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PORTUGUESA

Torcida da Portuguesa lança abaixo-assinado por tombamento do complexo do Canindé

Objetivo dos torcedores é impedir a venda do patrimônio para investidores

postado em 30/03/2018 08:19 / atualizado em 30/03/2018 09:15

Divulgação
Torcedores da Portuguesa iniciaram nesta semana um abaixo-assinado para pedir o tombamento do complexo esportivo Doutor Osvaldo Teixeira Duarte, um espaço com 102 mil m² ao lado da Marginal do Tietê. O objetivo dos torcedores é impedir a venda do patrimônio do clube de 98 anos para investidores.

O documento já foi assinado por cinco mil pessoas e destaca que a Lusa está “sob ameaça de desaparecimento". De acordo com Beto Freire, um dos líderes do movimento pelo tombamento, o objetivo é alcançar 50 mil assinaturas e convencer os órgãos públicos a tombar o espaço e manter vivas as tradições da grande colônia portuguesa em São Paulo. “A Portuguesa é um bem do País, representa nossos descobridores e tem importância nacional", diz.

Segundo Freire, o esporte é apenas a “ponta do iceberg" do clube, que tem almoços, jantares, danças e celebrações da colônia portuguesa com frequência há décadas. Existe, ainda, uma estação de metrô com o nome da agremiação e uma das maiores rodoviárias do mundo nas proximidades. “Se o poder público não fizer nada, vão demolir a história, porque a Portuguesa já faz parte da paisagem urbana", argumenta.

Para um imóvel ser reconhecido como patrimônio cultural é preciso identificar sua relevância, seja histórica, arquitetônica, ambiental, social ou afetiva, informa o Departamento de Patrimônio Histórico de São Paulo.

O arquiteto e urbanista José Geraldo Simões Junior, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, explica que para um tombamento ocorrer é preciso justificar a relevância de um local e compará-lo com outros lugares semelhantes, para entender se há um valor “excepcional" no bem a ser tombado. “É preciso entender os atributos que justificam um tombamento, o que pode abranger só uma parte da construção ou todo o terreno", exemplifica.

O especialista, que já foi presidente do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp), explica existir também o tombamento imaterial, caracterizado quando há aspectos relevantes para a cultura e a memória de uma comunidade. Uma vez recebida a proposta, o órgão municipal, estadual ou federal deve avaliar e concluir se as justificativas são suficientes para um tombamento.

No caso do Canindé, o local pode ser analisado a partir de parâmetros como a importância do clube para a formação da região em que está inserido, seu projeto arquitetônico, sua história em relação à história da cidade e aos fatos esportivos de São Paulo, entre outros.

Em 2016, a torcida tentou ação semelhante, que não foi adiante porque o clube não enviou os documentos necessários para o processo ocorrer. Procurada, a diretoria da Portuguesa informou que não vai se manifestar sobre o abaixo-assinado atual.

Em campo, o time vive momento difícil, mas conseguiu se manter na Série A2 do Campeonato Paulista ao terminar a primeira fase em 12º lugar entre os 16 participantes.

NACIONAL CONSEGUIU TOMBAMENTO - Outro clube histórico de São Paulo, o Nacional, conseguiu recentemente aquilo que a torcida da Portuguesa busca. Cobiçado por empreiteiras da Barra Funda, bairro da zona oeste de São Paulo, o estádio Nicolau Alayon foi tombado em dezembro de 2017 e agora vive dias mais tranquilos. Localizado em terreno valorizado na rua Comendador Souza, teve uma de suas arquibancadas e o gramado tombados pelo Conpresp.

Ayrton Santiago, presidente do Nacional, diz que um ponto positivo do tombamento é o “sossego" do clube. “Não vai nos atrapalhar no futuro e facilitou nossa convivência com as imobiliárias’’, conta. “Sempre nos procuraram, mas nunca tivemos o interesse em se desfazer do estádio."

Caso chegue à elite paulista, o clube, hoje na A2, pretende ampliar a capacidade do estádio para 22 mil lugares. “Esse projeto já contava com a possibilidade de tombamento, então iríamos usar o espaço atrás do gol e depois o ao lado das piscinas, deixando o local mais moderno internamente e com a mesma estrutura", explica Santiago.

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