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CALDENSE

Um sonhador com os pés no chão

Depois de levar o Tupi à final da Série C do Brasileiro no ano passado, Leonardo Condé está diante do feito de tornar a Caldense campeã invicta do Estadual. Mas não se ilude com o oba-oba

postado em 01/05/2015 09:11

Edesio Ferreira/EM/D.A Press
Apaixonada por futebol, a pequena Mariana, de sete anos, ainda não sabe para qual time torcer. Quando o coração começa a se habituar com o alvinegro do Tupi, logo precisa aprender a gostar das cores do Nova Iguaçu ou do Villa Nova ou do Ipatinga ou, desde o fim do ano passado, da alviverde Caldense. O motivo não é indecisão. É a profissão do pai, Leonardo Rodrigues Condé, que, desde a adolescência, influenciado pelo irmão mais velho e sem muito sucesso na lateral direita do clube do bairro, em Juiz de Fora, decidiu pela nada fácil e bastante instável carreira de treinador de futebol.

Responsável por conduzir o Galo Carijó à final da Série C do ano passado, mesmo com o mais baixo orçamento entre os concorrentes, Leonardo Condé está a um empate de levar a Caldense à maior façanha de sua história, o título invicto do Campeonato Mineiro – basta não perder para o Atlético domingo, às 16h, em Varginha. O treinador, de 37 anos recém-completados, faz parte de uma nova geração de profissionais que, mesmo sem nunca ter calçado chuteiras profissionalmente, se dedica desde cedo ao futebol, etapa por etapa: começou em equipes de várzea, formou-se em educação física, foi professor de escolinhas de futebol, treinador das categorias de base de América e Atlético e, desde 2009, tenta se firmar em times profissionais. Apesar de jovem, é calmo e comedido e, por mais de uma vez durante a entrevista, revelou a preocupação em “não passar a carroça na frente dos bois”, em resposta à badalação pela boa campanha da Veterana.

Nascido em Piau, na Zona da Mata, Condé mudou-se cedo para Juiz de Fora, onde passou a acompanhar o irmão mais velho, Juscelino, que mantinha equipes amadoras na cidade. Tentou, sem sucesso, a sorte nos campos de terra batida e, de tanto acompanhar jogadores do time do irmão em testes no Tupi, acabou conseguindo o primeiro emprego de carteira assinada, em 1998, na escolinha do alvinegro. Três anos depois, foi trabalhar na base do América, onde chegou a treinar o profissional em curta sequência em 2005. Também passou pelas categorias inferiores do Atlético, convivendo de perto com os atuais treinadores de Cruzeiro e Galo, Marcelo Oliveira e Levir Culpi, respectivamente – adversário de domingo e de quem não esconde respeito e admiração.

“Sonhava em ser treinador, me preparei, e tudo foi acontecendo. Degrau por degrau. Sempre tomei cuidado para não passar a carroça na frente dos bois”, conta Leo Condé que, mesmo diante da badalação pela boa campanha da Caldense, mantém os pés no chão. “No futebol brasileiro, toda novidade é cercada de grande expectativa. Falo isso porque está acontecendo comigo. Tenho minhas qualidades, mas sei o que preciso melhorar. Não vai ser o resultado de domingo que vai definir se meu trabalho está todo certo ou todo errado”, avalia.

INSPIRAÇÃO Ser treinador sem nunca ter entrado em campo não é uma exceção no futebol brasileiro. Técnico campeão do mundo em 1994, Carlos Alberto Parreira também é oriundo do curso de educação física. Dos treinadores com passagens recentes pelos grandes clubes brasileiros, Oswaldo de Oliveira, Celso Roth, Renê Simões, Ricardo Drubscky e Ney Franco também não foram jogadores.

A sequência de oito jogos sem tomar gols e a forma com que tem organizado a Veterana contra as equipes mais fortes do estado são reflexos das principais influências de Condé. Além dos técnicos com os quais trabalhou, ele destaca três trabalhos que o inspiraram: o Corinthians de Tite em 2012 (ano das conquistas da Libertadores e do Mundial), a Internazionale de Milão de José Mourinho, bicampeão italiana em 2009 e 2010, e a Alemanha campeã mundial no ano passado. “Eram equipes consistentes e equilibradas, muito compactas sem a posse de bola, que marcam atrás da linha da bola e saem rápidas para o contra-ataque.”

Tentar adaptar tal padrão de jogo para um time do interior, com orçamento e grupo enxutos, é um desafio infinitamente maior. “Tem que ser criativo. A gente tenta montar um grupo forte com pouco dinheiro, reza para não ter lesão”, explica Condé, que domingo espera contar, em Varginha, com a torcida da mãe, Cristina, de 78 anos; da esposa, Alexandra, e dos filhos Mariana e Gabriel. “Moram todos em Juiz de Fora, que é minha base, mas espero que estejam comigo. Apesar da vibração, eu, minha família e a dos jogadores estão tentando conter a euforia. Futebol é desafiante, mas prazeroso”, afirma orgulhoso.

QUEM É ELE
Leonardo Rodrigues Condé
Nascimento: 21/4/1978, em Piau (MG)
Clubes: América (2001 a 2006) e Atlético (2006 a 2009), ambos nas categorias de base. Tupi (2009 a 2011 e 2014); Ipatinga (2010), Villa Nova (2011). Nova Iguaçu (2012/2013) e Caldense (2014)
Títulos: Mineiro de Juniores (2004), Mineiro Juvenil (2006) e Copa Rio (2012)

Tags: caldense mineiro final atlético