Vôlei
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O mundo aos pés da mineirinha

Título mundial de clubes recém-conquistado pelo Osasco aumenta a coleção de sucessos da belo-horizontina Sheilla, uma das mais vitoriosas jogadoras da história do vôlei

postado em 21/10/2012 08:39 / atualizado em 21/10/2012 08:42

"Foram fotos sensuais, nada mais do que isso. Gostei muito, mas esse não é meu objetivo. Quero seguir jogando e sonho em ser campeã mundial também pela Seleção", Sheilla, sobre o ensaio para a Vip.

Há dois dias, o Osasco conquistou o título mais importante de sua história: o do Mundial Interclubes, com vitória por 3 a 0 sobre o Rabita Baku, do Azerbaijão, campeão anterior. A competição foi em Doha, no Catar, onde não deu para o vôlei do Brasil comemorar em dobro, pois o Cruzeiro perdeu pelo mesmo placar a final masculina para o italiano Trentino, tetracampeão. Na campanha vitoriosa das meninas brasucas, uma mineira chamou a atenção mais uma vez: a oposto belo-horizontina Sheilla Castro, de 29 anos, eleita de quebra a melhor jogadora do planeta.

Já vai longe o tempo em que ela brincava com uma bola nas aulas de educação física do Izabela Hendrix, colégio onde estudava, no Bairro de Lourdes. Era difícil fazer com que ela largasse o brinquedo preferido, que se tornaria sua companhia inseparável. Hoje ela vive um ano de realizações. Há apenas dois meses, conquistava o bicampeonato olímpico em Londres. De volta ao Brasil, onde trocou o Rio de Janeiro pelo Osasco, conquistou o Sul-Americano de Clubes.

Sheilla não esquece o início da carreira. Destaca seus três primeiros treinadores. Foi o do colégio, Olyntho Nunes de Avelar Júnior, quem a convenceu a integrar o time da escola, onde ministrava educação física e era técnico. “Eu tinha 13 anos”, recorda a atleta.

Seu desempenho nos jogos da escola chamaram a atenção e levaram Olyntho a levá-la ao Mackenzie. No clube, encontrou os treinadores Delicélio e Jamisson. O primeiro, um abnegado, é daqueles que abre mão de horas de sono para observar possível atleta. E Sheilla o encantou logo de cara. Ele se recorda da menina alta e franzina, que tinha “mão boa”. Delicélio é o descobridor de outros talentos das quadras, como Érika Coimbra, a quem viu atuar em pelada de rua no Bairro Rio Branco, em Venda Nova.

A chegada de Sheilla foi em 1997. Lá ela encontrou o carinho e o apoio que lhe permitiram se revelar. “Sinto saudades desse tempo. Todo mundo se preocupava comigo, vinha perguntar se estava me sentindo bem, se precisava de alguma coisa. Tinha o grupo das Damas de Ouro, que estava em todos os jogos e em muitos treinos. Sempre me incentivavam. Não esqueço isso nunca.”

O desempenho da menina no clube a levou logo à Seleção Mineira e despertou a atenção de outros treinadores, que passaram a assediar o Mackenzie. Um deles foi Bernardinho, então treinador do Curitiba, time que mudou de estado e é hoje o Rio de Janeiro. Mas o clube mineiro resistiu ao assédio inicial. Entendia que a jogadora precisava amadurecer aos poucos. Ainda na base, Sheilla chegou à Seleção Brasileira, ajudando na conquista dos títulos sul-americano e mundial.

INSPIRADA PELOS ÍDOLOS

A tentativa de levá-la embora acabou desencadeando campanha para que não deixasse Minas. Deu certo, pois em 2001 o Minas a contratou, em raro acordo entre os clubes. Na nova casa, ela encontrou duas atletas que reverencia como ídolos: a levantadora Fofão e a romena Cristina Pirv, também oposta. “Cheguei muito nova e as tinha como referências. Elas jogavam demais. Treino e jogo para elas era a mesma coisa. Davam o máximo. Tinha apenas 16 para 17 anos e ficava impressionada com o que via. Elas foram minhas fontes de inspiração.”

