A categoria melhor goleiro é recente no “Oscar” do futebol. O italiano Buffon conquistou a estatueta em 2017. O belga Courtois arrematou no ano passado. Em jejum na categoria mais importante há 12 anos, ou seja, desde a consagração de Kaká em 2007, e desfalcado da recordista Marta na premiação feminina, resta à pátria de chuteiras trocar os pés pelas mãos, vestir as luvas e torcer pelo titular e o reserva de Tite na Seleção.
Aos 26 anos, Alisson levou o Liverpool ao título da Champions League na temporada 2018/2019. No meio do ano, conquistou a Copa América e a Supercopa da Europa. Não seria exagero ele disputar o prêmio de melhor do mundo com o zagueiro e companheiro de time Virgil van Dijk, Lionel Messi e Cristiano Ronaldo. Com a mesma idade de Alisson, Ederson conquistou a Premier League, a Copa da Inglaterra, a Copa da Liga Inglesa e a Supercopa da Inglaterra. Azarão, Ter Stegen deu a volta olímpica no Campeonato Espanhol. E só.
No mês passado, Alisson igualou feito de Julio Cesar ao ser eleito pela Uefa o melhor goleiro da Europa. O arqueiro aposentado foi o primeiro a conquistar a distinção em 2009/2010. Na época, brilhou na tríplice coroa da Inter: Champions League, Campeonato Italiano e Copa Itália. O evento da Uefa é uma prévia do Fifa The Best. Logo, o favoritismo é de Alisson.
Em entrevista exclusiva ao Correio, Julio Cesar exalta a revolução da escola brasileira. “Fico muito feliz com essa fase do Alisson e do ‘Ed’. De certa maneira, colaborei para isso com Dida, Taffarel e outros da minha geração, como Helton, Gomes, Doni, o próprio Diego Alves, que voltou a jogar no Brasil”, afirma. “É uma nata de goleiros que vem fazendo um trabalho maravilhoso nos últimos 10 anos. Hoje, o goleiro brasileiro tem um grandíssimo respeito.”
Julio Cesar recorda o preconceito sofrido pelos goleiros até pouco tempo. “Na minha época, se falava muito do camisa 10, do número 9, e do goleiro brasileiro falava-se pouco, era pouco respeitado. Essa mudança ajuda um pouco para que outros nomes concretizem o sonho de atuar fora do Brasil, aqui na Europa”, diz Julio Cesar, radicado em Portugal.
Titular da Seleção nas Copas do Mundo de 2010 e 2014 e segundo reserva em 2006, Julio Cesar trabalhou com Ederson no Benfica. Conhece de perto o trabalho do pupilo de Pep Guardiola. Porém, aposta no sucesso de Alisson no Fifa The Best. “A vitória coletiva (do Liverpool) abrilhanta o individual. Isso é normal. Que essa fase deles seja duradoura e que muitos clubes continuem apostando nos goleiros brasileiros aqui fora”, torce.
Contramão
Enquanto Alisson e Ederson driblaram o preconceito nacional e internacional, Ter Stegen representa uma escola consagrada. Em 2014, Neuer disputou o prêmio de melhor jogador do mundo com Lionel Messi e Cristiano Ronaldo. Oliver Khan foi eleito o melhor da Copa 2002 antes mesmo de sofrer dois gols de Ronaldo “Fenômeno” na final. De 1999 a 2002, faturou quatro vezes consecutivas a estatueta de número 1 da Europa oferecida pela Uefa. Além de Neuer e de Khan, Sepp Maier mereceu a Luva de Ouro na Copa 1974.
Ederson e Ter Stegen se diferenciam de Alisson pela qualidade com a bola nos pés. Favorito ao prêmio, o titular de Tite tem evoluído no fundamento, mas ainda está aquém dos concorrentes. Apesar das indicações ao prêmio, os brasileiros iniciaram a temporada 2019/2020 dando sustos. Alisson falhou feio em um amistoso de pré-temporada contra o Lyon. Ederson errou na saída de gol, e o Peru balançou a rede na derrota da Seleção neste mês, em Los Angeles. O alemão Ter Stegen engoliu alguns frangos na temporada anterior, mas participará da festa.
