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FINANÇAS

Especialista alerta para gastos de Atlético e Cruzeiro e diz que dívidas são 'assustadoras'

Amir Somoggi também comentou o caso Arrascaeta e o novo estádio do Galo

postado em 29/04/2019 14:00 / atualizado em 29/04/2019 16:23

<i>(Foto: Montagem - Alexandre Guzanshe e Tulio Santos/EM/D.A Press)</i>

As dívidas de Atlético e Cruzeiro são assustadoras, alerta o especialista Amir Somoggi, diretor da empresa Sports Value. “Atlético e Cruzeiro nos últimos oito anos têm déficits de R$ 200 milhões cada. Isso é preocupante”, frisa. Segundo números divulgados recentemente, Galo e Raposa fecharam 2018 no vermelho: R$21.850.588 e R$ 27.236.795, respectivamente.

Em entrevista ao Superesportes, Somoggi disse que o Cruzeiro “ampliou muito suas dívidas de curto prazo, o que pode gerar estrangulamento financeiro em 2019”. Ele também advertiu para a situação do Galo. “São muitas dívidas com empréstimos que ampliam as despesas financeiras”.

O especialista comentou a polêmica envolvendo a venda de Arrascaeta para o Flamengo. O meia foi negociado em 2019 por 13 milhões de euros (R$ 55,2 milhões), mas o Cruzeiro apresentou as cifras no balanço de 2018 para que o prejuízo na temporada não ultrapassasse os 10% em relação à arrecadação total do ano, conforme regra do Profut - o gasto de R$ 400,5 milhões foi 7,3% maior que o faturamento de R$ 373,5 milhões. “Os clubes fazem o que bem entendem nos balanços. Não existe um órgão disposto a regular com seriedade os clubes”.

Em relação ao Galo, Somoggi vê um socorro financeiro na construção do estádio. “Alguns exemplos de clubes que se deram bem são Palmeiras e Internacional. Eles têm cerca de R$ 100 milhões por ano com o estádio. Para o Atlético isso faria uma diferença brutal no orçamento”, frisou o especialista, que também analisou a situação do América. “Ficou no vermelho, mas é um time muito mais equilibrado que Atlético e Cruzeiro”.




Confira a entrevista com Amir Somoggi, diretor da empresa Sports Value
 
O que é o mais preocupante em parte dos balanços divulgados?
Chama atenção que os três (América, Atlético e Cruzeiro) estão no prejuízo. E quando você vê o acumulado dos últimos anos é assustador. Atlético e Cruzeiro nos últimos oito anos têm déficits de R$ 200 milhões cada. Isso é preocupante.

Como os clubes podem agir para mudar esse cenário?
Como exemplo, vou pegar o Grêmio, que fatura R$ 70 milhões com sócios. Acho que os mineiros têm as mesmas condições para buscar mais apoio do torcedor, fazer ativação, expansão da marca. Isso é um trabalho de marketing forte. Fora isso, gastar menos com o futebol, reduzir a folha.

O Atlético reduziu a folha, tirou os grandes salários como Robinho e Fred e mesmo assim ficou no déficit.
O Atlético viu as receitas caírem com TV, patrocínio, bilheteria, sócios. Só a venda de jogadores aumentou. Então, você tem uma redução de custos, mas é pequeno em relação às perdas que o clube teve, arrecadou menos. O problema do Atlético é histórico, tem dívidas enormes, como Vasco, Botafogo. Você olha os balanços, e o Atlético só fecha no prejuízo. Teve um superávit em 2016, mas por causa de adiantamentos.

Qual a característica da dívida do Atlético?
Apresentou alta nas dívidas de curto prazo de 11%. Essa alta foi especialmente com credores diversos de R$ 5 milhões para R$ 17 milhões e dívidas com outros clubes de R$ 75 milhões para R$ 87 milhões. Já as dívidas de longo prazo cresceram 14%, muito em função da alta dos empréstimos, que passaram de R$ 124 milhões para R$ 196 milhões.  E também credores diversos que passaram de R$ 12 milhões para R$ 40 milhões. São muitas dívidas com empréstimos que ampliam as despesas financeiras do clube, inviabilizando que seja superavitário.

