Vôlei
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Gentileza ou molecagem?

Se vestiram camisas em solidariedade ao rival Wallace, vítima de racismo, jogadores do Vôlei Futuro protagonizaram cenas de vandalismo no vestiário do poliesportivo do Riacho

postado em 06/03/2012 07:00

A cortesia dos jogadores do Vôlei Futuro na derrota para o Cruzeiro, por 3 a 1, sábado à noite, pelo returno da Superliga Masculina, ficou só na camiseta. Se em quadra, o time de Araçatuba exibiu uniforme preto com a mensagem “V.F. contra a discriminação”, em solidariedade ao oposto Wallace, do time rival, vítima de preconceito racial na rodada anterior, nos vestiários os paulistas demonstraram seu descontentamento em voltar ao poliesportivo do Riacho, em Contagem: em dois dias no local, quebraram cadeiras, vandalizaram o vestiário e arremessaram bolas e placas de proteção para a arquibancada. O caso foi parar em boletim de ocorrência, lavrado sábado à tarde.

Foi a segunda vez que o Vôlei Futuro retornou ao ginásio desde a polêmica primeira partida da semifinal da Superliga do ano passado, quando o central Michael foi alvo de provocação da torcida celeste. Os gritos de “bicha, bicha” renderam multa de R$ 50 mil ao clube mineiro, que venceu a série por 2 a 1. O triunfo no confronto de sábado, marcado mais uma vez pelo nervosismo, rendeu ao Cruzeiro a liderança da competição, chegando aos 44 pontos, desbancando justamente o rival, que caiu para o segundo lugar, com um ponto a menos.

Desta vez, o clima de tensão começou mais cedo. Na sexta-feira, os jogadores do Vôlei Futuro ficaram bastante irritados com o apagão que atingiu a Região Metropolitana de Belo Horizonte, durante o treino de reconhecimento da quadra. Mesmo diante das explicações do diretor de Esportes de Contagem, Antônio Carlos Marques Mota, os atletas não demoveram a hipótese de sabotagem por parte do Cruzeiro. “Eu tentei levar os jogadores para fora do ginásio para mostrar que o apagão era geral, mas eles não me escutaram. Ficaram muito irritados, começaram a chutar as placas e quase partiram para a agressão”, explicou Antônio Carlos.

VESTIÁRIOS SUJOS No sábado pela manhã, os jogadores do Vôlei Futuro quebraram as cadeiras do vestiário e arremessaram papel higiênico sujo para o teto. Um recado com os dizeres “eu já sabia” foi deixado no local. Diante da impossibilidade do serviço de limpeza e do vandalismo, foi registrado boletim de ocorrência e o delegado da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) designado para a partida, José Maurício, foi notificado. “Não tivemos condições de limpar a sujeira e registramos BO. Tentamos receber bem todos os times em nossa cidade, mas tivemos que recorrer à polícia diante de todos os fatos”, afirmou o diretor.

A diretoria do Vôlei Futuro se pronunciou em nota enviada pela assessoria de imprensa, na qual afirma desconhecer o incidente, mas garante que qualquer excesso ou comportamento inadequado de seus atletas será punido. A equipe abre a 10ª rodada do returno, às 18h45, contra o Sesi, no ginásio Plácido Rocha, em Araçatuba.

 ...Treino para jogo decisivo

 Líder da Superliga Masculina faltando duas rodadas para o fim da fase de classificação, o Cruzeiro se prepara para enfrentar o RJX, amanhã, às 20h, mais uma vez em Contagem. Será o último jogo da equipe em casa antes dos playoffs. Sábado, o time celeste reedita a final da última edição contra o Sesi, às 15h30, em São Paulo. A venda de ingressos começa hoje, na sede administrativa do Cruzeiro (Rua Timbiras, 2903, Barro Preto, das 9h às 17h, e no Ginásio de Contagem (Rua Rio Paraopeba, 1200, Riacho), das 9h às 19h. Os bilhetes custam R$8 (inteira). Outro mineiro classificado, o Minas (quinto lugar) recebe o Volta Redonda, amanhã, às 19h30, em casa.

 Rivalidade, sim. Rixas, não

A Superliga Masculina de Vôlei, favorecida pelo retorno das principais estrelas e, por consequência, pela elevação do nível técnico, está mais acirrada. No entanto, a rivalidade não pode extrapolar a disputa pelo título e ser reduzida a rixas pessoais e clubísticas, como tem acontecido nas últimas rodadas. O vôlei brasileiro, reconhecido pela esportividade, é muito valioso para ser manchado por atitudes desrespeitosas, vandalismo, por empurrões e bate-boca na rede, que mais parecem os tempos de rivalidade entre Brasil e Cuba do que uma competição nacional. Os jogadores precisam lembrar que podem, um dia, defender o clube rival e, principalmente, vestir juntos a camisa da Seleção Brasileira. (RD)