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Quais os riscos? Saiba o que pode acontecer com o Cruzeiro por excesso de ações na Fifa

Atualmente, clube deve cerca de R$ 50 milhões em processos na entidade

postado em 09/11/2017 20:15 / atualizado em 09/11/2017 20:27

Ramon Lisboa / EM / D.A.Press
O novo presidente do Cruzeiro, Wagner Pires de Sá, assumirá o clube em 2018 com prós e contras. Entre os pontos positivos estão a presença do time na Copa Libertadores, a base do grupo montada e a continuidade do técnico Mano Menezes. Por outro lado, encontrará os cofres vazios, dificuldade para honrar compromissos e principalmente débitos na ordem de R$ 50 milhões em ações na Fifa movidas por outras agremiações. Desde 2014, o clube fez aquisições de atletas no exterior e ficou com pagamentos pendentes. Que consequências isso pode ter para o clube no futuro? O Superesportes conversou com um advogado especialista em direito esportivo para saber a que punições o Cruzeiro está sujeito.

A lista de ações recentes contra o clube na Fifa envolve nove jogadores, todos eles contratados na gestão do presidente Gilvan de Pinho Tavares. São eles: Arrascaeta (Defensor-URU, 50%), Gonzalo Latorre (Atenas-URU, 100%), Riascos (Monarcas Morelia-MEX, 50%), Rafael Sobis (Tigres-MEX, 100%), Matías Pisano (Independiente-ARG, 50%), Ramón Ábila (Huracán-ARG, 50%), Luis Caicedo (Independiente del Valle-EQU) e Denilson (emprestado pelo Al Wahda, dos Emirados Árabes).

Além desses débitos, o Cruzeiro foi acionado também em um processo que envolve o meia Thiago Neves. O Al Jazira, dos Emirados Árabes, ex-clube do meia, foi à Fifa para cobrar uma dívida de 9 milhões de euros (aproximadamente R$ 34 milhões). Os árabes alegam que o contrato do jogador, que ia até 2018, foi rescindido com o interesse apenas de Thiago. Nesse caso, o clube celeste foi citado como responsável solidário, por ter supostamente induzido o jogador a encerrar o vínculo com o ex-time.

Em meio aos processos que enfrenta na Fifa, o Cruzeiro poderá sofrer sanções em caso de não quitar os débitos? Em entrevista ao Superesportes, Rogério Pastl, advogado especialista em direito esportivo, explicou que as punições só ocorrem em último caso.

"Primeiramente, o processo é instaurado e o devedor é intimado a pagar a dívida. Não é uma sentença, é uma decisão, que normalmente tem o prazo de 30 dias para ser cumprida. Caso essa decisão não seja cumprida, o processo vai para o Comitê Disciplinar, que retorna a cobrança para que o clube pague o valor, podendo aí sim, em caso de descumprimento, ficar sujeito a sanções", esclareceu.

Rogério diz que a quantidade de processos é um dos fatores que pesa contra o clube na hora que as sanções são estabelecidas pela Fifa. No entanto, ele afirma que não é possível estabelecer uma "escala" de gravidade do caso para que cada punição uma seja imposta. "Não há uma definição linear sobre as punições. O clube pode só receber uma advertência, assim como pode ser proibido de fazer transferências, de participar de competições internacionais.. Pode perder pontos, ser rebaixado e ser obrigado a devolver prêmios financeiros", ressaltou.

Nesta semana, o estafe de Thiago Neves, por meio de sua assessoria, disse que o caso envolvendo o jogador deverá ser julgado no primeiro semestre de 2018. Rogério Pastl afirmou que cada processo leva um tempo diferente para ser definido na Fifa. "O tempo de processo é um problema. Tem um tempo para saber se o jogador ou o credor tem razão, que é um processo civil. A partir daí é que tem o processo disciplinar, que normalmente não demora. O que demora é para que esse processo disciplinar seja instaurado. Não há regra sobre o tempo para que o processo seja finalizado ou que o clube sofra as sanções. Pode demorar 15 dias, seis meses... Não há regra".

