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FÓRMULA 1

Especialistas explicam lesão sofrida pelo francês Jules Bianchi

Profissionais não acreditam em recuperação sem lesão

postado em 19/10/2014 20:21

Sílvia Mendonça

AFP PHOTO / POOL / VALDRIN XHEMAJ
Quando o piloto de Fórmula 1 Jules Bianchi, de 25 anos, sofreu um acidente no Grande Prêmio do Japão, há duas semanas, fãs viveram momentos de tensão ao se depararem com imagens fortes. Ao perder o controle de sua Marussia, Bianchi se chocou com um reboque que retirava o carro de Adrian Sutil da área de escape. Era de se esperar que o francês saísse com vários ferimentos visíveis, mas, para surpresa geral, as imagens divulgadas mostravam que o capacete — e, consequentemente, a cabeça — do piloto não havia sido acertado no choque. As aparências, no entanto, enganam e, no caso de Bianchi, as consequências da batida são gravíssimas.

Segundo especialistas ouvidos pelo Correio, o piloto sofreu uma lesão axonal difusa — quando o cérebro se movimenta violentamente dentro do crânio — e luta, primordialmente, para sobreviver. Caso ele sobreviva, a gravidade das sequelas poderá ser definida em alguns meses, quando o cérebro do piloto desinchar completamente e, quem sabe, ele acordar do coma.
Arte

De acordo com o neurocirurgião Nelson Saade, coordenador do Departamento de Trauma e Terapia Intensiva da Sociedade Brasileira de Neurocirugia, 50% dos traumatismos graves, como o de Bianchi, têm lesões graves. “O paciente pode ficar inconsciente para o resto da vida. Em casos mais leves, leva dois meses para acordar do coma e, com reabilitação, fica com o mínimo de sequelas. Mas, se em seis meses ele não acordar, dificilmente vai ter uma vida normal”, projeta.

A lesão axonal difusa ocorre quando o cérebro é submetido a uma desaceleração brusca. No caso de Bianchi, estima-se que ele estivesse a uma velocidade de 140km/h a 160km/h quando foi abruptamente parado pelo impacto da batida. Dessa forma, o cérebro do piloto foi, literalmente, chacoalhado dentro da caixa craniana. Esse atrito pode causar o rompimento de células nervosas entre as substâncias branca e cinzenta — acarretando a perda de neurônios (veja arte).

De acordo com Renato Anghinah, coordenador da Comissão Interdisciplinar de Trauma Cranioencefálico (TCE), da Academia Brasileira de Neurologia, caso o paciente resista às três ou quatro primeiras semanas, a chance de sobrevivência é grande. “Cerca de 80% sobrevivem, mas o grau do coma e as sequelas variam bastante”, adverte. No caso de Bianchi, o médico não se mostra otimista: “Não dá para afirmar, mas é praticamente certo que ele tenha lesões graves. Primeiramente, seria fantástico ele sobreviver. Em seguida, ele acordar. Mais fantástico ainda seria ele acordar e ter vida funcional”, analisa.