O OUTRO LADO DO FUTEBOL MINEIRO
Se não der com futebol...
Para não fugir dos holofotes e buscar receitas com o esporte, Sete Lagoas quer sediar provas olímpicas. Democrata e Boca enfrentam o desafio de 'levantar' o estádio local
postado em 28/08/2014 08:00 / atualizado em 27/08/2014 23:25

Bruno Freitas
Enviado especial
Sete Lagoas - Única cidade do interior de Minas escolhida por uma seleção durante a Copa do Mundo - o Uruguai, de Luis Suárez, eliminado pela Colômbia nas oitavas de final - Sete Lagoas, a 72 quilômetros de Belo Horizonte, tenta retomar a tradição do futebol local e também sonha ter Cruzeiro e Atlético de volta a seus gramados.
Se as chances nesse sentido são remotas, a série de reportagens O outro lado do futebol mineiro mostra que o município se move para não sair dos holofotes e viabilizar promoções esportivas que gerem, mais do que atenção ao polo industrial de 230 mil habitantes, retorno financeiro. Na meteórica passagem da Celeste pela cidade (22 dias), o número de visitantes foi bem abaixo do esperado. Uma das perspectivas é sediar provas do maior evento esportivo do mundo, a Olimpíada’2016.
Até lá, duas das equipes profissionais sete-lagoanas, o Democrata (no Módulo II e o Minas Boca (na Segunda Divisão do Campeonato Mineiro de 2015), terão a missão de assegurar o sucesso esportivo do município. Ambas apostarão em atletas da base. Mas a ociosidade provocada pelo calendário estadual, com o segundo semestre esvaziado, vira um fator adicional de dificuldade.
Administrada pela Prefeitura de Sete Lagoas até 2019, a Arena do Jacaré recebeu confrontos de Cruzeiro e Atlético entre 2010 e 2012, mas agora será palco de partidas do Arsenal de Santa Luzia e Futebol Clube de Betim pela Terceira Divisão do Estadual, a partir de 9 de setembro. O Democrata, proprietário do estádio, só ganha a renda do estacionamento no contrato de comodato com o município.
Da presença do Uruguai por lá ao menos houve melhorias no para que o local se tornasse campo oficial de treinamento (COT): a instalação de novas traves de alumínio e a reforma dos vestiários, além da ampliação de um dos muros com mais espaço para placas de publicidade. Em contrapartida, o campo foi reduzido de 110m x 74m para 105m x 68m, dimensões oficiais Fifa.
Para o torcedor, na prática, pouco coisa mudou. O que o move é a paixão em prestigiar o futebol local, como o pequeno público que na terça-feira da semana passada ocupou parte das arquibancadas na goleada do Atlético sobre o Democrata por 5 a 1, pela Taça BH de Futebol Júnior - único outro torneio agendado para a cidade neste ano. “Só o horário do jogo é ruim (15h). Está todo mundo trabalhando”, reclamava Marcelo Júnior Ribeiro, de 15 anos. Membro de uma das três organizadas do Jacaré, a Torcida Uniforme Demoníacos, o estudante balançava solitário, num dos setores vazios, a bandeira vermelha e verde do grupo. Para ele, o grupo do Democrata na Taça BH - montado num prazo de 10 dias - é superior ao profissional, eliminado na primeira fase do Módulo II’2014. “Eles passam vergonha demais”, comenta. Ainda assim, Marcelo sonha: “Espero que no ano que vem o Democrata retorne à Primeira Divisão”.
APOIO A explicação para os maus resultados dentro e fora do gramado está na dificuldade de apoio, apontam dirigentes locais. Embora tenham opiniões distintas sobre como estruturar equipes, ambos concordam que a falta de visibilidade é uma grande barreira. “O fato de o Democrata dar pouco retorno ao patrocinador é a grande dificuldade de base. Estamos tentando reverter um ciclo vicioso”, diagnostica o presidente do Democrata, Emílio de Vasconcelos Costa. Para viabilizar o Jacaré diante de um prejuízo mensal de R$ 6 mil, Costa só enxerga duas saídas: subvenção da prefeitura ou parceria privada. “Em Minas, clube não vive só de patrocínio. A não ser que seja clube de empresário. O Democrata se destaca pela estrutura, nome e tradição. Mas o jogo não pode ter custo. Pagamos cerca de R$ 7 mil para jogar aqui”.
Depois de uma experiência que diz ter sido traumática neste ano, com jogadores veteranos e ações judiciais dos ex-atletas, o presidente do Minas Boca, o empresário Edson Eustáquio Ramos, o Paredão, aposta em parceria com o Ideal - clube amador local - para trazer talentos da base: “Futebol é bom negócio. Só perde para o petróleo. Quero provar isso. Quando assumi o Minas, encontrei jogadores velhos, sem comprometimento. Temos de fazer um campeonato regionalizado sub-20 com equipes baratas e calendário de oito meses”, sugere. E para reduzir custos de hospedagem e alimentação, ele planeja inaugurar em breve um CT na própria fazenda.
Na ponta do lápis
Minas Boca
25
jogadores de base em formação (no clube parceiro, o Ideal), a maioria de Sete Lagoas
R$ 70
mil de investimento anual
R$
738 (salário mínimo) é a média de rendimento dos atletas
Democrata
30
atletas (21 deles inscritos na Taça BH de Futebol Júnior)
R$
10 mil de investimento na Taça BH
R$
6 mil de prejuízo mensal
Sonhando com Atlético e Cruzeiro
Responsável pela operação da Arena do Jacaré (capacidade para 17 mil torcedores), o ex-jogador do Atlético (entre as décadas de 1970 e 1980) Feliciano Alves diz que a Prefeitura vai buscar alternativas para atrair Atlético e Cruzeiro de volta à Arena do Jacaré. “Queremos fazer o melhor preço de aluguel possível.”

“Junto ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB), queremos nos credenciar para receber, além do futebol na Arena do Jacaré, modalidades mais simples, como arco e flecha, que nem todas as cidades acham um grande atrativo”, afirma Maciel. O secretário reconhece que a presença de turistas durante a Copa na cidade foi baixo. (BF)
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