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Pezzolano fala em 'recuperar respeito' e conta metas do Cruzeiro na Série B

Em entrevista ao Superesportes, técnico falou sobre o início de trabalho no clube, a vida em Belo Horizonte e o objetivo de brigar pelo acesso à Série A

11/03/2022 06:00 / atualizado em 11/03/2022 15:16
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Paulo Pezzolano diz que, na Série B, maior adversário do Cruzeiro será o próprio Cruzeiro
foto: Superesportes

Paulo Pezzolano diz que, na Série B, maior adversário do Cruzeiro será o próprio Cruzeiro


Embora não abra mão de lutar pelo título estadual e queira alcançar boa participação na Copa do Brasil, o Cruzeiro tem como grande objetivo em 2022 conquistar o acesso à elite do Brasileirão, sobretudo após fracassar em 2020 e 2021, quando terminou a Série B em 11º e 14º lugar, com 49 e 48 pontos. O encarregado de liderar a missão é o uruguaio Paulo Pezzolano, de 38 anos, que causou boa impressão nos torcedores ao colocar em campo uma equipe com intensidade e de constante busca pelo ataque.



Com as orientações de Pezzolano, o time celeste melhorou a produtividade do setor ofensivo (20 gols em 10 jogos), mostrou-se mais seguro na defesa (8 gols sofridos) e teve uma atuação destemida contra o Atlético, no último domingo, no Mineirão, marcado por decisões polêmicas da arbitragem que favoreceram a vitória de virada do adversário por 2 a 1, sendo a principal um pênalti inexistente em cima do atacante Hulk.

Em que pese a frustração pelo revés no clássico, os cruzeirenses aumentaram a crença em um ano promissor, no qual o tão sonhado desfecho será a confirmação da vaga no G4 da Série B. A estreia será diante do Bahia, possivelmente no sábado, 9 de abril, na Arena Fonte Nova, em Salvador. Outros adversários "de peso" são Grêmio, Vasco e Sport.

“O que queremos é continuar melhorando no dia a dia. Queremos ser um time muito forte e que vai jogar contra qualquer time da Segunda Divisão tomando as responsabilidades de time grande. Tem outro também? Perfeito, mas o Cruzeiro é um time grande. Tem muito mais responsabilidade de saber jogar como time grande. Na nossa casa ou como visitante, jogaremos como time grande. Depois, vamos ver se estamos fazendo as coisas bem”, afirmou o treinador, em entrevista ao Superesportes.

Ex-camisa 10 do Liverpool, do Uruguai, pelo qual marcou 42 gols em 129 jogos, Pezzolano pendurou as chuteiras aos 33 anos, em 2016. No primeiro ano como técnico, em 2017, sagrou-se campeão da Segunda Divisão do país pelo Montevideo Torque com uma campanha de 16 vitórias, oito empates e quatro derrotas em 28 partidas. Também treinou o próprio Liverpool, em 2018 e 2019, e o Pachuca, do México, entre 2020 e 2022.

Quem há muito tempo acompanha Pezzolano é Paulo André, de quem o técnico foi companheiro ainda nos tempos de jogador no Athletico-PR, em 2006. O ex-zagueiro é o ‘braço direito’ de Ronaldo Fenômeno na gestão de futebol tanto do Real Valladolid, da Espanha, quanto do Cruzeiro. Após algumas sondagens não concretizadas, as partes se acertaram para um trabalho de grande reformulação e sucesso esportivo no clube.

No bate-papo com o Superesportes, Pezzolano falou sobre variados assuntos, como a convivência com Ronaldo, um dos maiores jogadores da história do futebol e agora investidor do Cruzeiro; o potencial do garoto Vitor Roque, de apenas 17 anos; a busca por reforços pontuais para a Série B; a atuação da arbitragem no Campeonato Mineiro; e a adaptação da esposa e dos três filhos pequenos a Belo Horizonte.

ENTREVISTA COM PAULO PEZZOLANO, TÉCNICO DO CRUZEIRO

Vida em BH


Como está a adaptação da família - esposa e filhos pequenos - nesses primeiros dois meses em Belo Horizonte? 


