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Ronaldo entrou em operação de R$ 1,4 bilhão no Cruzeiro, diz head da XP

Pedro Mesquita explicou que Fenômeno se tornou responsável solidário pela dívida da associação civil e precisará gerar recursos para pagar 60% em seis anos

21/12/2021 08:00 / atualizado em 21/12/2021 18:49
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Ronaldo, novo sócio-proprietário da SAF do Cruzeiro, e Pedro Mesquita, da XP Investimentos
foto: XP/Divulgação

Ronaldo, novo sócio-proprietário da SAF do Cruzeiro, e Pedro Mesquita, da XP Investimentos


O head de investimentos da XP, Pedro Mesquita, afirmou que o ex-jogador Ronaldo Fenômeno entrará numa operação de R$ 1,4 bilhão ao comprar 90% das ações da Sociedade Anônima do Futebol do Cruzeiro. Em entrevista ao canal do jornalista Jorge Nicola no YouTube, o executivo do banco explicou que a quantia é a soma dos R$ 400 milhões a serem aportados na equipe nos próximos anos e a dívida atual de R$ 1 bilhão da associação civil – que poderá ser reduzida mediante negociações com os credores.

“Não é uma dívida do Ronaldo nem do novo Cruzeiro. É uma dívida do Cruzeiro antigo, mas que recai sobre a SAF em seis anos (caso 60% não seja paga nesse período). Pensando que você perderá 20% de sua receita para pagar a dívida, o que você mais quer é se livrar da dívida para ficar com toda a receita limpa e investir no futebol. No frigir dos ovos, o Ronaldo entrou numa operação avaliando o Cruzeiro em R$ 1,4 bilhão, por mais que esse R$ 1 bilhão seja renegociado”.

Ao justificar o montante, Mesquita mencionou o Regime Centralizado de Execuções da Lei Federal nº 14.193, que regulamentou a SAF do Brasil. Segundo o art. 15, parágrafo 2º, caso a empresa gere receitas para a associação civil quitar 60% da dívida no prazo de seis anos, serão concedidos mais quatro anos para que os 40% restantes sejam liquidados. Se depois dos dez anos ainda restar alguma pendência do CNPJ antigo, a Sociedade fica obrigada a solucioná-la, conforme o art. 24. Todavia, o Cruzeiro tentará fechar alguns acordos com base no art. 19 - “É facultado às partes, por meio de negociação coletiva, estabelecer o plano de pagamento de forma diversa”.

“Em seis anos, se a SAF não pagar 60% das dívidas, ela é coobrigada. Então é muito importante a gente dizer sobre quanto os clubes valem. Ah, o Cruzeiro vale R$ 400 milhões. Calma! R$ 400 milhões mais a dívida que quem entrar, se não pagar 60% em seis anos, é coobrigado. Diferentemente de clube de futebol, é uma empresa, que vai na pessoa física do dono”, explicou o sócio da XP.

“O que tem por trás dessa negociação? Quem entra e está investindo, no caso do Ronaldo, tem o valor de R$ 400 milhões comprometido nos próximos anos, mas ele também assume um risco de um passivo. Essa dívida como funciona? Será feito todo um trabalho em cima dela. Dívida fiscal você parcela e paga em um período estabelecido. Não tem diminuição do tamanho da dívida. Outras dívidas você tem a possibilidade de renegociar. E aí vai ser feito todo um trabalho de negociação”, complementou.

Uma das primeiras tarefas de Ronaldo como sócio-proprietário da SAF do Cruzeiro será viabilizar o pagamento de mais de R$ 20 milhões para encerrar o transfer ban na Fifa e liberar o registro de reforços no BID da CBF. O clube está devendo Defensor, do Uruguai, e Mazatlán, do México (antigo Monarcas Morelia), pelas aquisições dos jogadores Arrascaeta e Riascos, em 2015. O Fenômeno também assegurará salários em dia, de modo que o time tenha tranquilidade em brigar pelo acesso à Série A do Campeonato Brasileiro, principal objetivo de 2022.

Ao adquirir 90% das ações da SAF do Cruzeiro, Ronaldo será o responsável por controlar o destino das receitas do futebol: televisão, premiação, patrocínio, publicidade/marketing, produtos licenciados, vendas de direitos econômicos de jogadores, etc. Já a associação civil continuará detentora dos patrimônios, como as Tocas da Raposa I e II, o prédio onde funcionava a sede administrativa na Rua dos Timbiras e os clubes de lazer do Barro Preto e da Pampulha.

O Cruzeiro SAF repassará 20% de suas receitas mensais, além de 50% de um eventual lucro, para quitar dívidas do CNPJ antigo. Ou seja, caso a Sociedade receba R$25 milhões por mês – R$ 300 milhões ao ano – R$ 5 milhões irão para o Regime Centralizado de Execuções (totalizando R$ 60 milhões). Assim, o desafio do clube-empresa será sempre manter uma despesa que corresponda a no máximo 80% do faturamento.

No Valladolid, pelo qual pagou 30 milhões de euros diluídos em vários anos e se tornou acionista majoritário com 82% de participação, Ronaldo reduziu a dívida de 63 milhões de euros para 45 milhões de euros (R$291 milhões) – a maior parte em longo prazo –, bem como elevou o faturamento de 18 milhões euros para 54 milhões de euros (R$350 milhões). Apesar da boa gestão financeira da empresa do Fenômeno, o clube acabou rebaixado em 2020/2021 e hoje ocupa o quinto lugar na Segunda Divisão da Espanha, com 37 pontos em 21 rodadas.

Vale lembrar que o Valladolid é um time de poucos resultados expressivos na Espanha – ganhou três vezes a Segunda Divisão (1947/48, 1958/59 e 2006/07), além de ter sido quarto colocado na Primeira Divisão em 1962/63 e vice-campeão da Copa do Rei em duas edições – 1949/50 e 1988/89. Diferentemente do Cruzeiro, dono de duas Copas Libertadores da América, quatro Campeonatos Brasileiros e seis Copas do Brasil.

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