
Qual o tamanho da paixão que Atlético e Cruzeiro exercem sobre seus torcedores? Gritar, cantar, xingar em estádios, todos os fãs do futebol já conhecem e estão acostumados a ver. Mas esse amor pelo clube estrelado e pelo das listras em preto e branco transcende as quatro linhas do gramado. Coincidentemente, em ato de devoção simultânea, dois compositores – o atleticano Júlio Costa Val e o cruzeirense Gabriel Melo resolveram homenagear o momento de suas paixões. O primeiro fez um samba exaltando o sentimento do torcedor alvinegro. O segundo, um novo hino para os celestes.
"Já tinha essa ideia havia muito tempo, por achar que o hino celeste é ultrapassado. É uma música dos anos 1960, que não reflete os tempos atuais. O hino existente não mostra o que o time é verdadeiramente, envelheceu"
Gabriel Melo
Gabriel Melo
Gabriel Melo, de 33 anos, cantor e guitarrista da banda de pop rock Sigma 6, de Arcos, sempre se sentiu incomodado com o hino do time do coração, por não considerá-lo atual, para cima, empolgante. Diante dos últimos sucessos do Cruzeiro, resolveu ajudar e compôs nova música, que pretende apresentar ao presidente do clube, Gilvan de Pinho Tavares, além de vê-la adotada pela China Azul.

Ele conta que a paixão pela Raposa começou cedo. “Sei que meu avô Gilberto, já falecido, era atleticano e queria que eu também fosse. Dizem que me dava camisas do rival, quando eu ainda era de colo. Mas o tempo foi passando e meu pai, Fausto, trabalhou na calada da noite: ele me colocava vestido de Cruzeiro e me punha para ver os jogos. Aí, ainda pequeno, nasceu essa minha paixão.”
A inspiração, diz, surgiu das provocações que sofria de atleticanos. “Aquilo me incomodava muito, como, tenho certeza, não agrada a nenhum cruzeirense. Além do mais, já tinha essa ideia havia muito tempo, por achar que o hino celeste é ultrapassado. É uma música dos anos 1960, que não reflete os tempos atuais. O hino existente não mostra o que o time é verdadeiramente, envelheceu.”
Depois de decidir mudar essa história, Gabriel compôs a letra e pediu auxílio ao primo Gustavo Melo, que mora no Canadá e trabalha com Redações Profissionais Internacionais. “Ele me ajudou de pronto. Entendeu o espírito da coisa e participou da parte musical da composição. A gente ficava no computador, conversando e trocando mensagens. Foram três meses para fazer a letra e dois para musicá-la.”
O resultado foi ao encontro do desejado por Gabriel. “Um hino, para mim, exige garra, tem de mexer com o time, e essa música tem esses ingredientes. Espero que seja adotado e seja a inspiração de muito mais títulos.”
Segundo autor, a “roupagem” da música é o pop rock, mas a estrutura melódica e a letra permitem variações em outros ritmos. “É uma composição bem atual, mais proporcional aos dias de hoje.”
Ouça a música!
Cruzeiro eterno
Autor: Gabriel Melo
Cruzeiro eterno, Cruzeiro império
Raposa, gigante de Minas
melhor time do Brasil
teu manto celeste é sublime história
troféus e craques de ouro
títulos e glórias mil
teu destino é ser o primeiro
nos gramados, reinas, meu Cruzeiro
tua bandeira guia uma nação
sou China Azul, multidão
cinco estrelas gravadas no peito
teu domínio é total, é perfeito
futebol vibrante, vencedor
Cruzeiro conquistador
Cruzeiro eterno, Cruzeiro império
Raposa, mandante de Minas
venerável tradição
teu lema é garra, vontade, vitória
timaço, timaço de ouro
soberano campeão
teu destino é ser o primeiro
nos gramados, reinas, meu Cruzeiro
tua bandeira guia um continente
China Azul, sempre presente
cinco estrelas gravadas no peito
teu domínio é total, é perfeito
futebol ofensivo, empolgante
Cruzeiro, sempre avante
Cruzeiro, sempre avante
'Já virou um talismã'
"Desde que ela ficou pronta, foram quatro vitórias importantes. Contra o Cruzeiro, na final da Copa do Brasil, diante do Santa Fe, do Colo Colo e, por último, da Caldense. E olhem se não vamos derrotar também o Inter lá em Porto Alegre..."
Júlio da Costa Val
Júlio da Costa Val
A família de Júlio da Costa Val, de 51 anos, teve forte influência... do América. Afinal de contas, ele é sobrinho do ex-presidente do Coelho Rui da Costa Val. Mas, assim como quatro irmãos – João Braz, Rubinho, Boy e Mazza –, ele se tornou atleticano, ao passo que outro quarteto – Nando, Andréa, Maria Regina e José Mílton (falecido) – a mãe, Terezinha, e a namorada, Fernanda Siqueira, escolheram ser cruzeirenses. Já o pai, João, torcia pelo Vasco.

Inspirado pela fase iluminada do time, com feitos de abalar os cardíacos, Júlio decidiu exprimir sua paixão pelo Galo. A música, garante, ele ganhou de “presente”. “Dormi e sonhei com a primeira e a segunda estrofes. Acordei com aquilo na cabeça. Daí, resolvi fazê-la inteira. Afinal de contas, o Galo merece, pela paixão de seu torcedor.”
Para compor o restante, Júlio conta que recorreu ao sentimento da Massa. “Foi a torcida que elegeu esse bordão: 'Eu acredito!'. É como se fosse uma profissão de fé. Vem de uma arquibancada vibrante. E o time foi atrás da torcida. O time joga influenciado por ela.” Samba concluído, Júlio decidiu gravá-la. Até hoje, bancou todas as despesas. Primeiro, procurou o amigo Haroldo Falabela, para fazer a capa. Depois, partiu para os músicos. O cantor é conhecido antigo, Niltinho Maravilha. “Ele é nascido e criado no São Lucas, onde me criei.” Para o violão, chamou os amigos Hudson Brasil e Marcelo Diniz. E a mixagem coube ao Estúdio Digiáudio.
Com tudo pronto, o autor tem um sonho: que a música se torne produto oficial do Atlético. “Já conversei com o marketing do clube, por meio da Adriana Branco. Ela gostou e apoiou a adoção da música.” Ele já aponta a obra como talismã: “Desde que ela ficou pronta, foram quatro vitórias importantes. Contra o Cruzeiro, na final da Copa do Brasil, diante do Santa Fe, do Colo Colo e, por último, da Caldense. E olhem se não vamos derrotar também o Inter lá em Porto Alegre...”
Ouça o samba!
Eu acredito
Autor: Júlio da Costa Val
Eu acredito!
E vou com tudo
Com o Galo até o fim
Eu acredito!
Porque não existe
No mundo
Um amor assim
Eu acredito!
Ninguém consegue
Explicar essa paixão
Eu acredito!
Mais uma vez
A massa grita
É campeão
Não existe missão impossível
Todo jogo é uma decisão
Não há adversário invencível
Para a fé que move essa nação
Minha alma é a camisa listrada
Preto e branco é meu coração
Minha crença, eu sou do Galão
Sou da massa, eu sou povão!!!
Eu acredito!
Eu acredito!
Eu acredito!