“Sempre que chegamos a qualquer lugar do mundo ficamos um mês só buscando casa para a família, arrumando tudo. Tenho três filhos muito pequenos - 6 anos, 3 anos e 2 anos. Minha mulher sempre está presente para tudo, ajudando a gente em tudo, no crescimento da família. Sempre vamos sozinhos arrumar tudo para quando eles chegarem terem a casa. É muito mais fácil. Os meninos começaram na escola, com a família é mais tranquilo, eles estão se acostumando ao idioma, são meninos, pegam muito rápido. Às vezes os pais ficam mais desconfiados se eles vão bem na escola, mas eles estão felizes e sempre contentes. Para nós é uma tranquilidade”.

“Sou uma pessoa que gosta de chegar cedo aos treinos, temos como regimento dentro da comissão técnica chegar três horas antes do começo dos treinos e vamos embora bem tarde. Ficamos mais na Toca do que em casa. Em casa chegamos, jantamos com a família e vamos dormir. Estamos mais tempo trabalhando porque gostamos de fazer isso, sempre olhando muitas coisas. Somos pessoas práticas. Saímos para jantar fora e almoçar fora com a família, quando podemos. Gosto de caminhar na rua, faço isso sempre. Gosto da vida simples. Assim vivemos, trabalhando muito e vendo muito futebol, conhecendo o rival que vamos enfrentar, a liga, muito a aprender. Assim é a vida que vivemos no dia a dia”.

Relação com Ronaldo


Ronaldo esteve na Toca em pelo menos três oportunidades desde que assumiu o controle do Cruzeiro. Você se reúne com ele para dar relatórios de trabalho? Você já recebeu orientações diretas dele? Como é sua relação com ele nos bastidores?

“É uma pessoa muito humilde, apesar de ser o Ronaldo, que sempre será uma estrela do futebol, um jogador histórico. Ele é muito claro no que quer e de como quer ver o seu time. Por isso temos a sorte de estar no Cruzeiro porque o que ele quer e o que nós buscamos é o mesmo. Sempre ele está ajudando e dando as ferramentas para fazermos o melhor”.

“É uma pessoa que escuta, fala pouco, mas fala justamente o que precisa falar. É uma honra ter uma pessoa como ele perto como chefe. Fica também mais fácil para um treinador e um jogador, porque eu, como jogador e agora como treinador, é fácil entender um jogador de futebol com a categoria do Ronaldo. Ele entende tudo o que fazemos, estamos falando a mesma língua, é mais fácil também”.

Paulo Pezzolano foi cogitado para dirigir o Valladolid, clube espanhol de Ronaldo, e a Seleção Uruguaia
foto: Superesportes

Paulo Pezzolano foi cogitado para dirigir o Valladolid, clube espanhol de Ronaldo, e a Seleção Uruguaia



Ronaldo já falou em algumas oportunidades que deseja modernizar a Toca II, que completou 20 anos nesta semana. O que você sente falta na estrutura do Cruzeiro hoje?

“A Toca da Raposa tem tudo que necessitamos para trabalhar, só falta pegar vida. Coisas básicas como a pintura, o refeitório - agora todos estamos juntos, para nós somos todos iguais. Para mim temos que tratar o jogador da mesma forma que o treinador ou aquele que limpa o vestiário e faz a comida. Somos todos iguais, uma equipe de trabalho. Isso vai pegando vida, estamos cada vez mais contentes e trabalhando melhor, o que é importante para o dia a dia”.

“Não é só o que fazemos dentro do campo que ajuda o Cruzeiro a ganhar. O que fazemos fora, para mim, é muito mais importante. As pessoas que trabalham em cada função vão somar para que a equipe esteja melhor dentro do campo. Ele (Ronaldo) sabe o que vai fazer (na Toca), já falamos tudo, pois há muito o que melhorar. Academia, vestiário, os campos precisam melhorar um pouco mais… tudo isso precisa ser feito. O que chegar, será bem-vindo, pois há coisas que precisam melhorar. Queremos que o Cruzeiro volte a ser uma equipe importante no Brasil e na América. Todos os detalhes vão fazer com que o Cruzeiro tome parte de tudo isso”.

Você faz planos para uma trajetória em longo prazo no Cruzeiro? E quanto à parte pessoal, onde pretende chegar em um futuro próximo?

