Há 40 anos, o futebol brasileiro perdia um de seus grandes craques. O armador Tostão, revelado pelo Cruzeiro e então no Vasco, decidiu encerrar a carreira, aos 26 anos, por causa de um problema no olho esquerdo. O jogador havia sido reexaminado, em Houston (EUA), pelo médico mineiro Roberto Abdala Moura (que o operou em 1969) e anunciou sua decisão em 5 de agosto de 1973, um domingo à noite. “Tostão volta amanhã. Vai estudar” foi a manchete do Estado de Minas no dia 7 – o jornal não circulava às segundas-feiras.
A reportagem contava como o jogador havia encarado a difícil decisão. “Tostão não ficou desesperado ao ouvir em Houston o veredicto do dr. Roberto Abdala Moura, de que seria muito perigoso à sua saúde continuar jogando futebol, estando sujeito a novos descolamentos de retina (já teve três), novas operações (três também) e até mesmo a perder a vista esquerda. Ele aceitou resignado esta decisão.” O drama do jogador começou em setembro de 1969, quando levou uma bolada no olho esquerdo num chute do zagueiro Ditão, no jogo entre Cruzeiro e Corinthians, no Pacaembu.
O jornal também antecipava o futuro de Tostão, afirmando que ele rescindiria seu contrato com o Vasco, venderia o apartamento no Jardim Botânico, no Rio, e voltaria a estudar em Belo Horizonte. “Tostão não vai existir mais. No lugar dele, vai ficar o homem de negócios Eduardo Gonçalves de Andrade, decidido a fazer o vestibular no começo de 1974 e tentar matrícula no curso de administração de empresas ou psicologia”. Apenas o curso escolhido não se confirmou: Tostão optou por medicina. “O Brasil e o Vasco perdem um de seus mais talentosos profissionais”, definiu o EM.
No dia 9, o jornal noticiava a chegada do jogador ao Rio: “Tostão confirma: Eu parei mesmo”. “Infelizmente, não será possível continuar, mas isso não me perturbou e nem causou desespero porque eu já sabia que seria muito difícil continuar jogando bola”, afirmou o jogador.
FUTURO Tostão confirmava que pretendia voltar a Belo Horizonte para cuidar de seus negócios (um posto de gasolina, uma loja de artigos esportivos e aluguéis), além de retomar os estudos. Quanto a sua futura ligação com o futebol, o jogador previa: “Talvez eu volte a lidar com o futebol de alguma maneira, porque gosto muito dele. Mas não é minha intenção. Gosto de futebol, mas, por enquanto, não quero me prender a ele. É bom também não fazer nenhuma afirmação nesse sentido. A gente nunca sabe o que pode acontecer amanhã”.
Tostão esperava rescindir seu contrato com o Vasco sem maiores problemas, já que havia recomendação médica para encerrar a carreira. Mas não foi o que ocorreu. O clube carioca entrou na Justiça querendo receber de volta as luvas dadas ao jogador e o valor pago ao Cruzeiro pela transferência. Tostão ganhou na Justiça os salários atrasados do período em que ficou em tratamento – mas não até o fim do contrato, como pretendia.