O Cruzeiro tem aumentado a dívida ano a ano. Qual a sua análise?
Em 2015, a dívida do Cruzeiro era de R$ 290 milhões, agora é de R$ 445 milhões. O Cruzeiro não para de gastar com futebol, é chato para o torcedor ouvir isso, mas o clube chegou a R$ 324 milhões com o futebol em 2018. E o clube não fatura isso. O Cruzeiro tinha que gastar R$ 220 milhões, R$230 milhões para ser administrável. Só que fica aquela ilusão do título, que com a premiação vai pagar as contas. Mas, na verdade, a conta não fecha. A dívida vai passando de presidente para presidente, e a situação do clube vai deteriorando.

O quadro do Cruzeiro preocupa para 2019?
O Cruzeiro apresentou alta nas dívidas de curto prazo de quase 20%. Essa alta foi  especialmente empréstimos que passaram de R$ 34 milhões para R$ 50 milhões, dívidas com fornecedores de R$ 24 milhões para R$ 34 milhões e impostos correntes que passaram de R$ 15 milhões para R$ 41 milhões. Houve ainda um grande salto de contas a pagar de R$ 65 milhões para R$ 98 milhões. Já as dívidas de longo prazo caíram 1,5%. Mesmo assim houve aumento de empréstimos de longo prazo que atingiram R$ 43 milhões e provisão para contingências de R$ 15 milhões para R$ 20 milhões. O clube ampliou muito suas dívidas de curto prazo, o que pode gerar estrangulamento financeiro em 2019. Outra questão foi o aumento do não recolhimento de impostos, provando que é possível ser campeão no futebol brasileiro sem que haja qualquer controle ou regulação sobre a gestão dos clubes brasileiros.

Qual a sua opinião sobre a polêmica envolvendo o balanço do Cruzeiro de 2018, que incluiu a venda de Arrascaeta mesmo ele tendo sido negociado em 2019?
Eu estudo os balanços dos clubes há quase duas décadas. E eles fazem o que bem entendem. Não existe um órgão disposto a regular com seriedade os clubes. Os balanços saem do jeito que os clubes querem. Não há quem puna. Tem o Conselho Federal de Contabilidade que pode até tirar o registro contável do responsável. Isso acontece, mas no futebol eu nunca vi. Gostaria que houvesse uma fiscalização mais rígida, mas não há.

Como clubes conseguem reduzir o déficit?
Temos o caso do Flamengo. Enquanto todos os clubes brincavam de ser cigarra, o Flamengo foi formiga. Enquanto todo mundo usava dinheiro de adiantamento de TV, o Flamengo estava pagando conta, usou dinheiro de patrocinador para pagar dívida fiscal, começou a investir na base, revelando jogadores como Vinícius Júnior e Paquetá. Isso tudo é um processo de longo prazo. Desde 2013, o Flamengo começou esse projeto. Tirou dinheiro do futebol para pagar dívida. Hoje, o clube pode contratar o Arrascaeta por mais de R$ 50 milhões. E, se você olha para trás, você vê que Cruzeiro e Atlético conquistaram muitos títulos, investiram alto. Só que esses títulos só aumentaram o rombo financeiro. A sensação é que só um choque de gestão vai resolver os problemas de Atlético e Cruzeiro.

O estádio pode ser uma salvação para o Atlético?
Todos os clubes com estádio eles crescem na fonte de renda com bilheteria e sócio-torcedor. Isso para o Atlético é fundamental, aumentar a receita de sócios e a bilheteria pelo tamanho do potencial da sua torcida. Mas a modelagem do negócio é complexa, a gente não sabe quanto do dinheiro ganho no estádio vai ficar efetivamente com o clube. Alguns exemplos de clubes que se deram bem são Palmeiras e Internacional. Eles têm R$ 100 milhões por ano por causa do estádio. Para o Atlético isso faria uma diferença brutal no orçamento.

O América teve déficit de R$ 3,8 milhões. Como você analisa as contas do clube?
Ficou no vermelho, mas é um time muito mais equilibrado que Atlético e Cruzeiro. Mas vive outra realidade. Quando sobe para a Série A, o América fatura o dobro em relação à Série B. Para o América se estruturar melhor financeiramente, teria que ficar por mais tempo na Série A para aumentar a arrecadação.

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