“Nós somos uma comissão técnica nova. Estou há cinco anos como treinador e tive a sorte de poder colher por agora no clube onde posso trabalhar. Gosto de ir a um clube que está alinhado com o que pensamos. É muito importante para nós poder fazer o trabalho também. É muito positivo. Você sabe que futebol depende de resultado. Agora, com o Ronaldo, eles acreditam em um modelo de jogo e em um projeto. Mas, como treinador, sei que o resultado muda tudo. Então precisamos estar preparados para isso”.

“Como treinador, gosto de um modelo mais difícil de jogo. Não é pior, nem melhor, é mais difícil, leva mais tempo e tudo. Mas sei que dentro desse modelo de jogo tem o resultado. Senão o longo prazo não vai acontecer. Então há essa mistura de pegar rápido tudo que queremos, mas ver o futuro eu sempre vejo o próximo jogo. Sabemos que temos muito a melhorar, e se tivermos a sorte de seguir com o resultado positivo dentro e fora da Toca, dentro e fora do campo, tudo isso vai se somar muito. Se ficarmos mais tempo com o resultado positivo, dentro do modelo de jogo, será muito melhor. É o que buscamos, porque confiamos nisso”.

“Já tive a sorte de dirigir dois clubes no Uruguai que com o tempo fomos campeões mesmo notando muita superioridade dentro do campo de cada rival. O rival é mais forte, mas o time sempre fazia por ser respeitado. Isso leva tempo”.

“O futuro como treinador, nunca se sabe. Uma das minhas metas, de coração, é ser treinador da seleção uruguaia. Mas sei que sou novo, tenho que passar por muitas coisas ainda, tenho tempo para isso. Mas seria um grande trunfo para mim como treinador, principalmente por ser uruguaio, que quer sempre o melhor para o país.

“No futuro, quero ser um treinador diferente na Europa. Não há muitos treinadores uruguaios na Europa com sucesso. Claro que tivemos Tabárez no Milan e no Cagliari, outro treinador, Martín Lasarte, na Real Sociedad. Mas ficar muitos anos e desenvolver um modelo de jogo uruguaio, ainda não. E eu gostaria de ser diferente, de chegar à Europa e marcar um estilo de jogo. Seria uma grande experiência para mim”.

“Para conseguir isso, preciso ganhar domingo. Assim penso. Não só ganhar domingo, busco em cada jogo que o atleta cresça a cada dia e a equipe fique mais forte para conseguir o resultado. Não busco o resultado por buscar, e sim dentro do modelo. Temos que ganhar como seja, mas eu gosto de ganhar de uma maneira. Às vezes perdendo dentro de um modelo de jogo você está crescendo mais do que ganhar de qualquer forma. Creio muito nisso”.

Revelações


Jovens jogadores têm ganhado espaço no Cruzeiro, como o atacante Vitor Roque, o meia Daniel e tantos outros. O projeto do clube é se tornar também um grande vendedor para o mercado europeu, a exemplo de Flamengo, Athletico-PR, Santos, Grêmio e tantos outros?

“É um processo de todo treinador. Sabemos que todos os times do mundo precisam vender jogadores. Até o Barcelona. Então, você sabe que tem que trabalhar com jogadores e fazê-los crescer, pois há uma empresa por trás. Não só porque tem Ronaldo agora, o Cruzeiro do ano passado e dos anteriores também. Por que o Cruzeiro não está bem economicamente? Porque pensou somente em ganhar e em contratar o melhor. Aí é difícil aguentar. Nós temos que contratar os melhores que podemos, pois é mais fácil para o treinador. Mas sabemos que temos que melhorar sempre os jogadores e dar chances aos mais novos. Gosto muito disso.

Hoje, o Liverpool e o Torque City, no Uruguai, são os que formam os melhores jogadores no Uruguai e estão entre os quatro primeiros no campeonato nacional. O Pachuca é uma equipe vendedora no México. Tive a sorte de ficar dois anos com o Pachuca no futebol mexicano. Dois anos no futebol mexicano devem ser iguais a dez anos em qualquer outra liga. Trocam treinadores de uma forma impressionante. Ficar dois anos lá foi um grande feito. O clube tem jogadores que estão na Seleção Mexicana e outros que estão jogando bem na Liga Mexicana.

