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Precursor de celebração polêmica, McLaren apoia Rafael Silva e critica "futebol quadrado"

Ex-atacante do Cruzeiro foi o primeiro a comemorar "batendo asas" no clássico

postado em 28/03/2016 17:29 / atualizado em 28/03/2016 17:43

Arquivo/EM/DA Press

Nesse domingo, Rafael Silva “bateu asas” ao comemorar o gol da vitória do Cruzeiro sobre o Atlético, por 1 a 0, no Independência. A celebração, entretanto, não é novidade no clássico mineiro. Há 20 anos, Paulinho McLaren foi o criador do gesto, após balançar as redes contra o arquirrival em triunfo do time celeste por 2 a 1, em jogo válido pelo Campeonato Brasileiro.

Na época em que Paulinho McLaren comemorou gol com clara menção ao mascote do Atlético, essas celebrações não eram tão raras quanto nos tempos atuais. Viola, por exemplo, imitou um porco depois de marcar pelo Corinthians em clássico contra o Palmeiras.

Ao ver Rafael Silva repetir seu gesto, Paulinho McLaren criticou a polêmica gerada em comemorações como essa. “Hoje, o futebol está tão chato. O Brasil perdeu tanto da sua essência. Estamos tão desajustados, ausentes da nossa essência, que uma comemoração como essa expõe a ferida. Tudo que vai ser expressado tem de ser comedido, senão outros podem não entender”, avaliou, em entrevista ao Superesportes.

O ex-atacante ressaltou que o futebol brasileiro evoluiu fora de campo, com desenvolvimento tático e na estrutura de clubes. Em contrapartida, aponta perdas em outros aspectos. “O futebol é moderno, atual, mas, para nós brasileiros, ficou distante do acostumado, do improviso e da ginga, da capacidade de qualquer jogador definir uma jogada. Quem viu Garrincha dando drible e chamando o adversário de Zé... Quem viu o Pelé dando drible de vaca no Mazurkiewicz... O futebol está uma grande indústria, que faz muito dinheiro. Isso não vai parar e não tem como”, observou.

Paulinho McLaren relembrou como foi a repercussão de sua comemoração, em 1996. “Com certeza, teve uma explosão grande por parte da torcida do Cruzeiro. Não foi pensado. Mas, anteriormente, num clássico em 1995, a torcida do Atlético zoou bastante a gente depois de uma vitória no Mineirão. Não foi uma coisa que foi planejada. Foi tão natural, de um jeito tão espontâneo. Não houve nada que me causou transtorno, problemas nas ruas. Lógico que torcedores comentaram sobre a brincadeira, mas o futebol permite. O futebol transcende, movimenta a molecada na escola, a conversa de boteco. Vejo sempre por esse lado. Hoje, ficou de um jeito que a parte mais sublime do futebol parece que não pode acontecer”, observou o ex-jogador, negando a intenção de provocar os rivais.

“Na minha geração, era natural. Nem vejo como provocação. É parte folclórica. Na minha cabeça, o torcedor do Cruzeiro vai esperar que o Rafael Silva faça alguma coisa diferente, e o Atlético vai querer o troco em campo, com comemoração, gol e vitória. Tem essa ferida aberta. Ele repetiu um gesto de 20 anos. Isso faz falta”, acrescentou.

“Não pode perder a irreverência”

Antes de Rafael Silva, o gesto de McLaren havia sido repetido por Kleber no Campeonato Mineiro de 2009, quando o Cruzeiro goleou o Atlético por 5 a 0. O triunfo deixou o time celeste muito próximo de confirmar o título estadual daquele ano.

Com sua comemoração mais uma vez repetida, Paulinho McLaren pediu que Rafael Silva não deixe de celebrar de forma irreverente. “O que eu poderia fazer é parabenizá-lo pelo gol de oportunismo. Ele estava presente na hora certa. A bola sobrou, e ele colocou para dentro. Ele não pode perder a irreverência. Torço para que não perca. Ele tem de levar essa alegria para o futebol. As pessoas vão cobrar, criticar, mas ele tem de continuar assim, porque isso inspira”, disse o ex-atacante, que elogiou a declaração do camisa 30 do Cruzeiro de que o "futebol está monótono". "Ele tem de comemorar, e todos têm de aceitar. Fico feliz em o Rafael ter falado isso, porque o futebol ficou muito quadrado", complementou.

Atualmente, Paulinho McLaren é treinador, mas está desempregado. No ano passado, ele esteve à frente do Uberlândia. O ex-jogador estuda em São João da Boa Vista, no interior de São Paulo, à espera de um novo convite para comandar alguma equipe.

Na comemoração de seus 50 anos, o Mineirão ouviu ídolos eternos que marcaram a história do estádio. Paulinho McLaren foi um dos personagens e contou como foi a comemoração em que imitou uma galinha. Veja o vídeo: