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Pelé ameniza casos de racismo no futebol: "Explosões naturais"

Rei do futebol diz que ignorava os insultos nos tempos de jogador

postado em 10/09/2014 20:21

Gazeta Press

Nesta quarta-feira, em evento no Rio de Janeiro, Pelé tratou de minimizar as ofensas racistas sofridas pelo goleiro Aranha, do Santos. Entretanto, o ex-jogador afirmou que também foi vítima de preconceito ao longo da carreira e avaliou a necessidade de eventuais punições aos agressores.

“Eu acho que tem que coibir, mas tem que saber até que nível. São explosões naturais, que nós não vamos mudar. Se fosse assim, os times brasileiros não poderiam jogar na América Latina nunca, porque a gente teria que parar todos os jogos”, comentou em declaração polêmica à agência Reuters, no Rio de Janeiro. “Se uma pessoa chamar alguém de japonês, ou de alemão, é a mesma coisa”, continuou o tricampeão da Copa do Mundo com a Seleção Brasileira.

O caso do goleiro Aranha está em evidência desde o dia 28 de agosto, quando alguns integrantes da torcida do Grêmio agrediram o jogador com insultos considerados racistas e emitiram sons de um macaco, na partida entre as duas equipes em Porto Alegre, na Arena do Grêmio. Em imagens da ESPN Brasil, que transmitia o jogo válido pelas oitavas de final da Copa do Brasil, uma torcedora gremista foi flagrada chamando o camisa 1 do Santos de “macaco”.

“Eu não quero criticar o Aranha, porque ele é uma excelente pessoa, um amigão meu. É calmo, é puro, mas foi pego de surpresa. Ele se precipitou um pouco em querer brigar com a torcida. Se eu fosse parar o jogo cada vez que me chamassem de macaco ou crioulo, teria que parar todos os jogos. Se ele tivesse feito a mesma coisa que o Daniel (Alves) fez, que comeu uma banana que jogaram para ele lá na Europa, teria sido melhor. Você viu que ninguém falou mais nada”, declarou Pelé, sobre o ocorrido com o lateral-direito do Barcelona em abril, durante o Campeonato Espanhol.

Em maio, o ex-camisa 10 da Seleção já havia opinado sobre as injúrias sofridas por Daniel Alves, negando a onda de atos racistas no esporte e alegando que o caso em questão havia sido isolado, mesmo após ser lembrado do ocorrido com os atletas Roberto Carlos, na Rússia, Tinga, no Peru, e Mario Balotelli, na Itália.

O caso de Alves alcançou repercussão internacional e gerou campanhas contra o racismo. Entretanto, na opinião de Pelé, a reação de Aranha só contribuiu para “toda essa promoção para quem tem esse tipo de racismo”. O ídolo santista ainda lembrou de sua carreira como jogador.

“Na minha época, em todo lugar que a gente jogava na América Latina, tanto na Argentina, no Uruguai ou no Paraguai, me chamavam de negro, de macaco, de tudo. Essa é a explosão do torcedor, até aqui no Brasil mesmo quando a gente ia jogar no interior. Eles xingavam todo mundo, não era só eu. Xingavam a gente de todo nome. O torcedor grita, dentro de sua animosidade”, afirmou Pelé, que também ressaltou sua opinião à respeito das punições cabíveis nesses casos.

“Eu acho que tem que coibir, é claro. É um caso de racismo, mas infelizmente, o racismo não é só contra o negro, é contra o japonês, contra o pobre. Tem que coibir, mas eu acho que as coisas devem ser levadas de forma diferente. Quanto mais atenção der para isso, mais vai aguçar”, finalizou.