Esse é o objetivo do treinador, e não apenas ganhar. Se você fizer tudo bem, aí vai ganhar. É muito trabalho. O treinador tem que fazer o time jogar bem, porque é um espetáculo. Assim é o futebol. Temos que dar o melhor para que as pessoas fiquem contentes, e atrair os torcedores para o estádio. Tem que vender jogadores, então os atletas precisam sempre estar crescendo. E tem que ganhar. Por que? Porque gosto de ganhar e jogar todo jogo como se fosse uma final. O jogo contra o Pouso Alegre é uma final como foi contra o Atlético Mineiro na semana passada. É o caminho que serve ao clube, aos jogadores e aos torcedores”.

Na entrevista ao El País, você citou que vê o Vitor Roque como um jogador ‘Classe A’. Mas ele é um menino muito jovem, entrou cedo no profissional do Cruzeiro, você enxerga esse jogador mais como um centroavante ou como um extremo? Como ele rende melhor? E sobre uma eventual venda, você acha que o Cruzeiro vai ter condição de segurar esse jogador por muito tempo ou acha natural uma saída breve?

“A parte de venda, eu não sei. Eu, como falei, acho que ele (Roque) pode chegar a ser um jogador top. Se ele seguir crescendo como vem crescendo agora. Temos que saber que ele tem 17 anos recém-completados. Ele é novo, vai seguir crescendo e é normal. Mas vemos características muito boas dele, muito potente, tem um contra um, tem muito gol”. 



“Você me pergunta se é melhor ele jogar de ponta, centroavante ou extremo? Eu acho que as duas ele faz muito bem. Por que nós utilizamos de extremo? Porque quando eu utilizo o Roque de extremo e tenho Edu, eu tenho dois pontas dentro do campo. Eu sei que quando vamos pela esquerda, tenho dois centroavantes dentro da área - e que têm muitos gols. Somo muitos gols, muito jogador perigoso dentro da área rival. Não tenho só o Edu, tenho Edu e Roque. Se pega a bola Edu, é gol. Se pega a bola Roque, é gol. E por fora ele (Roque) tem um contra um, é muito potente. As transições são muito rápidas. Eu acho que pode ajudar muito por fora hoje, se tem que jogar domingo de centroavante, ele vai fazer”. 

“Que ele siga crescendo. O importante é que pode fazer as duas posições porque é um jogador mais completo. Se eu só o vejo como centroavante, será um centroavante. Se eu quiser vender ele, é um centroavante. Se você quiser vender depois de jogar de extremo, ele joga de extremo e de centroavante. É um jogador mais completo. Isso que nós buscamos. Que os jogadores joguem em mais posições, que tenham muita mobilidade. Tem um jogador multifuncional e isso é muito bom no futebol moderno”.

Alguns jogadores da base, que já estavam no profissional antes mesmo do Vitor Roque e do Daniel Jr, por exemplo Marco Antônio, Paulo, Lucas Ventura (emprestado ao Avaí), o Adriano que foi titular no ano passado… Esses jogadores não têm tido tanta minutagem com você nos últimos jogos. Eles estão precisando de adaptação ao modelo?

“Eles são bons jogadores, por isso estão conosco no elenco. Temos sorte de ficar perto da direção e decidir quem pode ficar e quem não. Se eles estão no plantel, é porque sentimos que podem jogar a qualquer momento. Tem que melhorar alguma coisa? Sim. Falamos muito com eles o que precisam melhorar. São jogadores que são interessantes. Não estão acostumados a fazer o que queremos, então talvez necessite um pouco mais de tempo a algum jogador do que com outro. É questão de tempo. Que sigam se adaptando ao que queremos. O mais importante é a intensidade e eles não estão acostumados”. 

“Eles têm grande qualidade com a bola, falando de Adriano e Marco Antônio, os dois têm qualidade, mas queremos que tenham mais intensidade, a cabeça mais firme dentro do campo. É questão de tempo, porque dentro do que queremos, eles podem fazer, jogando por dentro, por fora, de volante central, ambos podem fazer. Eles têm qualidade para sair com a bola. Questão de tempo de adaptação”. 

Campeonato Mineiro


Você se mostrou bastante revoltado com a Federação Mineira de Futebol depois do jogo contra o Atlético, cuja principal polêmica foi o pênalti marcado em cima do Hulk. Disse, inclusive, que nunca havia visto isso em toda a carreira. Sobre o que estava dizendo, exatamente? Só sobre os erros ou acredita em algum tipo de favorecimento deliberado ao rival?

