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De desconhecido a ídolo do Cruzeiro: Pezzolano, o protagonista do acesso

Vibrante na beira do campo, treinador transmitiu 'alma uruguaia' ao Cruzeiro em retorno à Série A; seu modelo de jogo tornou o time soberano na Segundona

21/09/2022 22:59 / atualizado em 21/09/2022 23:06
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Líder de um elenco sem grandes estrelas, técnico Paulo Pezzolano foi protagonista no acesso do Cruzeiro para a Série A
foto: Staff Images/Cruzeiro

Líder de um elenco sem grandes estrelas, técnico Paulo Pezzolano foi protagonista no acesso do Cruzeiro para a Série A



Desconhecido no Brasil, Paulo Pezzolano foi anunciado pelo Cruzeiro em 3 de janeiro deste ano sob a desconfiança do torcedor, que dias antes se mostrava preocupado com o desligamento de Vanderlei Luxemburgo. Aos 38 anos, o uruguaio nascido em Montevidéu assumia o maior desafio de sua carreira após passar por clubes pequenos do seu país e dirigir o Pachuca, do México.

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Nem mesmo Paulo André, braço direito de Ronaldo e responsável pela indicação de Pezzolano, poderia imaginar que ele seria o grande nome do acesso do Cruzeiro.

O comandante uruguaio precisou de apenas 51 jogos, 31 deles na Série B, para colocar seu nome em definitivo na história do clube. Com a vitória por 3 a 0 sobre o Vasco, diante de quase 60 mil pessoas, no Mineirão, Pezzolano cumpriu sua primeira missão de reconduzir o Cruzeiro à Série A. Agora, ele quer o título.

Raras vezes em sua história o Cruzeiro teve um treinador tão protagonista quanto Pezzolano. Com status de 'ídolo', o ex-meia liderou um elenco barato e sem estrelas em uma campanha histórica na Série B. O acesso na 31ª rodada é o mais rápido da história da competição.

Sucesso apoiado em sua trinca de defensores


Em meio à reformulação do grupo, Paulo Pezzolano chegou ao Cruzeiro com o intuito de mudar também a forma de a equipe atuar. Desde a primeira até a mais recente coletiva de imprensa, o técnico apontou um princípio como a chave para o funcionamento de seu sistema de jogo: a intensidade.

A pedido do uruguaio, o Cruzeiro tem em sua essência o plano de envolver o adversário ao reter a posse da bola e atacar de maneira apoiada. Defensivamente, o time sobe o bloco de marcação e pressiona o rival de forma constante, de forma a desarmá-lo na zona de perigo. Independentemente de onde jogue e de qual rival esteja pela frente, Pezzolano mantém o padrão de jogo idealizado.

"Pezzolano gosta de ter a bola, ser agressivo e controlar o jogo. E ele conseguir fazer isso na Série B é muito impactante. Não foi o único que fez isso na Segunda Divisão, mas, depois de tantas dúvidas se iria subir tendo posse de bola e tudo mais, (é interessante) ver como ele consegue dominar o jogo, criar pelos lados, por dentro, uma saída de bola com o goleiro até chegar à área adversária", avalia Gabriel Corrêa, analista tático do Footure.

Nos primeiros jogos da temporada, ainda pelo Campeonato Mineiro, o Cruzeiro foi a campo montado em um 4-3-3. Apesar de não ter vencido o Estadual, a equipe performou de forma satisfatória ao terminar como vice-campeã. Mas logo no início da Série B, o técnico decidiu mudar o esquema de jogo.

O marco da mudança foi a vitória por 1 a 0 sobre o Londrina, no Mineirão, pela quarta rodada da Série B. Pezzolano passou a escalar o Cruzeiro com três zagueiros. A base foi formada por Zé Ivaldo pela direita, Lucas Oliveira ao centro e Eduardo Brock pela esquerda.

"Os três zagueiros trouxeram segurança. O time já fazia uma saída de três quando não jogava com todos, no início do ano. Mas os três trouxeram confiança por conseguirem sair jogando. Colocar isso em prática fez o time ter uma saída limpa desde a defesa. Assim, pode liberar mais os jogadores pelos cantos, e pode colocar até um ponta como ala. Além de, na fase defensiva, você ter três zagueiros de fato na sobra. Foi interessante ver como ele se adaptou e mesmo assim manteve a forma de jogar", complementou Corrêa.

No novo esquema, o Cruzeiro mudou o patamar de suas atuações. Mesmo com improvisações em alguns jogos, como o volante Machado integrando a trinca, o sistema foi mantido. Foram 19 vitórias, sete empates e duas derrotas em 28 jogos atuando com essa formação: 76,1% de aproveitamento.

Aclamado dentro e fora do Cruzeiro


Um dos grandes méritos do trabalho de Pezzolano no Cruzeiro foi ter conseguido a devoção do elenco pelo estilo de jogo implementado. Ao longo do ano, não faltaram elogios ao técnico por parte de seus jogadores. 

O atacante Edu afirmou ao Superesportes que todos os atletas do grupo evoluíram sob o comando do uruguaio.

"Desde o início do ano, o que ele (Pezzolano) cobra da gente é muita intensidade. Pode ser o treino mais simples que for, ele cobra a máxima intensidade possível. Isso reflete nos jogos. Quem teve a oportunidade de trabalhar com ele aqui este ano aprendeu muito, vai levar muita coisa positiva para a carreira. O profissionalismo do Paulo e sua comissão técnica é muito nítido e fez a diferença durante o ano", disse o camisa 99.

Quem também se rendeu ao Cruzeiro de Pezzolano foi o técnico da Seleção Brasileira, Tite. O comandante canarinho elogiou a marcação alta da Raposa, sua intensidade e o jogo apoiado.

"O Cruzeiro tem vencido alguns jogos a partir da metade do segundo tempo, mostrando uma equipe determinada, de alma, com maior identificação", destacou Tite.

Proposta do Flamengo e renovação antecipada


Quando chegou ao Cruzeiro, no início de 2022, Paulo Pezzolano assinou contrato por apenas um ano. Já nas graças da torcida e com o time tendo bom desempenho dentro de campo, o técnico teve seu vínculo ampliado de forma antecipada. 

Em junho, ele renovou com a Raposa até o fim de 2023. A negociação rápida foi uma das formas que o clube enxergou de blindar Pezzolano de propostas de times brasileiros e também do exterior.

Segundo o colunista Jorge Nicola, do Superesportes, o treinador cruzeirense foi uma das opções procuradas pelo Flamengo para ocupar a vaga deixada pelo português Paulo Sousa, demitido no início de junho. Após a recusa, a equipe rubro-negra fechou com Dorival Júnior. 
 

Números de Pezzolano no Cruzeiro


  • Números totais: 51 jogos, 32 vitórias, nove empates e dez derrotas (68,62% de aproveitamento)

  • Na Série B: 31 jogos, 20 vitórias, oito empates e três derrotas (73,11% de aproveitamento).


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