Os processos na Fifa são enfrentados com certa frequência pelos clubes, principalmente em função de desacertos financeiros. No entanto, o que chama a atenção no caso do Cruzeiro é o elevado número de ações acumuladas desde 2014. As principais contratações internacionais no período não foram pagas integralmente.

Ramon Liisboa/EM/D.A Press

Presidente do Cruzeiro a partir de janeiro, Wagner Pires de Sá herdará essas dívidas da gestão de Gilvan de Pinho Tavares. Por já estar em transição para assumir o cargo, o novo mandatário admite a possibilidade de o clube sofrer punições impostas pela Fifa. "As ações são essas que vocês já sabem. Existem sanções mesmo se não resolvermos caso a caso. A pior delas é cair para a Segunda Divisão. Se fosse multa, alguma coisa, seria mais tranquilo de se cumprir. Como nunca aconteceu isso no Cruzeiro, então, não tenho opinião formada sobre isso. Se a administração atual não conseguir resolver em função de dificuldades financeiras, eu vou ter que resolver a partir de janeiro".

Wagner afirma, também, que espera que a atual gestão resolva pelo menos parte dos débitos até o fim de dezembro. Ele garante que, quando assumir, solucionará todas as situações pendentes na Fifa. "Isso é preocupante. Espero que gestores anteriores tenham alguma sugestão ou ação do porquê foi feito assim, por que aconteceu isso. O porquê dessa situação, não sei, pode ser que muitas coisas estejam sendo discutidas juridicamente, pode não haver mais todo esse endividamento. Quando eu assumir, terei soluções para todos os problemas do Cruzeiro", completou.

Procurados pela reportagem para falar sobre as dívidas, o atual presidente do Cruzeiro, Gilvan de Pinho Tavares, e o diretor jurídico do clube, Fabiano de Oliveira Costa, não atenderam às ligações.

Os débitos do Cruzeiro em ações movidas na Fifa:

  • Cotação das moedas no dia 7/11
  • Dólar: R$ 3,27
  • Euro: R$ 3,79
 
Arrascaeta - Defensor Sporting Club (Uruguai)

Valor: 1.151.500,00 de euros (R$ 4.364.185,00)

Destaque do Defensor do Uruguai na Copa Libertadores de 2014, Arrascaeta foi comprado pelo Cruzeiro por 4 milhões de euros (cerca de 12 milhões de reais por 50% dos direitos econômicos) em janeiro de 2015. O empresário Pedro Lourenço, dono da rede de supermercados BH, emprestou ao clube 50% do valor, que foi repassada de imediato aos uruguaios. A outra metade, conforme explicado à época pelo então gerente de futebol Valdir Barbosa, seria paga em 29 parcelas de 70 mil euros. Em função desse atraso, o Defensor recorreu à Fifa para tentar receber a dívida.

Alheio à situação, Arrascaeta tem jogado bem pela Raposa e caiu nas graças da torcida. Com 137 jogos e 34 gols, o camisa 10 está próximo de ser o estrangeiro que mais defendeu a agremiação.
Em documento divulgado recentemente, o Cruzeiro informou ser detentor de 30% dos direitos econômicos do jovem de 23 anos, que deverá fazer parte do elenco da Seleção do Uruguai na Copa do Mundo de 2018.

Willian - Club FC Zorya (Ucrânia)

Valor: 1 milhão de euros (Willian: R$ 3,79 milhões)

Willian veio para o Cruzeiro em julho de 2013 como compensação da compra de Diego Souza pelo Metalist, da Ucrânia. Na ocasião, foi assinado um contrato de empréstimo de um ano, após o qual o clube mineiro teria opção de aquisição de 100% dos direitos econômicos por 3,5 milhões de euros parcelados em sete vezes. Campeão brasileiro em 2013 e do Mineiro de 2014, o atacante agradou diretoria e comissão técnica, marcando 15 gols em 61 jogos, e ficou em definitivo na Toca da Raposa II.