“Falei isso e sigo falando isso. Tudo que falo, eu penso. Às vezes a pessoa está com sangue mais quente e tudo, mas eu penso. Por que nunca vi isso no mundo. Não pelo erro no pênalti para o Atlético, um erro qualquer pessoa comete. Mas há muitos erros contra o Cruzeiro, e não é normal. Nós perdemos dois jogos desde que cheguei aqui, e os jogos que perdemos foram com interferência do árbitro. Pode passar um jogo? Pode. Eu erro mais que eles todos os dias, sem dúvidas, aqui no treino, no jogo. Mas errar tanto contra o Cruzeiro é difícil. Então não sei… estou chegando e vi isso no Campeonato Mineiro.

“Você pergunta se é um erro ou… não sei. Um erro não, são vários erros. Eu fico preocupado nem tanto por mim, pois sou uruguaio, posso perder três ou quatro jogos e amanhã treinar outro time. É normal. Mas é complicado esse tanto de incidência dos árbitros no campeonato. Estamos tranquilos e sabemos como é o campeonato, seguir melhorando e saber que podemos passar novamente por isso. É redobrar o esforço dentro e fora de campo e seguir enfrentando o campeonato dando o melhor. Tudo depende do trabalho.

“Um erro, um pênalti contra e um vermelho para um integrante da comissão técnica do Cruzeiro, e o banco do Atlético tira amarelo. Há muitas coisas. Amarelo para Willian, que não havia feito quatro faltas. Erraram, eu não entendo, mas vamos seguir em frente. Sabemos que somos grandes candidatos a ganhar o campeonato”.

O VAR poderia amenizar os problemas?

“Não sei se o Campeonato Mineiro está preparado para isso. Seria melhor,? Sim. Mas não sei tudo o que tem que trocar e o que pode ou não ser feito. Pode haver dez pessoas atrás da câmera, mas se não fazem as coisas bem, seguiremos errando. Então não sei a profundidade disso”.

Igor Júnio Benevenuto (árbitro do clássico) diz que você o xingou de ladrão. Confirma isso?

“Não entrei em campo. Estava nas escadas. Eu acho que ele não me viu. Pode ter sido falado por outra pessoa. Ele não me viu. Havia muitos policiais à frente, fiquei na escada, ele não me viu. Com certeza falo 100%. Ele colocou também, de um auxiliar da comissão técnica que recebeu o vermelho, a palavra ‘sacanagem’. Essa palavra o meu auxiliar nem sabe o que isso quer dizer. Então há uma impunidade muito grande. Ele pode falar o que quiser, mas ele não me viu. Não ouviu o que falei pra ele. Muita gente, muito barulho. Se escutou alguma pessoa que estava perto, pode ser. Mas ele, com certeza, não me escutou”.

Queria, por favor, que você fizesse uma breve análise sobre o nível do Campeonato Mineiro e te perguntar se você não sente falta de adversários contra equipes mais competitivas, de níveis mais parecidos com o que o Cruzeiro deve encontrar na Série B.

“Se você me fala do Estadual, eu vejo todos os jogos de estaduais pelo Brasil. O Paulista é mais forte, todos os times têm bons jogadores. Aqui, no Mineiro, os times têm jogadores interessantes. É igual ao Paulista? Não, não é igual. É um pouco menos. Mas se você vê qualquer time que vai jogar a Copa do Brasil… Hoje (quinta-feira) teremos Pouso Alegre. Acho que vai ser um time duro para qualquer time de qualquer estado”. 

“Nós, aqui no Mineiro, como qualquer (time) uruguaio, sempre vemos como menor (o adversário). Como a liga mineira é mais fraca do que outras… E eu acho uma liga competitiva. Todos os times são muito competitivos. Eu não vi ninguém ainda, nem o Atlético, nem o América, nem mesmo o Cruzeiro, vi passar por algum time do Estadual de 5 a 0, 6 a 0. São times competitivos. Esse é o Estadual e sabemos que é isso. Se pode melhorar sempre, ser mais competitivo, mas as equipes são competitivas. Não posso falar nada (diferente) disso”. 

Ainda neste tema, queria saber se você acha que o Cruzeiro tem condições de desbancar o favoritismo do Atlético em uma eventual semifinal ou final?

