Cruzeiro
None

CRUZEIRO

Entrevista: Henrique busca primeira taça como capitão, lembra lições da Libertadores e persegue metas e recordes no Cruzeiro

Segundo jogador do atual elenco com mais partidas pelo clube, volante pode erguer troféu da Copa do Brasil nesta quarta-feira, em decisão contra o Flamengo no Mineirão. Assista ao bate-papo do Superesportes com o camisa 8

postado em 27/09/2017 09:00 / atualizado em 27/09/2017 09:30

Quem pesquisar as escalações do Cruzeiro nos últimos 10 anos dificilmente não verá o nome de Henrique. Ele foi figura ausente apenas nos anos de 2011 e 2012, quando teve passagem pelo Santos. Nas demais temporadas, o jogador sempre esteve na equipe. Isso faz dele um dos atletas que mais disputaram jogos na história do clube. Com 393 partidas, ele ocupa a 18ª posição geral. Entre os de sua posição, está em quinto, abaixo de Ricardinho (441), Ademir (442), Piazza (566) e Zé Carlos (633). Além de ser peça fundamental para todos os treinadores, Henrique recebeu de Mano Menezes a missão de liderar o time em campo. Com a faixa de capitão, o camisa 8 poderá erguer o troféu da Copa do Brasil nesta quarta-feira à noite, quando a Raposa enfrentará o Flamengo no duelo de volta da decisão.

Nesta entrevista ao Superesportes, ele fala da expectativa de dar ao clube o penta da Copa do Brasil, da responsabilidade que a tarja trouxe e das lições que tirou de derrotas em decisões, duas delas no Mineirão. O capitão fala ainda sobre o comportamento do grupo diante da empolgação da torcida com a chance de ganhar mais um título de expressão.

Paranaense de Londrina, Henrique mais parece um típico mineiro. É discreto e sequer tem perfis em redes sociais. Ainda assim, exerce grande liderança dentro de um grupo recheado de estrelas. Foi a identificação com o Cruzeiro que o ajudou a construir esse respeito. A torcida reconhece sua importância e o alçou à condição de um dos mais queridos.

A seguir, saiba mais sobre Henrique e seus objetivos de vida dentro da Toca da Raposa.

Como vê a possibilidade de ganhar o primeiro título na condição de capitão?

“Isso é importante, é bom, né?! Ter um crescimento dentro da equipe, não somente como atleta, mas também como pessoa. Você alcançar o posto de capitão tem que ter característica de liderança, de falar, de se expressar, de como lidar com o grupo. É um momento muito importante que estou vivendo. Espero estar na condição de poder chegar lá e, junto com meus companheiros, poder abraçar e comemorar. Se Deus quiser a gente vai em busca disso”.

O que Mano Menezes disse a você quando lhe passou a faixa?

Foi muito tranquilo. Ele falou da personalidade. Claro que há várias formas de liderar num grupo. Há aqueles que falam mais, há aqueles que são mais calados. Há quem se expressa melhor e sabe como o grupo gosta. Então são várias formas de liderança. O Mano foi tranquilo e falou que o tempo e a história que tenho dentro do Cruzeiro foram fatores que determinaram a escolha como capitão.

Renan Damasceno/EM/D. A Press

Você já disputou duas finais da Copa do Brasil e perdeu com o Figueirense, em 2007, e o próprio Cruzeiro, em 2014. Há alguma lição das derrotas que lhe traga confiança para 2017?

A confiança sempre tem que estar lá em cima. Em jogos assim você tem que estar muito confiante. Temos de ter equilíbrio e sabedoria. A gente não pode confundir confiança com empolgação. Confiança é pelo seu trabalho, no que você vem fazendo, confiança em tudo que você pode fazer. Isso nós temos condições e confiamos no nosso potencial. O Cruzeiro vai chegar forte, inteiro. As outras finais que pude disputar serviram de aprendizado. Cada jogo é uma história, e naquele momento, mesmo com as derrotas, você aprende muitas coisas. Espero ter tirado lições e passá-las agora para que a gente venha a conquistar o título.

* Nota 1: em 2007, o Figueirense perdeu para o Fluminense. Henrique fez o gol dos catarinenses no jogo de ida, que terminou empatado por 1 a 1. Na volta, vitória tricolor por 1 a 0, em Santa Catarina.

* Nota 2: em 2014, o Cruzeiro perdeu para o Atlético no Independência, por 2 a 0, e no Mineirão, por 1 a 0.