A história de Willian no Cruzeiro se estendeu, com o atleta atingindo 185 partidas e 40 gols. Sua última temporada, contudo, foi apagada, e a cúpula celeste acertou uma troca definitiva por Robinho, que pertencia ao Palmeiras. Pelo time paulista, o atacante ostenta números de respeito em 2017: 48 jogos e 17 gols. Enquanto isso, o departamento jurídico cruzeirense tenta resolver a pendência com o FC Zorya, que passou a ser o responsável pelo processo desde que o Metalist foi excluído da Liga da Ucrânia em decorrência de dívidas.

Gonzalo Latorre - Club Atlético Atenas (Uruguai)

Valor: US$ 3,7 milhões (R$ 12.099.000,00)

Sem dúvidas é o caso que mais chama a atenção. Gonzalo Latorre, de 21 anos, jamais atuou pelo time principal do Cruzeiro. Nem no Brasileiro de Aspirantes, torneio criado recentemente para jogadores sub-23, o uruguaio conseguiu se firmar. Ainda assim, o clube celeste se propôs a pagar 3,7 milhões de dólares – contando impostos e outros encargos – em sua contratação. A explicação mais plausível é que o acerto de Arrascaeta estava condicionado à aquisição de Latorre – fato já admitido pelo presidente Gilvan de Pinho Tavares. De qualquer maneira, as cifras dessa transação assustam.

Como comparação, Raniel, que tem a mesma idade, foi adquirido por 2 milhões de reais ao Santa Cruz (70% dos direitos). Antes de machucar as duas coxas e perder o restante da temporada, ele marcou quatro gols em 23 jogos e teve participação importante na conquista do pentacampeonato da Copa do Brasil. Já Latorre, que não se firmou nem mesmo noSambenedettese – clube da Série C da Itália –, é motivo de cobrança de mais de 12 milhões de reais pelo Clube Atlético Atenas, da Segunda Divisão Uruguaia.

Denilson - Al Wahda (Emirados Árabes Unidos)

Valor: 850 mil euros (R$ 3.221.500,00)

O ex-volante de São Paulo e Arsenal da Inglaterra chegou ao Cruzeiro com pinta de que seria uma referência na equipe. Porém, um problema de lesão atrasou sua estreia, que ocorreu mais de um mês depois da contratação. Sem contar os salários, Denilson custou ao clube cerca de R$ 644 mil por partida(5 jogos). Ou melhor, custaria. Isso porque não houve até aqui o pagamento ao Al Wahda, dos Emirados Árabes Unidos, pelo empréstimo acertado em julho de 2016. A agremiação árabe espera receber 850 mil euros pela transferência.

Rafael Sobis - Tigres (México)

Valor: US$ 2 milhões (R$ 6,54 milhões)

O pagamento ao Tigres pela compra de Rafael Sobis foi parcelado. Acontece que o Cruzeiro está devendo duas prestações de US$ 1 milhão cada. E nos próximos dias, o débito aumentará, pois a data de vencimento de outra parte se aproxima. Enquanto isso, a diretoria que assumirá o clube celeste a partir de janeiro do ano que vem tenta resolver o impasse. Sobis, inclusive, poderia se transferir para o também mexicanoQuerétaro.O valor pedido pela Raposa abateria a dívida atual com o Tigres.

O camisa 7, que se recuperou de dores nas articulações, voltou a ficar à disposição de Mano Menezes nesta reta final de Campeonato Brasileiro. O treinador, inclusive, afirmou que gostaria de contar com o atleta em 2018, quando o time disputará a Copa Libertadores. Em 77 jogos pelo Cruzeiro, Rafael Sobiscontabiliza 20 gols. Ele tem contrato até dezembro de 2019.

Duvier Riascos - Monarcas Morelia (México)

Valor: US$ 1,145 milhões (R$ 3.744.150,00)

Marcado por perder o pênalti pelo Tijuana-MEX contra o Atlético na Copa Libertadores de 2013, Riascos foi comprado pelo Cruzeiro em janeiro de 2015, quando defendia o Morelia, também do México. À época, foi divulgado o pagamento de 3 milhões de dólares por 50% dos direitos. O clube mexicano, no entanto, não recebeu a totalidade desse montante.