“Como falamos, o Atlético hoje tem jogadores de muita classe, muita qualidade. Dentro da América, não só do Brasil. Tem jogadores de nível europeu. Temos que saber isso. É a realidade. Sofremos por hoje? Não, sofremos pelo que o Cruzeiro passou recentemente. E estamos hoje sofrendo como treinador, como torcedor, o que se passou no Cruzeiro no passado”.



“Eles (Atlético) têm muito mais qualidade em todos os sentidos? Sim, têm. Do treinador também, não só dentro de campo. Eles têm um treinador de muita qualidade. Nós teremos que estar preparados e sabemos que a maneira de superar o Atlético é como fizemos, sendo uma equipe aguerrida sem bola, com muita intensidade. Colocando intensidade e a fome que precisamos demonstrar, aí começamos a cortar essa diferença”. 

“Você me pergunta se somos candidatos (ao título) ou não. O Cruzeiro, pelo escudo que tem, tem que ser candidato. A história do Cruzeiro é muito maior, é uma marca. Sabemos que estamos passando por esse momento, mas em uma final, temos que fazer frente a isso e estamos convencidos, sim, que o trabalho e a forma que temos, podemos conseguir o campeonato”. 

Pezzolano vê título mineiro palpável, mesmo com maior qualidade do Atlético
foto: Superesportes

Pezzolano vê título mineiro palpável, mesmo com maior qualidade do Atlético



Mercado cruzeirense

 
Como você avaliou a saída do Maicon, que era um cara que, além da parte esportiva, parecia ser um líder de vestiário? E sobre a reposição, o que você pode falar do Wagner Leonardo, jogador do Santos que tem negociação avançada com o Cruzeiro? Quais as características dele chamaram sua atenção?

“Maicon, sabemos todos como foi. Aqui está arrumando muito o econômico, mais do que tudo. Hoje o clube está pagando em dia, pagando mês a mês, e não se fazia isso. Mas é o mínimo que tem que fazer qualquer empresa, né? É algo muito bom e aqui está melhorando para fazer isso. Sabemos que às vezes não podemos ter jogadores que não se encaixam na realidade econômica, temos que aceitar isso. Sobre Wagner, ainda não sei nada. Não posso falar disso”.

Ainda sobre o setor defensivo, queria uma opinião sobre o Eduardo Brock, que tem contrato apenas até o fim de maio.

“Brock está fazendo o trabalho muito bem. Está se adaptando muito bem ao que nós queremos dentro do campo. Ele é muito agressivo, tem perna canhota, ele tenta fazer tudo que pedimos. Hoje, estamos muito contentes com ele, porque está fazendo um bom trabalho. Pode errar um passe, mas todos podem errar um passe num modelo de jogo diferente, que não está acostumado. Mas isso se arruma. Com Brock ou qualquer outro jogador. Temos que ter essa paciência para que eles fiquem tranquilos, com paciência. Mas estamos contentes com Brock. Até hoje, está cumprindo o que queremos”. 



Então é um jogador que você quer contar até o fim da temporada?

“Sim, hoje sim. Sem dúvida”. 

Em relação ao Thiago, o Cruzeiro precisou vendê-lo. O Ronaldo até falou que concordaria que ele valia mais do que foi vendido, mas por questão de necessidade, precisou abrir mão do jogador. O Cruzeiro vai contratar outro centroavante? Alguns nomes já foram especulados, casos de Anselmo Ramon, do CRB, e Zeca, do Mirassol. Pode falar sobre essa posição especificamente?

“Seguramente vamos esperar um jogador para esta posição. Estamos falando disso. Mas temos que ter precaução. Ver bem o jogador ideal para essa posição. Não podemos contratar qualquer jogador porque fez dez gols. Porque pode ter feito dez gols em outro modelo de jogo. Temos que ficar atentos aos detalhes, se (o jogador) adapta-se ao estilo de jogo”. 

“Depois, estamos provando. Testamos o Waguininho em um jogo, porque tem características para fazer centroavante como nós queremos, com muita movimentação e diagonais. Temos o Roque também. Não podemos ter pressa, porque temos que cuidar dentro do que pode-se investir hoje no Cruzeiro e ser muito pontual no investimento. Não podemos errar. Talvez seja melhor tomar um tempo a mais e pegar justo o que necessitamos. O jogador ideal para nós”. 

Para a Série B do Campeonato Brasileiro, você aguarda quantos reforços? Seria um zagueiro, um centroavante e um extremo para iniciar o torneio com um time ainda mais competitivo? E sobre o número ideal de jogadores do elenco, há uma definição na sua cabeça?

