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Presidente do Cruzeiro revela superávit em balanço financeiro de 2017, mas divergências devem adiar aprovação no Conselho

Wagner Pires de Sá garante publicação oficial do balanço mesmo sem aprovação do Conselho Deliberativo, tudo para evitar sanções ao Cruzeiro

postado em 25/04/2018 17:13 / atualizado em 25/04/2018 17:48

Marcos Vieira/EM/D.A Press
O presidente do Conselho Deliberativo do Cruzeiro, Zezé Perrella, convocou reunião ordinária para esta quarta-feira, às 19h, no salão nobre do Barro Preto, em Belo Horizonte, para apresentar aos conselheiros o balanço financeiro do exercício 2017, último ano da gestão do ex-presidente Gilvan de Pinho Tavares. Mas uma divergência entre os números de duas auditorias independentes pode fazer com que o clube descumpra o prazo legal e não tenha as contas aprovadas até o fim de abril. Por consequência, existe risco de atraso na divulgação oficial das finanças do ano passado.

Inicialmente, a reunião ordinária que visava aprovar as contas de 2017 seria realizada em 16 de abril, mas foi adiada para esta quarta-feira, dia 25. O prazo legal para a divulgação do balanço financeiro é o dia 30, segunda-feira, véspera do feriado de 1º de maio.

O ponto polêmico é a divergência dos números apresentados pela auditoria independente que anualmente faz o balanço oficial do Cruzeiro e os dados de uma segunda empresa, contratada pela atual gestão do clube a pedido do Conselho Deliberativo. A primeira aponta superávit das finanças em 2017, conforme revelou ao Superesportes o atual presidente, Wagner Pires de Sá. A segunda auditoria contesta os números positivos.

Se o superávit em 2017 for confirmado, o Cruzeiro quebraria uma série de déficits anuais. Em 2016, por exemplo, o prejuízo foi de R$ 29,3 milhões (veja outros números nas artes abaixo). É de conhecimento público que o clube passa por fase difícil nas finanças, haja vista que a gestão atual precisou fazer empréstimos para reforçar o elenco este ano.

A reportagem também apurou que a maioria absoluta dos conselheiros não recebeu o balanço financeiro oficial de 2017 para análise. Logo, os números serão conhecidos apenas na reunião desta quarta-feira, o que torna sua aprovação improvável, ainda mais diante das divergências que serão apresentadas por Zezé Perrella, presidente do Conselho.

Em áudio enviado a um grupo de conselheiros por meio do Whatsapp, Zezé Perrella avisa que a reunião desta quarta-feira será aberta por uma mera formalidade. Ele explica que é obrigado pelo estatuto do clube a fazer a convocação, mas descarta aprovar as contas de 2017 nesse encontro. “Meninos do grupo. É o seguinte: nós vamos fazer a reunião amanhã (esta quarta-feira) e pedir um novo prazo para que o balanço seja refeito. Tem muita coisa lá que não está batendo, entendeu? Então, eu peço a vocês para ir na reunião, vou fazer minha explanação, a auditoria foi feita, os auditores vão fazer uma explanação também da dívida real do clube, e vou pedir a suspensão da reunião para que dê mais um prazo para que eles façam o balanço de uma maneira mais clara, e que vocês recebam esse balanço 30 dias antes para a gente votar posteriormente. Porque amanhã (quarta, dia 25), é o prazo final pelo estatuto e nós temos que abrir a reunião pelo menos, viu? Depois explico melhor para vocês todos”.

Procurado para falar sobre as divergências no balanço financeiro de 2017, Zezé Perrella não atendeu às várias chamadas telefônicas feitas pela reportagem.

O artigo 46-A, da Lei Pelé, prevê punições para entidades esportivas que não publicarem o balanço financeiro do ano anterior até o último dia do mês de abril. Uma delas é o afastamento do presidente, no caso, Wagner Pires de Sá. O atual mandatário ainda fica sujeito a “inelegibilidade, por cinco anos, de seus dirigentes para cargos ou funções eletivas ou de livre nomeação em qualquer entidade ou empresa direta ou indiretamente vinculada às competições profissionais da respectiva modalidade desportiva”.

Beto Novaes/EM/D.A Press

Ao ser consultado sobre as divergências das duas auditorias, o presidente Wagner Pires de Sá admitiu que os números oficiais do clube revelam superávit em 2017. Ele só não quis adiantar o montante. “Sei que apresenta superávit, mas não quero falar. Recebi os números ontem (terça-feira) e seria uma descortesia minha falar publicamente antes de apresentar aos conselheiros. Agora, cabe ao Conselho, que é soberano, aprovar ou não. Contratamos uma outra auditoria independente a pedido do próprio Conselho, mas não tive acesso aos números exatos”, declarou.

Contrariando o discurso de Perrella no áudio enviado aos conselheiros, Wagner Pires de Sá assegurou que o balanço será publicado, mesmo sem aprovação. Tudo para evitar sanções. “Vamos ter que cumprir as exigências. Vamos divulgar o balanço sim, mas com ressalvas. O Perrella certamente publicará o balanço com notas explicativas. É a mesma coisa de você fazer uma declaração de Imposto de Renda e depois fazer as devidas correções. Se necessário, faremos correções”.

Por sua vez, uma fonte ouvida pela reportagem, com passagem pelo Conselho Fiscal do Cruzeiro, informou que a publicação do balanço perde sentido se o conteúdo não tiver sido aprovado em Assembleia pelo Conselho Deliberativo. 

O presidente Wagner Pires de Sá admitiu ainda que os conselheiros não tiveram acesso aos números no prazo legal, mas desconhece os motivos. “Não deve ter dado tempo. Não sei por que o Conselho não mandou para todos eles. Como disse, eu recebi ontem (terça)”.

Punições

De acordo com o advogado Gustavo Lopes Pires de Souza, especialista em direito desportivo, a hipótese de afastamento de um presidente é remota, embora esteja prevista na Lei Pelé. “Como não se trata de norma penal, penso que não é razoável usar exigência legal para prejudicar o clube, porque o que ele precisa é de tempo para esclarecer, tornar transparente a situação fiscal. Qual é o maior interesse público: ter um balanço no prazo, a qualquer preço, ou ter um balanço fidedigno e mais seguro, mostrando a real situação do clube? Caso o conselho decida por postergar o prazo de publicação em um tempo curto, é aceitável para manter a harmonia institucional, tendo em vista o fato da troca de comando no Cruzeiro no último ano”.

O processo de afastamento de um presidente, por conta do atraso na aprovação do balanço, seria mais longo. “O Ministério Público teria que instaurar um inquérito para investigação, ou pode dar inicio a uma ação civil pública. Em casos mais extremos, de destituição de dirigentes, em uma situação hipotética, nomeia-se um interventor, como ocorreu, por exemplo, na Federação Mineira de Futebol há uns anos atrás”, explicou Gustavo Lopes Pires de Souza.

Relembre o comparativo dos balanços de Cruzeiro e Atlético entre 2011 e 2016:


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