O relógio marcava 18h e o sol já baixava no belo Parque Kitanomaru. Ali, no coração de Tóquio, perto do Palácio do Imperador e do Santuário Yasukuni, é onde fica o Budokan. O local, construído para os Jogos Olímpicos de 1964, conserva a energia espiritual do judô. Do lado de dentro, o espaço para quase 15 mil torcedores estava barulhento, apesar de quase vazio.
No tatame, o tempo parecia parar para a Madina Taimazova - algoz de Maria Portela - e a japonesa Chizuru Arai. Por cerca de 17 minutos, todos os olhos estavam vidrados num mesmo ponto. Até voluntários, funcionários do Budokan e policiais militares japoneses haviam abandonado seus respectivos postos para acompanhar a batalha mais longa do judô nesta edição de Jogos Olímpicos.
Mas Madina não desistiu. A cada paralisação da arbitragem, a russa tomava ar, mirava para as arquibancadas como se estivesse buscando forças do além e se concentrava na luta contra a atleta que, minutos depois, seria campeã olímpica. Mas passar pela algoz de Portela não foi nada simples. Empurrada pelos gritos das arquibancadas, a japonesa contou com o VAR para evitar a derrota e conseguiu um ippon salvador.
Quando Arai foi declarada vencedora e saiu do tatame, Madina estava quase desmaiada e ainda não havia conseguido se levantar. Com apoio dos médicos, ela deixou o local e precisou receber atendimento. "Era impossível eu deixar de competir por causa da lesão. É claro que está doendo, mas eu esqueci que meu olho e meu estômago estão doendo e concentrei na luta. Na segunda luta (contra Maria Portela), ela me machucou com o cotovelo. A cada luta, a dor ficava ainda pior", relatou, aos prantos.
"Eu me concentrei nas oponentes, nas lutas, na disputa. Eu não pensei em nada além disso, não pensei nas dores, lesões. Acho que amanhã meu corpo inteiro vai doer. Durante a luta, eu não pensei em nada disso. Fiz o melhor para conseguir uma medalha e sair vencedora. Eu não podia desistir", completou.
Entre os jornalistas russos, Madina foi comparada com Rocky Balboa, lutador de boxe que é personagem de uma série de filmes produzidos nos Estados Unidos. Madina nunca os assistiu. Mas sabia muito bem quais ensinamentos deveria seguir.