“Número em si, quantos reforços queremos, ainda não tenho. Estamos treinando muito com a equipe sub-20, eu gosto de ver tudo. Mas eu quero que venham muito poucos jogadores e que venha que tem um nível acima daqueles que temos hoje. Que nos ajudem a crescer. Não quero quantidade de cinco, seis, sete jogadores mais. Quero poucos que encaixem no modelo de jogo e que estejam acostumados a fazer o que queremos. Isso vai ajudar muito dentro do campo”.

“Ainda não sei o número de jogadores que queremos (no elenco) porque nós, como clube, ainda estamos vendo quem pode estar mais perto, quem pode ajudar a gente e está no sub-20, por isso jogo com um volante como zagueiro, vai ver um lateral como volante, por que? Porque estou vendo e esse é o campeonato ideal para ver todas as opções e onde cada um pode ajudar a equipe dentro de campo, que é o mais importante”.

“E por que o estadual é para isso? Porque o Cruzeiro tem que mostrar e tem que ser time grande que era. Se você é um time grande num Estadual, tem que saber jogar, misturar jogadores do sub-20, e ainda tem que lutar pelo campeonato. Não é só provar jogadores e ficar em último. É provar jogadores e tem que ganhar. Hoje, o Cruzeiro está fazendo um campeonato estadual de equipe grande, que é o mais importante”. 

Observando sua escalação, ao que tudo indica o Rômulo é o jogador que se firmou na lateral direita. Ele fez um bom jogo contra o Atlético. E o seu reserva imediato é o Geovane. Eu gostaria de saber sobre o Gabriel Dias. Jogador que foi contratado na gestão Ronaldo e que não tem sido relacionado. Alguma coisa a ver por ele ter chegado depois dos demais? Ou por opção técnica mesmo?

“Rômulo está fazendo muito bem. Tem o Geovane também, como você falou. O Gabriel, há uma semana, tem dor, está machucado. Estamos ajudando ele a sair disso. Depois, quando estiver 100% em intensidade e tudo, vamos vê-lo mais dentro de campo. Ele não teve muitas oportunidades dentro de campo. Eu acho que, para a (Segunda) Divisão, ele é bom jogador. Então ainda não vimos ele bem porque tem uma dor que não deixa ele estar 100% em campo. Eu gosto de Gabriel, vi muitos vídeos dele e acho que ele pode nos ajudar muito”.

Copa do Brasil e Série B


Falando sobre a Copa do Brasil, dez clubes que serão concorrentes do Cruzeiro na Série B já foram eliminados nas fases iniciais. Isso prova que os times considerados menores estão surpreendendo. O Cruzeiro passou com muita força pelo Sergipe e agora tem o confronto com um desconhecido, que é o Tuntum. O que vocês já colheram de informação do adversário e qual é o objetivo na competição? De repente chegar às oitavas ou quartas de final? Brigar pelo título?

“Já vimos a equipe do Tuntum. É uma equipe forte em casa. Como falamos, é um time que vai demonstrar muita fome. Essa é a maneira de igualar o Cruzeiro. Mas o Cruzeiro tem que demonstrar essa fome também. Se a gente tiver a intensidade que temos e a fome que eles terão, se a gente igualar isso, nós temos que ter o resultado. Porque temos mais time do que eles. Essa é a verdade”. 

“Nós não podemos 99%. Se a gente jogar 99%, seguramente não vamos ganhar este jogo. Teremos que colocar 100% para ganhar esse jogo. Isso é o mais importante para seguir subindo na Copa do Brasil. Depois, como objetivo, é sempre o jogo seguinte. Quando tem mata-mata, ida e volta depois, o que queremos é passar para a fase seguinte. É difícil falar até onde, mas qualquer times, até Tuntum, está jogando para ser campeão. Se você acordou mal um jogo, ficou fora. Tem que saber que são campeonatos diferentes, e estamos todos à altura. Precisamos chegar o mais longe possível”.

A grande preocupação e o grande interesse do Cruzeiro em 2022 é voltar à Série A. Eu gostaria de saber o que você tem observado de todos os adversários do Cruzeiro da Série B, que clubes você aponta, pelo que já observou nos Estaduais, que são competitivos, que são potenciais adversários diretos. E também saber se sua ambição é a liderança, o título, ou se isso não te preocupa e o importante é ficar entre os quatro primeiros?

