Vôlei
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RACISMO NO VÔLEI

Testemunha relata ato de injúria racial contra Fabiana no jogo entre Minas e Sesi na Arena

Estudante reclamou da falta de revista no ginásio do Minas Tênis Clube, uma vez que autor das injúrias estaria armado e ainda assim entrou no local

postado em 28/01/2015 15:27 / atualizado em 28/01/2015 16:37

Alexandre Arruda/CBV
A estudante Ludmila Duarte Elias, de 21 anos, não se conforma com a atitude de policiais militares que liberaram um rapaz acusado de injúria racial contra a jogadora de vôlei Fabiana, do Sesi, durante partida contra o Minas, na terça-feira à noite, na Arena JK, em Belo Horizonte. Segundo ela, o rapaz gritava “banana”, “isso mesmo, joga banana”, toda vez que Fabiana pegava a bola.

“Olhei, e vi a jogadora Carla comendo uma banana. Olhei de novo e vi um senhor falando com o rapaz: ‘para com isso, elas são atletas. Você é racista’. E o rapaz reagiu dizendo que não iria parar, que não estava na casa do idoso para ele ficar mandando ele parar. O senhor disse que iria chamar a polícia, que era falta de respeito. E o rapaz gritou com ele: ‘Chama a polícia, mesmo. Não vou ficar calado com a polícia’. E disse: ‘Eu estou armado’. O idoso saiu e todo mundo ficou calado”, conta Ludmila.

A estudante conta que discutiu com o rapaz, alertou que era falta de respeito e ele começou a gritar. “Eu estava muito nervosa. Desci e falei que iria chamar a polícia. Meus amigos começaram a gritar ‘racista’, ‘racista”, conta Ludmila, que disse ter ficado constrangida pelos parentes das jogadoras que estavam sentados ao lado. Segundo ela, outras jogadoras foram vítimas do preconceito do rapaz, sendo chamadas de “sapatão” e “favelada”.

Sensação de insegurança

Ludmila disse ter reclamado da organização do evento pelo fato de não haver revista dos torcedores na entrada do ginásio. “O rapaz poderia estar armado. Você compra o ingresso e passa. Ninguém olha se as pessoas estão armadas. As pessoas ficaram caladas com medo do rapaz. Eu não tinha escutado que ele estava armado e, por isso, o enfrentei. Só depois que os meninos me falaram. Eu não entendi porque estava todo mundo em silêncio e eu brigando com ele. O rapaz não parecia uma pessoa normal. Estava sozinho. Para mim, ele estava bêbado, com os olhos vermelhos. Quando a polícia chegou, ele não falou mais nada”, disse a estudante.

Segundo a estudante, os PMs não registraram o boletim de ocorrência como injúria racista ou preconceito, mas como sendo “atrito verbal”. “Os policiais disseram que a vítima teria que fazer a queixa, mas, as jogadoras não poderiam largar o jogo naquele momento e o rapaz foi liberado”.

No boletim de ocorrência da PM, que o Estado de Minas teve acesso, citam os nomes de Ludmila, de um porteiro de 43 anos, um biólogo de 30 e um aposentado de 65, mas não consta o tipo de envolvimento deles na ocorrência de “atrito verbal”, apenas que eles gritavam “palavras de baixo calão”. “A equipe de segurança do Minas Tênis decidiu separá-los e acionar o policiamento local para manter a ordem pública no evento esportivo. A partida de vôlei finalizou e os torcedores saíram da arena sem maiores transtornos”, consta no boletim de ocorrência.

A jogadora Fabiana divulgou uma nota sobre o episódio. “Vivenciar isso é difícil e duro! Vivenciar isso na minha terra, torna tudo pior! Ontem, durante o jogo contra o Minas, um senhor disparava uma metralhadora de insultos racistas em minha direção. Era macaca quer banana, macaca joga banana, entre outras ofensas. Esse tipo de ignorância me atingiu especialmente, porque meus familiares estavam assistindo a partida”, lamentou a atleta.

Fabiana disse ter refletido muito sobre divulgar ou não o que aconteceu, mas concluiu que falar sobre o racismo ajuda a colocar a questão em discussão. “Eu não preciso ser respeitada por ser bicampeã olímpica ou por títulos que conquistei. Isso é besteira! Eu exijo respeito por ser Fabiana Marcelino Claudino, cidadã, um ser humano. A realidade me mostra que não fui a primeira e nem serei a última a sofrer atos racistas, mas jamais poderia me omitir”, escreveu a atleta. “Não cabe mais tolerarmos preconceitos em pleno século XXI. A esse senhor, lamento profundamente que ache que as chicotadas que nossos antepassados levaram há séculos, não serviriam hoje para que nunca mais um negro se subjugue à mão pesada de qualquer outra cor de pele. Basta de ódio! Chega de intolerância!”, conclui Fabiana. A assessoria do Minas Tênis informou que o clube se solidariza com Fabiana, repudia os atos de racismo e que vai divulgar uma nota à imprensa sobre o episódio.

A Polícia Militar informou que o crime de injúria racial é de ação pública condicionada à vontade da vítima e que a jogadora não registrou queixa.

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