Aos 19 anos, em 2002, Sheilla festejava seu primeiro título da Superliga. Com ele se firmou no cenário nacional e passou a ter o nome cotado para a Seleção. Ela acabou fazendo parte da renovação do técnico Marco Aurélio Motta, hoje na Turquia. Fabiana, Paula Pequeno, Mari e Jaqueline também estavam nessa jovem equipe. Mas, sem resultados, Marco Aurélio acabou caindo e José Roberto Guimarães foi chamado. Desde então, Sheilla é nome certo nas convocações.

Mas era preciso evoluir e a chance apareceu em 2004, quando a mineirinha se transferiu para o Pesaro, da Itália. “Lá encontrei um ambiente familiar. Todo mundo se ajudava. E foi tudo muito importante, pois pude conhecer um outro vôlei. A Itália me fez crescer mais.”

A passagem pelo Pesaro durou quatro temporadas. Em 2008, voltou ao Brasil, começando nova história de conquistas e satisfação, principalmente com a Seleção. No mesmo ano, a maior frustração da carreira, a perda do ouro nos Jogos Pan-Americanos Rio’2007, foi plenamente compensada, com o inédito título olímpico, em Pequim. Sua primeira equipe no retorno ao país foi o São Caetano, com participação discreta. No Rio de Janeiro, ela voltou a conquistar a Superliga. Este ano, recém-chegada ao Osasco, já curte duas conquistas: o Sul-Americano e o Mundial.

CAPA DE REVISTA

Uma das mais vitoriosas jogadoras da história do vôlei brasileiro, Sheilla inicia também nova vida extra- quadra. Acaba de realizar pela primeira vez um trabalho de modelo, tendo sido capa da revista Vip, cujas páginas estampam um ensaio sensual da atleta. “Foi um acontecimento diferente. Foram fotos sensuais, nada mais do que isso. Gostei muito, mas esse não é meu objetivo. Quero seguir jogando e sonho em ser campeã mundial também pela Seleção. Aliás, todo o nosso grupo tem esse objetivo.”

CINCO PERGUNTAS PARA...

Sheilla, oposto do Osasco e da Seleção Brasileira


Você acaba de conquistar um título inédito. Curiosamente, não tem o equivalente pela Seleção...

Estou muito feliz. É isso mesmo, conquistei um título que ainda não tinha. Sou campeã mundial. Não é uma conquista só minha, mas também de todo o grupo. Foi uma explosão de alegria dentro da quadra, de todas nós.

E quando virá o título mundial com a camisa do Brasil?

Costumo dizer que só o tempo poderá dizer se seremos campeãs mundiais. Quero muito. É o título que falta para o Brasil e isso é muito importante. Já temos dois ouros olímpicos, mas esse é um troféu que falta. É sem dúvida o objetivo principal da Seleção. Penso uma coisa de cada vez. A prioridade agora é a semifinal do Paulista contra o Pinheiros. Depois, sim, poderemos pensar em outras competições.

Como é olhar para trás e comparar com o início da carreira? Esperava tantas conquistas?

Não sabia nada sobre o que era o vôlei quando comecei. Era criança, não tinha noção de nada, a dimensão que tinha no Brasil e muito menos no mundo. Quando comecei no Mackenzie, na Seleção Mineira, na Brasileira, sequer lia sobre vôlei. Só queria entrar em quadra e jogar. Hoje é tudo diferente e a minha preocupação é somente evoluir, não sozinha, mas com todo o grupo que estiver junto.

Há muita diferença entre um Mundial de Clubes e um de seleções?

Não existe muita diferença entre competições de clubes e de seleções. Um Mundial de Clubes, uma Olimpíada, um Mundial têm sempre as melhores jogadoras, as melhores equipes. Acho que tanto no feminino quanto no masculino existe um equilíbrio nas competições de clubes e de seleções. Elas se equivalem.

Você, Thaísa, Adenízia, Jaqueline e Fernanda Garay podem conquistar quatro títulos na temporada, pois o Osasco é campeão da Superliga e sul-americano e vocês foram bicampeãs olímpicas...

Não tinha pensado nisso, quatro títulos em um só ano. É demais. Nunca ouvi falar de nenhum time que tenha alcançado isso. É até bom, pois vou falar para as meninas. É um estímulo a mais. Ajuda a querer vencer cada vez mais.