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Rio de Janeiro vai votar lei após caso de racismo com Vini Jr na Espanha

Deputada estadual Verônica Lima (PT) ainda irá propor Medalha Tiradentes, maior honraria do parlamento fluminense, para atacante do Real Madrid

24/05/2023 14:00 / atualizado em 24/05/2023 15:02
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Vini Jr foi novamente alvo de racismo na Espanha
foto: Maria Jose Segovia/DeFodi Images

Vini Jr foi novamente alvo de racismo na Espanha



A Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) irá votar amanhã o Projeto de Lei (PL) 64/2023, que institui o Dia da Resposta Histórica no Calendário Oficial do Estado. Sob a luz do caso de racismo com Vini Jr na Espanha, a deputada estadual Verônica Lima (PT) protocolou o PL em resposta ao racismo no futebol, iniciativa que já é lei municipal no Rio de Janeiro e em Niterói.


O projeto de resolução também prevê dar a Medalha Tiradentes, maior honraria do parlamento fluminense, ao atacante do Real Madrid. 

- A recorrência dos ataques racistas com o Vini Jr tem chamado atenção. O futebol para o povo brasileiro significa muito e, quando atacam o atleta, ferem a alegria do povo brasileiro, ferem o esporte que gera riqueza e que movimenta a economia do país.  O combate ao racismo é uma das bandeiras que norteiam minha atuação e essa luta se estende ao futebol e a todos os esportes - comentou a parlamentar.


Além da carreira como jogador de Flamengo e Real Madrid, Verônica Lima (PT) ainda destaca que Vini é "um craque na luta contra as desigualdades e preconceitos". Vinicius é fundador e presidente do Instituto Vini Jr., que busca fortalecer a educação pública através da tecnologia e do esporte, e beneficia crianças de 6 a 10 anos de idade.

A carta escrita em 7 de abril de 1924 por José Augusto Prestes, então presidente do Vasco, completará seu centenário no que vem. Conhecida como "Resposta Histórica", é o mais importante e antigo documento da luta antirracista no futebol brasileiro. 



Na época o Vasco, campeão carioca de 1923, foi condicionado a participar da nova associação de futebol (AMEA) - fundada por clubes como Botafogo, Flamengo, Fluminense, América e Bangu - somente se excluísse 12 jogadores de seu elenco.

O argumento era o de se ter maior controle sobre "a moral no esporte" e de se defender "um futebol que fosse puramente amador". Um dos critérios para a exclusão baseou-se no analfabetismo e nas condições sociais dos atletas, todos negros ou de origem humilde.  

- O Dia da Resposta Histórica é uma celebração da luta antirracista no futebol. Está claro que, cada vez mais, precisamos multiplicar essas "respostas históricas", através do amparo aos jogadores negros e da punição exemplar aos casos de racismo, seja por parte da torcida, de outros jogadores, de dirigentes ou de quem quer que seja - afirmou Verônica Lima.

Deputada do RJ quer dar maior honraria do estado para Vini Jr após casos recorrentes de racismo
foto: Maria Jose Segovia/DeFodi Images

Deputada do RJ quer dar maior honraria do estado para Vini Jr após casos recorrentes de racismo

Vinicius Jr foi novamente alvo de racismo


No último domingo (21), na segunda etapa do jogo entre Valencia 1 x 0 Real Madrid, os torcedores presentes no estádio Mestalla passaram cantar, em coro, a palavra 'mono', que significa macaco, em espanhol

Nervoso, Vinicius tentou levar o árbitro até alguns dos torcedores responsáveis, que estavam atrás do gol adversário, mas ele nada fez. Enquanto a confusão acontecia em campo, os alto-falantes do estádio pediam para que os cantos cessassem. Foram oito minutos de paralisação até que o jogo recomeçasse, como se nada houvesse acontecido. 



Pouco tempo depois, uma nova confusão no gramado, e Vini acabou sendo pego pelo pescoço por um adversário. Ao se soltar, ele acertou uma cotovelada em Hugo Duro. Na revisão do VAR, o vídeo só mostrou parte do lance, e o brasileiro acabou expulso.

Ao sair de campo, ele fez o gesto de '2' com os dedos - referência ao rebaixamento do Valencia. Tal gesto ganhou mais importância na mídia espanhola e para o presidente da La Liga, Javier Tebas, que o racismo sofrido em campo

Vinicius se pronunciou de forma dura, rebatendo as acusações de "falta de informação" de Tebas. O Real Madrid prometeu suporte ao atacante, que e ganhou o apoio de personalidades do mundo todo: jogadores em atividade, como Mbappé e Neymar; ex-jogadores; dirigentes; clubes; enquanto subia o nível de pressão sob o futebol espanhol. 



Nesta segunda-feira (22), o tom mudou. Árbitros foram demitidos. Capas de jornais deixavam a cotovelada de lado, pedindo uma postura "antirracista", e apesar de angustiado, o jogador não recuou.

Confira a íntegra da "Resposta Histórica" de 1924



"Rio de Janeiro, 7 de Abril de 1924. 

Officio No 261 

Exmo. Snr. Dr. Arnaldo Guinle, 

M. D. Presidente da Associação Metropolitana de Esportes Athleticos. 

As resoluções divulgadas hoje pela Imprensa, tomadas em reunião de hontem pelos altos poderes da Associação a que V. Exa. tão dignamente preside, collocam o Club de Regatas Vasco da Gama numa tal situação de inferioridade, que absolutamente não pode ser justificada, nem pelas defficiencias do nosso campo, nem pela simplicidade da nossa séde, nem pela condição modesta de grande numero dos nossos associados.

Os previlegios concedidos aos cinco clubs fundadores da A.M.E.A., e a forma porque será exercido o direito de discussão a voto, e feitas as futuras classificações, obrigam-nos a lavrar o nosso protesto contra as citadas resoluções.

Quanto á condição de eliminarmos doze dos nossos jogadores das nossas equipes, resolveu por unanimidade a Directoria do C.R. Vasco da Gama não a dever acceitar, por não se conformar com o processo porque foi feita a investigação das posições sociaes desses nossos consocios, investigação levada a um tribunal onde não tiveram nem representação nem defesa.

Estamos certos que V. Exa. será o primeiro a reconhecer que seria um acto pouco digno da nossa parte, sacrificar ao desejo de fazer parte da A.M.E.A., alguns dos que luctaram para que tivessemos entre outras victorias, a do Campeonato de Foot-Ball da Cidade do Rio de Janeiro de 1923.

São esses doze jogadores, jovens, quasi todos brasileiros, no começo de sua carreira, e o acto publico que os pode macular, nunca será praticado com a solidariedade dos que dirigem a casa que os acolheu, nem sob o pavilhão que elles com tanta galhardia cobriram de glorias.

Nestes termos, sentimos ter que comunicar a V. Exa. que desistimos de fazer parte da A.M.E.A.

Queira V. Exa. acceitar os protestos da maior consideração estima de quem tem a honra de subscrever.

De V. Exa. Atto Vnr., Obrigado.

(a) José Augusto Prestes

Presidente"

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