Na Copa do Brasil de 2017, o Cruzeiro jogará em situação semelhante à da Copa Libertadores de 2009, quando empatou sem gols com o Estudiantes no jogo de ida na Argentina. O que aconteceu com aquela equipe que acabou perdendo a segunda partida em pleno Mineirão por 2 a 1?

São circunstâncias de jogo, né?! Você sai vencendo e, dentro da partida, joga contra um adversário qualificado, que chegou à final por seus méritos. Nós achamos que poderia ter ganhado apenas com um gol. São várias circunstâncias que podem ter acontecido. Mas o adversário teve méritos por reverter o placar. Isso acontece dentro de uma partida. Quantas partidas que vemos que um time vira o jogo. Isso é normal num jogo. Infelizmente aconteceu. Mérito do adversário, que soube jogar melhor.

Qual a diferença entre o grupo de 2009 e o de 2017?

O grupo de 2009 era muito unido também. Não tinha nada. Muito se fala que ‘ah, ouve isso, essas coisas’. Claro que você discute um acerto de uma coisa ou outra, essas coisas. Mas isso é normal, não foi por isso que perdemos. Não teve nada de extraordinário que pudesse impedir aquele título. Foi dentro de campo que aconteceu. O grupo era muito bom também. Tínhamos jogadores experientes, que já tinham vivido aquele momento. Hoje a gente vive um momento bom, qualificado, todos se dão bem dentro e fora de campo. Isso te deixa mais leve. A gente trabalha com harmonia e as coisas tendem a pender para o lado bom.

Marcelo Sant'Anna/EM D.A Press (Arquivo)

Premiação definida em caso de conquista do título?

Há muito tempo. No começo do ano a gente conversou e já definiu para o ano inteiro. Não tem nada que discutir. Não tem nada. Isso é uma coisa à parte do futebol que sempre aconteceu, que sempre existiu. Não é por isso que jogamos. Nós jogamos por amor, carinho e para dar resposta ao torcedor. Não é o dinheiro em si que vai fazer com que você jogue mais. É querer vencer e marcar o nome na história. Isso sim é o mais gratificante de querer vencer e gravar o nome na história. Ser lembrado pelo que conquistamos, pelo que ganhamos, independentemente de valores.

Como o elenco se blinda contra possíveis polêmicas antes da decisão?

Você tem que ter o equilíbrio. Hoje se corta muito que você fala. Uma palavra cortada se torna combustível para outra equipe. Às vezes uma palavra mal colocada acaba sendo polêmica, então é preciso ser equilibrado e falar as coisas certas nos momentos certos. Claro que por ser final todos querem depoimentos durante a semana. Vocês (da imprensa) querem que escape alguma coisa, porque vocês gostam disso. Gostam de inflamar, de trazer o torcedor, de divulgar, de fazer esse jogo. O atleta tem que ter maturidade e equilíbrio para não entrar nesse nível de competição e não ser mal-interpretado.

Você não tem perfil nas redes sociais públicas. Por que?

Sou à moda antiga. Minha esposa brinca comigo que eu deveria fazer rede social, essas coisas. Mas aí a vejo o tempo todo vendo Instagram, Facebook, fica ali gastando o tempo todo. E agente às vezes não conversa por causa das redes sociais (risos). Às vezes gasta tempo e você presta mais atenção na vida das pessoas que em você mesmo. Sou mais à moda antiga, do tempo de Orkut (risos).

Há alguém candidato a ser protagonista na final?

Todos têm essa condição de ser protagonista. Quem brilhar, vai brilhar o Cruzeiro. É o momento do Cruzeiro. A gente se fecha entre os 11 e representa o Cruzeiro. Independentemente de quem seja o protagonista, o importante é o grupo buscar essa conquista.

Muitos dias antes da final, os torcedores do Cruzeiro esgotaram os ingressos. Como os jogadores lidam com essa empolgação?

Tem que ser dessa forma. Imagina se fosse ao contrário? Ninguém ia gostar de não ter essa confiança. É importante que ela exista. A gente só tem que ter o equilíbrio e o discernimento de não cair nessa de ‘ganhar jogo antes de ser jogado’. A gente tem que ter equilíbrio, tranquilidade e saber o momento certo. As coisas vão fluir quando tiverem de fluir. Esperamos estar prontos e preparados. O papel do torcedor é esse mesmo, ficar inflamado, empolgado, ansioso. A gente tem que ter o equilíbrio para saber administrar todo esse sentimento.

