem ideia, e logo depois, com o decorrer da temporada, eu fui me dando conta do tamanho da responsabilidade”, lembra.
AFP / NELSON ALMEIDA

“As decisões de grupo que a gente tomava era sempre em conjunto, tinha o Túlio, tinha o Nenê junto comigo, os mais experientes, que tinham uma liderança maior. Só que com o decorrer da temporada, ninguém imaginou que as comparações seriam tão fortes. Elas vinham de fora para dentro. Era inevitável olhar e não comparar com o grupo que teve o acidente. A comparação era muito forte. Era um grupo que vivia o melhor momento do clube”, diz Artur, sem tirar a razão dos apaixonados pela Chape.

A situação só acalmou quando o Verdão do Oeste conquistou o título do Campeonato Catarinense, ainda no primeiro semestre de 2017, logo na competição que sucedeu a maior tragédia do esporte mundial.

“Ganhar o campeonato era a afirmação do caminho certo da reconstrução e voltar a trazer esperança e alegria onde só havia tristeza, saudade. Naquele momento, a partida contra o Avaí, em Chapecó, foi muito pesado de se fazer”.

Pai de dois filhos e casado com uma brasileira, Artur Moraes está aposentado e vivendo em Lisboa, agora voltado a uma empresa de gerenciamento de jogadores de futebol. As viagens pelo mundo são inevitáveis e isso ajuda o ex-goleiro a dimensionar o que representou a queda daquele avião, há dois anos.

“A repercussão é até hoje. Eu já respondi jornal português querendo falar dos dois anos (do acidente). É um acidente que abalou o mundo. Por onde vou me perguntam. É um clube, hoje, que chama atenção do mundo todo, um carinho muito grande. Onde se vai, se fala, desperta curiosidade”, conta.

Quando deixou Chapecó, Artur Moraes, de passagens também por times como Cruzeiro, Coritiba, Roma-ITA, ajudou o modesto Desportivo Aves a ser campeão da Copa de Portugal em cima do poderoso Sporting. Um final de carreira intenso e que orgulha o arqueiro.

“Não esperava, não planejei, as coisas foram acontecendo, e eu hoje só tenho que agradecer a Deus por ter participado de momentos importantes na história do futebol, por ter vivido situações como essas. Portugal é um país especial para mim, meu filho nasceu aqui, tenho um carinho muito grande, foi onde tudo aconteceu, e não poderia ser diferente, estar aqui hoje e dar sequência, e tendo a Chape no Brasil. No Cruzeiro, pude estar presente na tríplice coroa (2003). Tive a sorte ou o dedo de Deus para poder vivenciar tudo isso”.

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