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VILLA NOVA

Leão na penúria

Vivendo a maior crise de sua centenária história, o Villa Nova luta para sobreviver e voltar aos dias de glória, mas a triste realidade dá de goleada no sonho de recuperação

postado em 01/11/2015 12:00 / atualizado em 01/11/2015 14:00

Rodrigo Clemente/EM/D.A Press
Um dos clubes mais tradicionais do futebol mineiro, com cinco títulos estaduais (1932, 1933, 1934, 1935 e 1951), vive o momento mais difícil de seus 107 anos de existência. Sem dinheiro em caixa, patrocinadores e ajuda do governo municipal, ao contrário de outros tempos, o time para o Campeonato Mineiro de 2016 poderá ser basicamente formado por jogadores recém-promovidos dos juniores. Hoje, o elenco tem apenas três profissionais: o goleiro André, o volante Marcelo Rosa, também conhecido como Balotelli, e o armador Igor. O atual presidente, Nélio Aurélio, luta com dificuldades para tentar novos parceiros.

O estado do Villa Nova é de penúria. Não existem praticamente móveis no clube. Na sala da presidência, no estadinho do Bonfim (Castor Cifuentes), por exemplo, só restam o grande quadro de madeira com fotos dos campeões de 1933 e dois troféus. O restante foi destruído ou espalhado em espaços sob a arquibancada, atrás de um dos gols. Funcionários contam que a ordem de retirada foi do presidente que renunciou recentemente, Aécio Prates de Araújo, que teria desaparecido, inclusive, com alguns troféus.

O clube existe hoje somente por causa de sua base. O time de juniores é a paixão do Leão. Disputando o hexagonal final do Mineiro da categoria, tem boas chances de terminar na terceira posição e garantir vaga na Copa São Paulo, em janeiro. Mas o espaço para os jovens jogadores é quase inaceitável: um alojamento debaixo da arquibancada atrás de um dos gols. Um dos garotos, o armador Ravelli, de 20 anos, tido como promessa, está sentado no único sofá, estudando a Bíblia, o pé esquerdo envolto em gelo sobre uma cadeira – desapareceram os armários para colocar roupas, uniformes e chuteiras. Estas estão espalhadas pelo chão. Buracos no diminuto espaço abrigam os troféus, na maioria quebrados, que contam a história do time da “terra do ouro”.

Rodrigo Clemente/EM/D.A Press
Apesar das dificuldades, Ravelli não desiste de sonhar. “Estão apostando na gente para o Mineiro no ano que vem. Será a realização de um sonho. A oportunidade que não só eu, mas todos os companheiros, esperamos para ter dias melhores, promissores. Vamos fazer o nosso melhor. Queremos muito isso.” Outra promessa, o atacante Wellington, também de 20, vê a chance batendo à porta. “Conversamos sobre isso. É o que todos querem: jogar no profissional e fazer o Villa grande. Somos um grupo entrosado, estamos juntos há muito tempo.”

BASTIDORES TUMULTUADOS A situação vila-novense não é de hoje. O clube padece de uma sequência inacreditável de renúncias de presidentes. A fase conturbada começou com a primeira saída de Anísio Clemente, em 2000. Jean Carlo Pedrosa assumiu o cargo. O time, que vinha de resultados positivos em estaduais e na Copa do Brasil, começou a cair. Anisinho resolveu retornar. “A dívida ainda era administrável na época. Cumpri meu mandato e consegui uma melhora da situação, mas ela pioraria e muito. Quando voltei, em 2014, para concluir o mandato do Jairo Gomes, a dívida já era de R$ 10 milhões. Hoje, pelo que sei, está acima. É muito difícil, uma verdadeira aventura.”

Depois da gestão de Anizinho, em 2005 e 2006, foi a vez de Nélio Aurélio, que acabou de voltar para tentar salvar o clube. Nessa época, o Villa ganhou a Taça Minas Gerais, sua última conquista. Na sequência, o clube foi presidido por João Bosco. Seu sucessor, o ex-zagueiro Luizinho (titular do Brasil na Copa do Mundo de 1982), renunciou com três meses de mandato. “Eram só problemas e ainda por cima as pessoas falavam mal de mim. Os salários estavam atrasados. Com a história que construí dentro de campo, não podia suportar ver destruído tudo o que foi construído, principalmente porque ninguém queria ajudar”, lembra o antigo jogador.

Rodrigo Clemente/EM/D.A Press
Depois de Luizinho, José Raimundo Matos, o Zuca, assumiu por três meses. Nova eleição, em 2010, reconduziu Jairo Gomes ao posto. Reeleito em 2012, ele acabou renunciando em 2013. “Tínhamos um plano. Ele dependia de fazer dois jogos contra o Cruzeiro, no Mineirão, o que colocaria no caixa do clube R$ 2 milhões, o suficiente para mantê-lo para a Série D, com chance de subir à C. O presidente da Federação Mineira, Paulo Schettino, concordou, mas, de repente, mudaram a decisão e disseram que todos os demais deveriam concordar. Alexandre Kalil (presidente do Atlético) não concordou, nos prejudicou. Por isso renunciei.”

Anizinho voltou. Para renunciar no ano passado. Aécio Prates de Araújo foi eleito, mas não conseguiu deter a crise, que incluiu até uma greve dos jogadores contra os salários atrasados, antes de partida contra o Caxias-RS, pela Série D. Mais uma renúncia. Com Nélio Aurélio de volta, o Leão ganhou novo estatuto. Agora, o presidente tem responsabilidades perante o clube e a Justiça. O atual comandante luta para reestruturar o Villa.

O ex-armador Deco, que trabalha para o Porto, esteve em Nova Lima para conhecer o sede social, o estádio e o Centro de Treinamentos, no distrito de Honório Bicalho. Mas a situação precária do centenário clube acabou impedindo uma parceria.

DIREITO ADQUIRIDO, MAS... Em 2000, a Câmara Municipal votou e aprovou uma subvenção social em favor do Villa Nova: a partir daquele ano, o clube teria direito a um repasse anual de R$ 2 milhões por parte da Prefeitura Municipal de Nova Lima, mas isso não vem sendo cumprido. Por meio de sua assessoria de imprensa, o prefeito Cássio Magnani Júnior alega que o município passa por momento difícil, com queda na arrecadação, mas garante que, mesmo assim, “vai haver uma ajuda, mesmo que acanhada, para o Villa Nova”.

LEILÃO QUE NÃO AJUDOU
O Villa Nova tenta anular o leilão de seu parque aquático, realizado neste semestre. A cotação era de R$ 8 milhões, mas o preço final saiu por apenas R$ 1,5 milhão. O clube propõe na Justiça a criação de um condomínio de credores, que seria ressarcido com parte da arrecadação dos jogos. Os vencedores do leilão não ganharam o terreno, mas sim o direito de exploração do espaço onde está o clube social.
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