“Podemos falar muita coisa sobre isso. O primeiro é que temos que lembrar que somos uma equipe em reconstrução. Isso não é uma palavra que fica como desculpa. É a realidade. Você me fala que time é rival direto… O Cruzeiro tem um primeiro adversário que é ele mesmo. Nós, se seguirmos melhorando no dia a dia, vamos fazer um time muito duro. Muito competitivo”. 

“Eu seria muito atrevido de falar ‘esse time será (rival) direto, esse não’. Os outros times estão vivendo e trocando treinador, não sabemos o que vão fazer, se serão mais fortes do que. Depois de todos os Estaduais sabemos que todos se reforçam, jogadores de outros times, então estamos vendo hoje qualquer clube da Segunda Divisão que dentro de duas ou três semanas poderão ter oito reforços. Hoje é difícil fazer essa comparação.” 

“O que queremos é continuar melhorando no dia a dia. Queremos ser um time muito forte e que vai jogar contra qualquer time da Segunda Divisão tomando as responsabilidades de time grande. Tem outro também? Perfeito, mas o Cruzeiro é um time grande. Tem muito mais responsabilidade de saber jogar como time grande. Na nossa casa ou como visitante, jogaremos como time grande. Depois, vamos ver se estamos fazendo as coisas bem”.

“Quero seguir crescendo em intensidade, em jogo, posse de bola. Não posse de bola para que fique bonito para fora, posse de bola para ser agressivo para frente, que é o mais importante. Temos que melhorar muito essas coisas para depois ver a comparação dentro do torneio. Mas o mais importante é isso. Ver o Cruzeiro seguir melhorando jogo a jogo”. 

“Como falamos, estamos em construção. Vai ter jogo muito bom, jogo ruim, jogo bom, até chegar o momento em que o Cruzeiro será um adversário duro. E aí temos que tirar a diferença dos adversários. O que queremos é saber jogar como time grande na Segunda Divisão. Que todo time que jogue contra nós saiba que vamos para frente, que será um time intenso, que não vai deixar nenhum buraco, que vai marcar. Aí vamos pegar esse respeito dentro do campo”. 

Casa do Cruzeiro


Mineirão ou Independência? Qual a sua preferência?

“O Mineirão é um estádio lindo, mundial. Depois, Independência jogamos lá, estamos agradecidos, mas o Mineirão eu acho que o torcedor do Cruzeiro gosta mais. Todos gostamos do Mineirão. Não tive a sorte ainda de jogar com o Mineirão cheio de torcedores do Cruzeiro, já já terei essa sorte, e eu acho que deve ser o mais lindo que pode haver no futebol”. 



“Não acredito que acharei um estádio que possa entrar mais gente que o Mineirão. O que vejo do torcedor, o que puxa o time para frente, ganhando, empatando ou perdendo, o torcedor está sempre indo para frente. Isso é o que eu quero como treinador. Que o time faça o que representa essa gente. Sempre apoiando, sempre para frente. O time tem que ir sempre para frente, ganhando, empatando ou perdendo, sempre para frente. Vamos fazer uma equipe dura. O Mineirão é o estádio ideal para um time grande. Um estádio grande”. 

Palavra de confiança


Para encerrar, abrimos o espaço para que você deixe uma mensagem ao torcedor do Cruzeiro.

“Eu não gosto de falar muito com o torcedor do Cruzeiro. Qualquer torcedor, o que busca, é a resposta dentro do campo. Eu gosto de trabalhar. Trabalhar no dia a dia, e que o torcedor confie no que vê. Isso é o mais importante para um treinador e para os jogadores. Podemos falar várias coisas, mas se a gente fizer tudo ao contrário, não tem jeito”. 

“O que espero é que o torcedor se sinta identificado com o jogo que fazemos. Isso é o mais importante. Que esse jogo leve essa esperança ao torcedor. Isso é o mais importante como treinador. Eu nunca vou vender uma coisa que não se pode alcançar. Então, o que eu quero da minha equipe dentro do campo é conseguir triunfos dentro deste modelo, desta energia que estamos colocando dentro de campo. É a energia que o torcedor vai pegar. E vamos buscar o acesso, já que o Cruzeiro nunca merecia a queda. É o que esperamos. 

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