Cannavaro
Depois de o surpreendente croata Luka Modric quebrar a série de 10 anos de alternância de Lionel Messi e Cristiano Ronaldo como vencedor do prêmio de melhor do mundo da Fifa, chegamos ao dia em que o zagueiro Virgil van Dijk coloca o argentino e o português na constrangedora posição de zebras na eleição do prêmio de melhor do mundo.
O beque holandês pode repetir o feito do italiano Fabio Cannavaro, consagrado em 2006 ao levar a Itália ao tetra. Virgil van Dijk tem a favor o impressionante desempenho na conquista do hexa do Liverpool na Champions League. A conquista no prêmio da Uefa indica favoritismo.
Ausente na final passada, Cristiano Ronaldo volta apresentando como argumentos o título quase invicto da Juventus no Campeonato Italiano, e a conquista inédita da Liga das Nações, com Portugal, segundo título dele com a camisa da seleção lusitana. Isso sem contar as exibições de gala contra Atlético de Madrid e Ajax na fase de mata-mata.
Pentacampeão do prêmio ao lado de Cristiano Ronaldo, o argentino Lionel Messi foi artilheiro do Espanhol, da Champions League e conquistou La Liga, mas, outra vez, fracassou na tentativa de quebrar o jejum de 26 anos da Argentina sem título. Pode pesar a favor dele o fato de ter carregado o time nas costas e as impressionantes 22 assistências na temporada. O camisa 10 foi, simplesmente, o maior garçom da Europa em 2018/2019. Arco e flecha.
Análise da notícia
Eu vou lhe avisar
O Brasil tem amor e ódio por goleiros. É capaz de criar o Dia do Goleiro, celebrado em 26 de abril, mas também zoa os donos das traves. A música Goleiro, de Jorge Ben Jor, diz assim: “Eu vou lhe avisar/Goleiro não pode falhar/Não pode ficar com fome/Na hora de jogar/Senão, é um frango aqui, um frango ali/Um frango acolá. O país conseguiu condenar Barbosa 64 anos pelo vice na Copa 1950 e só o absolveu no fracasso da Seleção em casa no Mundial 2014. Taffarel deu respeito a essa posição, que terá dois finalistas, nesta segunda-feira, na Itália, terra de gênios como Dino Zoff, Gianluca Pagliuca, Gianluigi Buffon. Campeões da Champions League como titulares de Milan e Internazionale, Dida e Julio Cesar consolidaram o trabalho de Taffarel. A consagração de Alisson é barbada. Ederson seria uma aceitável surpresa. O alemão Ter Stegen, zebra. (MPL)
Finalistas
Masculino
» Melhor jogador
Virgil van Dijk (Liverpool – Holanda)
Lionel Messi (Barcelona – Argentina)
Cristiano Ronaldo (Juventus – Portugal)
» Melhor goleiro
Alisson (Liverpool – Brasil)
Ederson (Manchester City – Brasil)
Marc André ter Stegen (Barcelona – Alemanha)
» Melhor treinador
Pep Guardiola (Manchester City – Espanha)
Jurgen Klopp (Liverpool – Alemanha)
Mauricio Pochettino (Tottenham – Argentina)
» Puskás
Lionel Messi (Barcelona – Argentina)
Juan Fernando Quintero (River Plate – Colômbia)
Dániel Zsóri (Debrecen – Hungria)
Feminino
» Melhor jogadora
Lucy Bronze (Lyon – Inglaterra)
Alex Morgan (Orlando Pride – EUA)
Megan Rapinoe (Reign – EUA)
» Melhor goleira
Christiane Endler (PSG – França)
Hedvig Lindahl (Chelsea/Wolfsburg – Suécia)
Sari van Veenendaal (Arsenal/Atlético de Madrid – Holanda)
» Melhor treinador
Jill Ellis (Estados Unidos)
Phil Neville (Inglaterra)
Sarina Wiegman (Holanda)