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Mãe de Danilo, goleiro da Chapecoense, afirma: 'Não tive ajuda de ninguém'

Dona Ilaides fala do filho com orgulho, mas admite dor mais forte e desamparo

postado em 29/11/2018 10:10

Leandro Couri/EM/D.A Press
Há exatos dois anos, Dona Ilaides surpreendeu e emocionou o país ao chegar a Chapecó para encontrar o próprio filho dentro de um caixão e, mesmo assim, não deixar de se solidarizar com os jornalistas que estavam lá, fazendo a cobertura da maior tragédia do esporte mundial, que também vitimou membros da própria imprensa brasileira.

O abraço, ao vivo, se transformou em colo para conforto do emocionado repórter Guido Nunes, do Sportv. A quebra espontânea de protocolo diante das câmeras tornou Dona Ilaides, mãe do ex-goleiro Danilo, em uma das principais personagens daquele momento de sofrimento puro.

A compaixão da senhora de 66 anos, no entanto, não sensibilizou qualquer instituição envolvida na queda da aeronave Avro Regional Jet 85, da boliviana LaMia. Em sua residência, no interior do Paraná, a vida teve de continuar.

“Nunca tive ajuda de nada, ninguém. Nem um centavo”, conta, em entrevista à Gazeta Esportiva. “Eles (o clube) determinaram que não devem nada para as famílias. Mãe e pai não são considerados. É só mulher e filho. Quem não é mulher e filho ficou com nada”.

“A vida da gente mudou muito. Eu trabalhava. Eu saí da empresa, hoje não estou trabalhando. Não estou passando por dificuldade, temos uma vida estabilizada, ele (marido) é aposentado, temos o suficiente para conviver só nós dois, numa boa”, comenta, sem muita animação. “O advogado disse que teríamos direito a um seguro, mas até hoje nada”.

A desilusão é percebida facilmente. A voz não é só mansa. Ela também reflete as sequelas de quem sofreu e ainda sofre muito com a ausência do filho, que teve a vida interrompida ao lado de outras 70 vítimas, quando viajava para o maior compromisso profissional de sua carreira.

“Nem sei dizer. Não paro nem para pensar, mas a gente trabalhou a vida inteira, dedicamos aos nossos filhos. Ele ganhava muito pouco. A gente trabalhou para dar esse suporte a ele. No momento que a carreira dele decolou, que ele ia poder ajudar, ele falou ‘mãe, agora vou conseguir’. Ele ia dar uma vida melhor para nós”.

Dois anos após a queda do avião que levava a Chapecoense para a disputa da final da Copa Sul-Americana daquele ano, a mãe de Danilo não aprendeu a lidar com a situação. Pelo contrário.
 AFP / JUAN MABROMATA

“(A dor) é maior. Cada dia que passa você sente mais falta, mais saudade, vai aumentando”, explica. “Eu sou ligada nele 24 horas. Hoje (dia da entrevista), por exemplo. Eu tomo café com leite, e hoje não tinha café. Fui colocar nescau. Ele adorava leite com nescau, tinha até a caneca dele. Essas coisas lembram o tempo todo. Tudo lembra, toda hora fico ligada, cada foto, cada comentário. Não tem como esquecer”, continua, em meio ao choro de quem ainda não se conforma.

Aos 31 anos, Danilo colocou seu nome da história da Chapecoense ao garantir o time vivo na disputa pelo seu primeiro título internacional graças a uma defesa espetacular no último lance da semifinal, contra os argentinos do San Lorenzo.

Quis o destino, porém, que Danilo não fosse um dos seis sobreviventes depois da queda da aeronave na Colômbia. Cenário catastrófico, que mudou a forma de Eunicio Padilha, pai de Danilo, seguir adiante.

“Ele não reagiu da mesma forma. Ficou bem depressivo. Ele não se conforma. Teve menos foça para lidar com a situação. Não gosta de ver vídeo. Quando a Chapecoense estava jogando contra o Sport, ele chegou em casa e viu a gente assistindo no quarto. Ele fechou a porta do quarto. Não suporta ver. Ele sai de perto. Machuca”, revela a esposa do aposentado vigia de 59 anos.

A relação com a Chapecoense praticamente se deteriorou. A família Padilha tenta tocar a vida da maneira que consegue perante ao sofrimento de não ter mais Danilo por perto. Diferente de Eunicio, Dona Ilaides ainda prefere falar, e com orgulho do filho, mesmo que as lágrimas escorram, como durante essa entrevista.

“Não quero esquecer. Não posso esquecer a pessoa mais importante da minha vida. Vai ser difícil e a gente vai continuar lembrando. Lembrar a história dele, o filho maravilhoso que ele foi, o irmão… É isso que me dá força”, conclui.

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