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Cruzeiro inclui inquérito da PC em ação de Dodô e revela que gestão Wagner prometeu R$ 3,3 milhões de comissão a empresário do lateral

Agente indiciado assinou acordo de intermediação como testemunha

postado em 20/08/2020 16:03 / atualizado em 20/08/2020 17:30

(Foto: Vinnicius Silva/Cruzeiro - 24.01.2019)
O Cruzeiro incluiu, nesta quinta-feira, o inquérito da Polícia Civil (PC) como prova de defesa na ação movida pelo lateral-esquerdo Dodô na Justiça do Trabalho. No último dia 13, a juíza Flávia Fonseca Parreira Storti determinou que o clube celeste reative o contrato do jogador, que prevê pagamento mensal de R$ 917,2 mil entre março e novembro de 2020 (veja abaixo outros detalhes da ação).

Além do inquérito, que é mantido em sigilo, mas cujos alguns detalhes foram revelados pela Polícia Civil durante entrevista neste mês, o Cruzeiro incluiu um documento, assinado durante a gestão do ex-presidente Wagner Pires de Sá, de compromisso de pagamento de comissão aos agentes de Dodô. Os valores chamam a atenção: R$ 3,3 milhões divididos em 18 parcelas de R$ 183.333,33.

(Foto: Reprodução)

Ex-vice-presidente de futebol, Itair Machado assina o documento pelo Cruzeiro. Outra parte do acordo, a 4COMM Marketing e Carrer é representada por seu sócio, Júnior Pedroso. Entre as testemunhas, aparece a assinatura do procurador de jogadores Wagner Cruz, um dos quatro empresários indiciados pela Polícia Civil. Cruz admitiu, em depoimento à PC, ter participado das negociações.

Atual supervisor administrativo do Cruzeiro, Benecy Queiroz foi o responsável por assinar, em 26 de janeiro de 2019, uma carta ao departamento financeiro do clube cobrando o pagamento a Júnior Pedroso. Esse documento também foi incluído pelo clube celeste na ação movida por Dodô na Justiça. 

Outro lado


Procurado pelo Superesportes, Júnior Pedroso disse que nunca recebeu qualquer parcela do acordo. “Não foi pago nenhuma parcela e tinham me autorizado a emitir duas notas (fiscais) e mesmo assim não foram pagas”, garantiu.

Ele também foi questionado sobre o valor de R$ 3,3 milhões. "Existe uma orientação da Fifa para gente trabalhar um percentual de 5% a 10%. Isso vai variar do jogador e do quanto o clube quer o jogador", disse. 

"O contrato do Dodô era grande, ele vinha com referência de salário da Sampdoria. A gente só pegou o salário da Sampdoria e tranferiu na moeda euro da época, que deu o salário que ele recebe. Como ele veio livre e tinha uma composição de dívida da Sampdoria com ele, que ele abriu mão, o Cruzeiro arcou com isso porque não teve o dinheiro da transferência. Esse valor das luvas, o Cruzeiro não pagou. Não quis pagar. No valor do salário, acertamos (a comissão) em 7%", complementou. 

Sobre a assinatura de Wagner Cruz como testemunha do contrato, Pedroso deu a seguinte declaração: "Ele estava presente no dia e por isso deve ter assinado como testemunha. Ele é uma pessoa de confiança do Cruzeiro, tem ou tinha bom diálogo no clube", justificou. Apesar disso, Wagner Cruz disse, em depoimento à Polícia Civil, que participou das tratativas.

O Superesportes também procurou Itair Machado, Wagner Cruz e Wagner Pires de Sá, todos citados na reportagem, e aguarda os posicionamentos. 

Dodô na Justiça


Na Justiça do Trabalho, Dodô pede que o contrato com o Cruzeiro seja reativado nos moldes originais. A defesa celeste entende que as cláusulas sejam anuladas por considerá-las lesivas à instituição.

O contrato firmado pelo Cruzeiro com Dodô prevê pagamento mensal de R$ 917,2 mil brutos ao jogador de março a novembro de 2020. O valor é mais de seis vezes superior ao ‘teto’ de R$ 150 mil estabelecido pelo clube, que teve queda substancial nas receitas em razão do rebaixamento à Série B do Brasileiro.

Dos R$ 917,2 mil, R$ 330 mil são de salários e R$ 587,2 mil a título de luvas. Considerando 13º e um terço de férias em 2020, o valor atingiria R$ 1,35 milhão em dezembro. De janeiro de 2021 a dezembro de 2023, o atleta contaria exclusivamente com os vencimentos por mês.

De acordo com o documento, datado em 23 de janeiro de 2019, o ordenado do lateral-esquerdo era dividido em R$ 297 mil de salário-base e R$ 33 mil de acréscimo remuneratório, não havendo, portanto, direitos de imagem.

Os R$ 8,8 milhões de luvas seriam parcelados em 18 vezes: a primeira, de R$ 366 mil, em fevereiro de 2019; da segunda à oitava, também de R$ 366 mil, de agosto de 2019 a fevereiro de 2020; e as dez restantes, de R$ 587,2 mil cada, de março a dezembro de 2020.

Contando luvas, salários e direitos econômicos, o Cruzeiro teria um gasto médio anual de R$ 6,65 milhões com Dodô, totalizando aproximadamente R$ 33,25 milhões em cinco anos de contrato.

Dívida


De acordo com a petiçã inicial, Dodô não treina de maneira adequada desde o início do ano, quando o Cruzeiro comunicou, em 10 de janeiro, que ele estava liberado para procurar outro clube. Nesse período, o atleta não recebeu um mês sequer de salário, segundo afirmou seu empresário, Junior Pedroso, em entrevista ao canal do jornalista Jorge Nicola, no YouTube, em 5 de maio.

O conselho gestor que administrou o Cruzeiro antes do presidente Sérgio Santos Rodrigues fez uma proposta para a reintegração do lateral ao grupo, porém as partes não chegaram a um acordo. O clube queria bases diferentes do vínculo original, contestando principalmente os R$ 8,8 milhões em luvas, e a repactuação dos vencimentos do atleta dentro do limite de R$ 150 mil.

Contratado sob alta expectativa após boa temporada pelo Santos em 2018, Dodô frustrou grande parte da torcida do Cruzeiro. Na maior parte de 2019, sem conseguir regularidade, amargou a reserva de Egídio, mesmo com o titular sofrendo com muitas críticas. O ponto positivo nos 28 jogos do lateral-esquerdo foi um belo gol de fora da área, marcado na vitória por 4 a 0 sobre o Huracán, da Argentina, na fase de grupos da Copa Libertadores.

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