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Cruzeiro: veja receitas nos cinco últimos balanços divulgados pelo clube

Contrato inicial entre clube e Ronaldo prevê aporte de R$ 50 milhões na SAF e R$ 350 milhões atrelados a receitas incrementais considerando a média de 5 anos

24/03/2022 06:00 / atualizado em 24/03/2022 14:21
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Cruzeiro teve faturamento médio de R$ 241,6 milhões com o futebol de 2016 a 2020
foto: Bruno Haddad/Cruzeiro

Cruzeiro teve faturamento médio de R$ 241,6 milhões com o futebol de 2016 a 2020


O presidente do Cruzeiro, Sérgio Santos Rodrigues, e a XP Investimentos garantiram que o contrato definitivo de venda das 90% das ações da Sociedade Anônima do Futebol ao ex-jogador Ronaldo ainda não foi elaborado. As partes se manifestaram após a reportagem do jornalista Rodrigo Capelo, do ge.globo, informar a existência de uma brecha para que o Fenômeno não investisse mais que os R$ 50 milhões iniciais - ele poderia compensar devolvendo percentuais à associação civil.

No dia 16 de março, a Mesa Diretora do Conselho Deliberativo divulgou informações do contrato e avaliou a operação como extremamente vantajosa ao ex-jogador, que não assumiria nenhuma dívida do clube e aplicaria R$ 400 milhões da seguinte forma - R$ 50 milhões na compra e R$ 350 milhões por meio de “receitas incrementais” geradas pelo futebol (venda de jogadores, direitos de transmissão, patrocínio, bilheteria, etc.).

Segundo a diretoria do Conselho, “tais receitas ‘incrementais’ foram definidas como sendo aquelas que suplantassem, a cada ano, a receita média anual apurada com base na média ponderada das receitas auferidas pelo Cruzeiro no período compreendido entre 2017 e 2021”.

Como o balanço de 2021 ainda não foi publicado, o Superesportes usará como base os demonstrativos de 2016, 2017, 2018, 2019 e 2020, considerando somente as receitas operacionais com atividade desportiva profissional. Ou seja, não constam os faturamentos com clubes sociais e esportes amadores (R$ 19 milhões a R$ 25 milhões).

Receitas do Cruzeiro com futebol

  • 2020: R$ 116.123.000,00
  • 2019: R$ 267.554.320,00
  • 2018: R$ 318.857.150,00
  • 2017: R$ 283.382.276,45
  • 2016: R$ 222.404.224,69

De 2016 a 2020, o Cruzeiro acumulou R$ 1,208 bilhão, uma média de R$ 241,6 milhões. A base de cálculo a ser aplicada pelo grupo de Ronaldo é diferente, pois englobará 2021, ano em que o clube permaneceu na Série B do Brasileiro e possivelmente terá um ganho parecido ao de 2020. Nesse caso, o número cairia para cerca de R$ 220 milhões.

Assim, se Ronaldo elevasse os recebíveis do Cruzeiro para R$ 300 milhões, seria como se incrementasse R$ 80 milhões além da média de R$ 220 milhões. Essa quantia só poderia ser atingida se o clube estivesse na Primeira Divisão, tal como ocorreu em 2018 com os R$ 318,8 milhões.

Para 2022, o aporte de R9 é de R$ 50 milhões, dinheiro que ajudará a manter salários em dia e viabilizará o projeto de retorno à Série A. A injeção do capital se faz essencial em virtude da antecipação de cotas de TV e patrocínio do clube até 2023.

Antes de assinar a compra da SAF e com o risco de a transação nem mesmo se concretizar em meio aos questionamentos do Conselho, o empresário desembolsou R$ 23 milhões para o pagamento de dívidas na Fifa e encerrou o transfer ban que impedia o registro de reforços no BID da CBF.

Fontes de receitas

As categorias de receitas predominantes nos balanços do Cruzeiro são venda de direitos econômicos; publicidades e transmissões de TV (incluindo premiações de torneios); patrocínios e royalties; bilheterias; programa sócio torcedor e ‘outras receitas’.

Os títulos da Copa do Brasil em 2017 e 2018 e as participações na Copa Libertadores em 2018 e 2019 ajudaram a impulsionar os ganhos da Raposa, que também lucrou com transferências - a principal foi de Arrascaeta para o Flamengo, em 2019, por R$ 55 milhões.

