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Corinthians: volante fala de paixão, prisão e adeus em despedida comovente

Du Queiroz reforça amor pelo Alvinegro antes de ir jogar na Rússia

19/06/2023 12:05 / atualizado em 19/06/2023 12:29
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Du Queiroz deixa o Corinthians após 99 jogos como profissional
foto: Icon Sport

Du Queiroz deixa o Corinthians após 99 jogos como profissional

 

Du Queiroz escreveu uma longa carta para se despedir do Corinthians. Após nove anos no clube, ele está de malas prontas para ir jogar no Zenit, da Rússia, e publicou um texto emocionante. O volante conta sobre a paixão pelo Alvinegro desde criança, os tempos difíceis, a prisão do pai e o sentimento de algo "incompleto".

 

O volante está no Corinthians desde os 14 anos, ganhou dois títulos na base e subiu ao profissional com Sylvinho, em 2021. Viveu o ponto alto como profissional do Corinthians no ano passado, quando marcou um gol na Bombonera pela Libertadores. Esteve perto de ser campeão, mas diz que o título no time principal não faz falta.

 

 – Ganhar títulos é importante, mas pra gente não basta. Ser corintiano é ter esses momentos inesquecíveis na vida junto com o Corinthians. São coisas nossas, memórias que a gente carrega pra sempre e que o Timão fez parte – escreve Du Queiroz em texto publicado nesta segunda-feira (19) pelo The Players Tribune.

 

 

Deixar o Corinthians é um "sentimento estranho"

 

Du Queiroz foi envolvido em uma troca com o Zenit por Yuri Alberto, em janeiro, e desde então sabia que iria para a Rússia no final deste mês. Ele continuou jogando com Fernando Lázaro e Cuca, mas Luxemburgo decidiu afastá-lo para evitar alguma lesão antes da transferência.

 

– Agora tô em casa, o passaporte na mesa, a minha mala de viagem aberta em cima da cama, e eu só consegui colocar três coisas nela: escova, pasta e uma camisa do Corinthians. O sentimento é estranho, de dever cumprido, mas incompleto – conta Du Queiroz, que tem chorado muito. 

 

– Nunca me senti assim antes, fazendo coisas pra não pensar [na despedida], ver se consigo parar de chorar. Escuto música, assisto filme, jogo no celular, colo sozinho nos rolês, ando por aí… Mas tá muito difícil, vou te falar. Se for contar o tanto que já chorei deve encher uns 37 baldes – revela o volante. 

 

Noite inesquecível na Bombonera

 

Du Queiroz marcou seu primeiro gol como profissional na Bombonera, em jogo da Libertadores, no ano passado. Na ocasião, o empate em 1 a 1 manteve o Corinthians na lidrança do grupo (reveja o gol abaixo).

 

– Meu primeiro gol com o nosso manto saiu naquela noite. Vou dizer, hein? Quando rola uma fita dessas, a gente flutua: os primeiros segundos são de delírio, de loucura, sei lá. De cara baixa um silêncio absurdo, de cemitério. Em seguida, a vibração da nossa torcida vem vindo, vindo e, pá!, toma conta do estádio inteiro dos caras. Caraca! Onde é que eu tô… – relembra o meio-campista.

 

 

Jogou no São Paulo antes do Corinthians

 

Du Queiroz começou em Cotia e jogou nas categorias de base do São Paulo dos nove aos 13 anos. Alimentou o sonho de ser profissional, mas acabou dispensado. Foi uma peneira no Corinthians que o recolocou no caminho.

 

– O São Paulo me ajudou a ficar na estrada, sem desviar pro acostamento, tá ligado? O clube tem boa estrutura, trata bem os moleques da base. Lá me ensinaram que a gente pode ter um time do coração, sem problema, mas na hora de jogar é poucas ideia. Tem que lutar pela camisa que você tá vestindo até o fim – escreve Du Queiroz.

 

Prisão do pai 

 

– Um dia, a gente tava no nosso quartinho e do nada, pá!, pancada na porta, grito, barulheira… Antes que a gente pudesse levantar, os polícias estavam lá dentro. Tudo armado, jogando as nossas coisas no chão, revirando a casa inteira. Eu bem criança ainda, não entendia o que tava rolando. Mas até hoje eu sinto – conta o volante do Corinthians.

 

– A cena do meu meu pai indo embora algemado, a tristeza no rosto dele, é uma coisa que não dá pra esquecer. A partir daí, os nossos dias mudaram completamente. Mudaram dentro de nós, porque era uma dor que ninguém via.

 

Foram três anos e meio distante do pai, entre saudade e sustos. Quando tinha rebelião no presídio, conta o jogador, penduravam uma lista de nomes. Os nomes riscados eram dos presos mortos. A mãe de Du Queiroz tremia enquanto descia na lista com o dedo, aí sentava e chorava de alívio. Quando o pai saiu, o primeiro passeio foi ver o Corinthians no Pacaembu.

 

 


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