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Após perda de Roque, Cruzeiro se diz atento para evitar 'novas surpresas'

Diretor de futebol Pedro Martins afirma que clube tem uma equipe 'extremamente competente' fazendo controle de prazos e multas nos contratos dos jogadores

15/04/2022 18:00 / atualizado em 15/04/2022 20:38
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Athletico-PR pagou R$ 24 milhões para contratar Vitor Roque, ex-Cruzeiro
foto: José Tramontin/Athletico.com.br

Athletico-PR pagou R$ 24 milhões para contratar Vitor Roque, ex-Cruzeiro


Após perder Vitor Roque para o Athletico-PR, que depositou em juízo o valor da cláusula indenizatória de R$ 24 milhões, o Cruzeiro garante estar atento para evitar “novas surpresas” envolvendo jogadores das categorias de base. Segundo o diretor executivo Pedro Martins, o clube tem uma equipe extremamente competente para fiscalizar os prazos contratuais e as multas rescisórias dos atletas.

“O clube vem tentando se organizar e se estabelecer como gestão profissional. Hoje o clube tem uma equipe extremamente competente fazendo controle dos prazos, das multas, para que o clube nunca mais seja pego de surpresa como aconteceu em tempos anteriores”.

O dirigente bateu na tecla do “profissionalismo” e da “ética” ao lidar com empresários em renovações ou dispensa dos atletas. Ele citou na entrevista as 139 negociações concretizadas nos cem dias de administração de Ronaldo Fenômeno, que se tornou proprietário de 90% das ações da Sociedade Anônima do Futebol do Cruzeiro.

“Nessas negociações, falamos com mais de 60 agentes. Nesse momento, procuramos recuperar a credibilidade do Cruzeiro e também adotamos uma postura profissional com todos eles, mesmo para dar notícia ruim, mesmo para falar sobre rescisão de contrato, mesmo para fazer saída de um atleta que não era esperada. A nossa postura é frontal, é correta, e a gente espera que isso aconteça conosco também”.

No caso específico de Vitor Roque, Martins reiterou que o Cruzeiro apresentou um plano de carreira ao jogador, porém ele e o seu estafe optaram por sair pela porta dos fundos. O atacante de 17 anos marcou seis gols e deu uma assistência em 11 partidas pelo time principal em 2022. No ano passado, foi protagonista no sub-17, pelo qual balançou a rede 21 vezes em 21 apresentações.

“O clube apresentou um plano de carreira para o atleta procurando valorizar ele não só no âmbito financeiro, mas também como um protagonista dentro da equipe principal. É uma pena que o atleta e o seu estafe optaram por sair pela porta dos fundos. A todo momento o Cruzeiro esteve aberto e quis apresentar soluções para que essa negociação acontecesse de maneira suave e tranquila, inclusive nós chegamos a trocar minutas nessa negociação”.

“Caso” Vitor Roque


O Athletico-PR adquiriu 100% dos direitos econômicos de Vitor Roque após arcar com a cláusula indenizatória desportiva de R$ 24 milhões. O montante corresponde a duas mil vezes o salário mensal de R$ 12 mil recebido pelo jogador na Toca. A transação ocorreu de forma rápida, e o atleta se apresentou ao novo clube na terça-feira (12). O Furacão ainda emprestou à Raposa o zagueiro Zé Ivaldo e o atacante Jajá.

Inconformado com o valor da negociação por um jovem cotado para atuar na Europa e na Seleção Brasileira no futuro, o Cruzeiro emitiu nota oficial na terça-feira com críticas ao CEO de negócios do futebol do Athletico-PR, Alexandre Mattos, e ao empresário de Vitor Roque, André Cury.

“Não nos assusta o fato de tal processo ter sido articulado por André Cury e Alexandre Mattos, ex-diretor de futebol do Cruzeiro - que hoje exerce cargo similar no Athletico Paranaense. É notório que ele faz uso das informações contratuais que carregou do Cruzeiro em benefício de seu novo empregador”, diz trecho do comunicado.