Se candidata a cobrar pênalti numa eventual disputa?

Ali no momento a gente está pronto para qualquer circunstância. Se acontecer, vou estar preparado para bater o pênalti. A gente se prepara para isso. Vamos chegar. Se estivermos bem, certamente vamos estar prontos para bater.

* Nota: nas disputas de pênalti contra São Paulo, pelas oitavas de final da Copa Libertadores de 2015, e Nacional do Paraguai, pela primeira fase da Sul-Americana de 2016, Henrique foi um dos cobradores do Cruzeiro e converteu as duas finalizações.
Ramon Lisboa/EM D.A Press

Você está perto de alcançar 400 jogos pelo Cruzeiro e é um dos cinco volantes que mais atuaram pelo clube (abaixo de Zé Carlos, Piazza, Ricardinho e Ademir). Como vê a aproximação dessa marca?

É gratificante chegar a essa proximidade de 400 jogos por um clube de muita grandeza como o Cruzeiro. Grandes títulos, grandes conquistas, jogadores renomados como Tostão, Dirceu Lopes, Zé Carlos, vários jogadores que passaram por esse clube e disputaram tantos jogos. Fico satisfeito e honrado por vestir essa camisa por tantos jogos. O Cruzeiro é um clube de muitas conquistas e histórias.

* Nota: Henrique tem 393 jogos pelo Cruzeiro e 25 gols

Pretende encerrar a carreira no Cruzeiro?

Esse é o desejo da gente, de permanecer num clube tão bom, tão querido e tão amado por nós. Espero ficar bastante tempo. Tenho mais dois anos de contrato e espero cumpri-los da melhor forma, honrando sempre essa camisa que tanto representa para mim.

Como é para você ser um dos jogadores mais queridos na Toca da Raposa II?

A gente tenta ser o mais natural possível. O que a gente é em casa, a gente é no trabalho. Só assim a gente vive à vontade. Cumprimento todos com igualdade, sei o nome de cada um que aqui trabalha, seja pelo tempo ou pela convivência. É importante você saber. Não venho aqui somente por causa do meu trabalho, mas também para conhecer as pessoas que aqui trabalham e que se esforçam para deixar tudo bem encaminhado para que tenhamos um bom ambiente. É bom conhecer cada história, pois as pessoas são importantes no bom funcionamento do ambiente.

Melhor momento no Cruzeiro

Vários momentos. Os Brasileiros de 2013, de 2014 – em que pude atuar mais. Foram os momentos mais importantes para mim em termos de conquista. O ano de 2010 também foi muito bom.

Fase mais difícil

Os anos de 2016 e 2015 foram os mais difíceis. Estávamos lutando lá embaixo.

* Nota: em 2015, o Cruzeiro brigou contra o rebaixamento no turno, mas se recuperou no returno e terminou o Brasileiro em oitavo lugar. Em 2016, a ascensão não foi tão firme e a equipe acabou em 12º.

Gol mais bonito

Contra o São Paulo na Copa Libertadores de 2009. Foi um dos gols mais bonitos da minha carreira, e um dos mais importantes também.

* Nota: o Cruzeiro venceu o São Paulo por 2 a 0 no Morumbi, pelo jogo de volta das quartas de final, e avançou às semifinais

Técnicos mais marcantes

O Adílson Batista foi um dos que mais aprendi. Era muito novo, então pude trabalhar com ele por mais tempo. Aprendi muitas coisas com ele. O Mano também é um ótimo treinador, sabe muito sobre futebol. Esses dois foram os treinadores que eu mais aprendi dentro do Cruzeiro.

* Nota: Adílson Batista foi o técnico responsável por indicar à diretoria do Cruzeiro a contratação de Henrique, que defendia o Jubilo Iwata, do Japão.

Melhor parceiro de meio-campo

Aprendi mais com o Marquinhos Paraná. Aprendi muito com ele por se tratar de um jogador simples, mas muito objetivo e muito técnico. Ele passava muitas dicas. É um atleta que pude aprender muito com ele.

* Nota: Marquinhos Paraná atuou ao lado de Henrique no Cruzeiro entre o início de 2008 e meados de 2011. Eles já haviam feito parceria no Jubilo Iwata e no Figueirense, sempre sob o comando de Adilson Batista
Paulo Filgueiras/EM/D.A Press

Tags: raposa cruzeiro henrique interiormg flamengorj copadobrasil futnacional