2020

  • R$ 23,4 milhões - direitos econômicos
  • R$ 40,3 milhões - publicidades e transmissões de TV
  • R$ 33,7 milhões - patrocínios e royalties
  • R$ 1 milhão - bilheterias
  • R$ 11,8 milhões - sócio-torcedor
  • R$ 5,6 milhões - outras receitas

2019

  • R$ 108,1 milhões - direitos econômicos
  • R$ 105,7 milhões - publicidades e transmissões de TV
  • R$ 18,1 milhões - patrocínios e royalties
  • R$ 18,3 milhões - bilheterias
  • R$ 14,1 milhões - sócio-torcedor
  • R$ 3 milhões - outras receitas

2018

  • R$ 45,9 milhões - direitos econômicos
  • R$ 190,7 milhões - publicidades e transmissões de TV
  • R$ 32,5 milhões - patrocínios e royalties
  • R$ 23,9 milhões - bilheterias
  • R$ 23,1 milhões - sócio-torcedor
  • R$ 2,5 milhões - outras receitas

2017

  • R$ 35,1 milhões - direitos econômicos
  • R$ 177,1 milhões - publicidades e transmissões de TV
  • R$ 26,3 milhões - patrocínios e royalties
  • R$ 16,4 milhões - bilheterias
  • R$ 22,3 milhões - sócio-torcedor
  • R$ 5,9 milhões - outras receitas

2016

  • R$ 28,4 milhões - direitos econômicos
  • R$ 130,9 milhões - publicidades e transmissões de TV
  • R$ 26,7 milhões - patrocínios e royalties
  • R$ 31,3 milhões - bilheterias e sócio-torcedor
  • R$ 4,8 milhões - outras receitas

Gastos

Ronaldo ainda não garantiu que assinará contrato de compra de 90% da SAF do Cruzeiro
foto: XP Investimentos/Divulgação

Ronaldo ainda não garantiu que assinará contrato de compra de 90% da SAF do Cruzeiro



Os dados indicam que as cotas de TV e o sucesso esportivo representaram mais de 53% da arrecadação do Cruzeiro com futebol nos últimos cinco anos - R$ 644,7 milhões.  Já a cessão temporária/definitiva de direitos teve peso de 20% - R$ 240,9 milhões.

O que comprometeu severamente a instituição foi a política de sempre gastar acima do faturamento, sobretudo em salários de jogadores, treinadores e dirigentes, comissões para empresários e contratações. A dívida chegou a quase R$ 400 milhões na 'Era' Gilvan de Pinho Tavares e superou R$ 1 bilhão após a temerária gestão de Wagner Pires de Sá, que decretou o rebaixamento do clube no Brasileirão de 2019.

Sérgio Rodrigues, presidente desde junho do ano retrasado, fracassou na missão de recolocar o Cruzeiro na elite nacional - 11º na Série B de 2020, com 49 pontos, e 14º em 2021, com 48. Ele também não conseguiu evitar problemas administrativos como salários atrasados, ações trabalhistas e punições na Fifa por dívidas de contratações de administrações anteriores.

O que mudou com Ronaldo?

A entrada de Ronaldo como sócio-investidor do Cruzeiro encheu a torcida de esperanças por uma temporada de sucesso depois das frustrações em 2020 e 2021. No Mineiro, o time ficou em terceiro em 11 rodadas, com 22 pontos, e ganhou do Athletic por 2 a 0 pela ida das semifinais. Na Copa do Brasil, alcançou a terceira fase com vitórias sobre Sergipe (5 a 0) e Tuntum (3 a 0).

Na Série B, a perspectiva é de briga pelo acesso, principalmente pelo entrosamento sob o comando do técnico Paulo Pezzolano e a adaptação a um estilo de jogo de intensidade, posse de bola e constante busca pelo ataque. Os destaques individuais são os atacantes Edu, com nove gols em 11 partidas, e Vitor Roque, de 17 anos, que marcou cinco vezes em oito jogos.

Os cruzeirenses querem a confirmação da venda da SAF a Ronaldo, porém a negociação está em xeque após o pedido para que as Tocas da Raposa I e II entrassem no processo. A contrapartida seria o clube-empresa assumir a dívida tributária da associação civil, calculada em R$ 180 milhões e com parcelas superiores a R$ 1 milhão até 2032.

Reunião do Conselho Deliberativo marcada para segunda-feira, 4 de abril, às 18h30 (abertura dos portões às 17h30), no Barro Preto, definirá a autorização ou não do repasse das Tocas a Ronaldo. Em live em seu canal no Twitch, o ex-jogador afirmou que será difícil dar sequência à aquisição da SAF se a associação civil não concordar com a mudança.

Vale lembrar que a lei determina a destinação de 20% das receitas mensais da SAF para o pagamento de dívidas da associação civil em um prazo de seis anos, prorrogáveis por mais quatro em caso de liquidação de 60% do débito original. Passado o período máximo de 10 anos, a empresa se tornaria responsável pelas pendências restantes do clube.





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