Como não se firmou no Cruzeiro, Riascos foi emprestado ao Vasco, pelo qual teve boa passagem. Em 49 jogos, marcou 17 gols e chamou a atenção da comissão técnica celeste, que quis dar ao atleta uma nova oportunidade. O colombiano até chegou a fazer boas partidas – marcou um dos gols da vitória sobre o Atlético por 3 a 2, no Independência, pela sétima rodada do Brasileiro –, mas caiu novamente de produção e acabou afastado após dar uma declaração que foi interpretada como desrespeitosa ao clube.

Depois de ficar alguns meses sem jogar, o centroavante chegou a um acordo com o Millonarios, de seu país natal. Em 31 jogos, Riascos balançou as redes nove vezes.

Matías Pisano - Independiente (Argentina)

Valor: US$ 550 mil (R$ 1.798.500,00)

Pisano ficou em evidência no futebol argentino por dar muitas assistências por Chacarita Juniors e Independiente. Foram 34 passes em 155 partidas, além de 19 gols. O Cruzeiro, então, se propôs a pagar 1 milhão de dólares por 50% dos direitos econômicos do meia-atacante, além de perdoar uma dívida de US$ 700 mil referente ao empréstimo do centroavante Ernesto Farías ao clube argentino.

Em abril de 2017, quando o Cruzeiro já havia repassado Pisano ao Tijuana do México, o Independiente tornou pública a ação movida na Fifa para recebimento do dinheiro. A quantia divulgada à época era de 750 mil dólares, 200 mil a mais que o do balanço.
Pisano marcou apenas um gol e deu uma assistência em 14 jogos pelo Cruzeiro.

Luis Caicedo - Independiente del Valle  (Equador)

Valor: US$ 3,33 milhões (R$ 10.791.000,00)

Luis "Kunty" Caicedo teve a contratação oficializada pelo Cruzeiro em 11 de dezembro do ano passado e assinou vínculo de cinco temporadas. À época, foi informado o investimento de 1,6 milhão de dólares em 50% do direitos econômicos do jogador. Posteriormente, a Raposa divulgou um documento no qual constava a propriedade de 60% do "passe" do zagueiro. O processo movido pelo Independiente Del Valle, no entanto, cobra um valor superior: 3,3 milhões de dólares.

O defensor entrou em campo em 24 oportunidades, mas não conseguiu se firmar na equipe, sendo criticado pela torcida por causa das atuações irregulares. Murilo assumiu a titularidade e não deixou mais o time.

Em julho, o Cruzeiro anunciou o empréstimo de Kunty Caicedo ao Barcelona de Guayaquil por uma temporada. Sua equipe foi eliminada pelo Grêmio nas semifinais da Copa Libertadores.

Ramón Abila - Huracán (Argentina)

Valor: US$ 1 milhão (R$ 3,27 milhões)

Ramón Ábila foi contratado ao Huracán em junho de 2016. Para isso, o Cruzeiro teve que desembolsar US$ 3,82 milhões por 50% dos direitos econômicos do atacante. Além disso, a Raposa assumiu todas as taxas e impostos da operação, que acabaram elevando o valor para US$ 4,2 milhões, dividido em duas parcelas: US$ 2,7 milhões e US$ 1,5 milhão. No entanto, o clube celeste não efetuou o pagamento da segunda quantia. Os argentinos, então, acionaram os mineiros na Fifa.

Em dezembro deste ano, o Cruzeiro teria que comprar a outra metade dos direitos de Ábila, conforme previsto em acordo com o Huracán. Antes de ser obrigado a exercer a cláusula, o clube celeste negociou o atacante para o Boca Juniors que assumiu a dúvida de US$ 1,5 milhão do Cruzeiro e repassou o centroavante por empréstimo, até o fim do ano, ao próprio Huracán.

De acordo com a imprensa argentina, o Boca aceitou adquirir a outra metade do "passe", mas com prazo estendido para dezembro de 2020. Além de assumir o débito com o Huracán, a diretoria xeneize repassou o meia Alexis Messidoro, de 20 anos, ao Cruzeiro, até o fim da temporada 2018.

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