Segundo o clube celeste, “a diretoria estabeleceu diversas conversas e negociações com os agentes, caminhando para a formalização do novo vínculo com o reajuste salarial pretendido por eles para a renovação do contrato de trabalho. Entretanto, em vias de finalizar o negócio, as respostas obtidas começaram a se tornar esparsas e evasivas”.

André Cury se defendeu das acusações da diretoria do Cruzeiro e revelou ter sugerido à gestão de Ronaldo aumentar o salário de Roque por meio de um aditivo. Se isso fosse feito, em teoria, o atacante passaria a ganhar R$ 60 mil por mês e sua multa rescisória subiria a R$ 120 milhões (veja a linha do tempo baseada na versão do empresário).

  • No dia 07/03/2022, um representante de André Cury compareceu à Toca da Raposa para tratar exclusivamente sobre o aumento salarial de Roque. Naquela ocasião foi apresentado como proposta ao Cruzeiro o valor de R$ 60 mil.

  • Em 18/03/2022, o diretor de futebol do Cruzeiro, Pedro Martins, encaminhou mensagem pelo WhatsApp dizendo que "a demanda Roque pode ser que ande".

  • Em 23/02/2022, o Cruzeiro encaminhou mensagem manifestando o aceite do valor solicitado, mas dizendo que isso só seria aceito em caso de novo contrato de trabalho. O que não foi aceito pelo estafe de Roque.

  • Em 25/03/2022, o jurídico do Cruzeiro fez contato com a advogada de Cury e encaminhou novo contrato com o valor de salário de R$ 50.000,00, abaixo daquele acordado. Cury mostra um print da conversa na nota divulgada.

  • Em 30/03/2022, Pedro Martins entrou em contato com André Cury e afirmou que o Cruzeiro somente aceitaria praticar o aumento de salário com a rescisão do contrato vigente e celebração de um novo contrato. Isso não teria sido aceito pelo estafe do jogador.

Já Alexandre Mattos garantiu que Ronaldo e Paulo André ofereceram Roque ao Athletico por R$ 40 milhões, além de pedirem Zé Ivaldo e Jajá. O diretor explicou que precisava conversar com o presidente do clube, Mario Celso Petraglia, e também com André Cury.

Ao tomar conhecimento da multa de R$ 24 milhões, o CAP informou ao Cruzeiro que não poderia pagar uma quantia superior. Em entrevista à Rádio Itatiaia na quarta-feira, Mattos classificou como amadora a condução do processo pela gestão cruzeirense.

“Esse caso mostra como são amadores. E é preocupante para o torcedor cruzeirense, agora todo jogador tem que ser revisto o contrato. O Cruzeiro teria o direito de preferência, mas teria que cumprir pré-requisitos: (1) fazer proposta formal ao jogador e à família, isso não foi feito pelo Cruzeiro - isso poderia ter sido feito em janeiro, fevereiro, semana passada, na última sexta-feira (8), o Cruzeiro não fez isso, não formalizou nada; (2) quando a proposta for formalizada e recebida pelo jogador, essa proposta é enviada à FMF e à CBF, porque são os órgãos que informam aos clubes de boa-fé que o Cruzeiro já exerceu seu direito sobre o jogador. Peço para entrar no site da FMF, não tem nada; não tem nenhum comunicado no sistema da CBF, não consta nada, tanto que a CBF já inscreveu o jogador no Athletico”.

O Cruzeiro, que detinha 50% dos direitos econômicos de Vitor Roque, ficará com R$ 12 milhões da venda ao Athletico, desde que não haja renegociação de valores. Do percentual restante, 35% pertencem ao América (R$ 8,4 milhões), clube pelo qual o atacante jogou até os 14 anos, e 15% são da família do jogador (R$ 3,6 milhões).

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